| Mobile Time Latinoamérica | Nos próximos meses, a Colômbia dará um passo fundamental rumo à digitalização das transações financeiras com a chegada do Bre-B, um sistema desenvolvido pelo Banco da República (o banco central da Colômbia) para aprimorar a interoperabilidade e a eficiência dos pagamentos digitais no país.
Bre-B
Apesar da existência de diversas plataformas de pagamento, como Nequi e Daviplata, o sistema financeiro colombiano ainda enfrenta desafios de integração entre as instituições, o que limita a experiência do usuário e restringe o acesso a soluções digitais mais ágeis. A expectativa é que essa nova plataforma entre em operação no segundo semestre de 2025.
Para compreender melhor a visão por trás do Bre-B, Mobile Time Latinoamérica conversou com um especialista do Banco da República sobre o impacto esperado na economia, como essa iniciativa pretende transformar o cenário dos pagamentos no país, promover a inclusão financeira e reduzir a dependência do dinheiro em espécie.
As respostas foram enviadas pelo Banco da República.
Mobile Time Latinoamérica: O que motivou o Banco da República a lançar o Bre-B e como esse sistema se diferencia dos métodos de pagamento já existentes na Colômbia?
Banco da República: A Colômbia já conta com plataformas que permitem transferências e pagamentos instantâneos, mas elas não são totalmente interoperáveis. Isso significa que não permitem o intercâmbio de dinheiro entre um grande número de instituições financeiras, como bancos, cooperativas e outras entidades, além de oferecerem experiências de uso muito variadas.
Tendo isso em vista, o Banco da República criou o Bre-B para aumentar a eficiência dos pagamentos e transações na economia colombiana e, assim, fomentar a inclusão financeira por meio da digitalização dos pagamentos.
Com o Bre-B, o Banco da República não apenas regula, mas também complementa tecnologicamente os sistemas existentes. O Bre-B funcionará como um novo ecossistema, conectando as diversas instituições financeiras e proporcionando uma interoperabilidade plena.
Isso permitirá que os clientes das entidades participantes — bancos, SEDPES, financeiras e cooperativas — realizem transações de forma instantânea, contínua e sem barreiras, independentemente de quem esteja enviando ou recebendo o pagamento.
Como o Bre-B garantirá a interoperabilidade entre as diferentes instituições financeiras do país?
Para assegurar a interoperabilidade, o Bre-B funcionará com dois componentes principais: um nó que valida as informações e outro que realiza a liquidação dos pagamentos em tempo real. Tudo isso será viabilizado por um fornecedor tecnológico com ampla experiência na implementação de sistemas de pagamento similares em outros países.
Além disso, o Bre-B foi desenvolvido em estreita colaboração com todos os atores do setor financeiro colombiano. Esse alinhamento não apenas garante um processo fluido, mas também permite que o sistema opere de maneira eficiente e sem grandes entraves.
Quais mudanças são esperadas no sistema financeiro colombiano após a implementação total do Bre-B?
O primeiro impacto esperado é um aumento no volume de pagamentos digitais. Graças à tecnologia do Bre-B, será possível realizar transferências entre diferentes instituições de forma instantânea e intuitiva, o que deve reduzir o uso do dinheiro em espécie e estimular uma maior formalização da economia.
Acreditamos também que o Bre-B fomentará a concorrência no setor financeiro, ampliando o acesso a produtos como crédito e seguros, especialmente para consumidores que antes não tinham essa possibilidade. Além disso, a maior digitalização permitirá melhor rastreabilidade e organização das finanças pessoais.
Como o Bre-B funcionará? Ele será integrado a carteiras digitais como Nequi e Daviplata?
O Bre-B criará um ecossistema que conectará todas as instituições financeiras, cooperativas, carteiras digitais e sistemas de pagamento instantâneo que operam na Colômbia. Isso significa que a maioria dos clientes que possuem contas ou depósitos poderão utilizar o Bre-B.
Para garantir facilidade de uso, o Bre-B estará disponível dentro das plataformas digitais das instituições financeiras, como aplicativos e sites. Ao realizar uma transação, o usuário acessará normalmente o canal de seu banco e encontrará um botão que o levará à chamada “Zona Bre-B”, onde poderá efetuar pagamentos, transferências e outras operações.
Para receber pagamentos, os usuários precisarão criar uma chave Bre-B, a partir de julho de 2025. Essa chave estará vinculada à conta ou ao depósito escolhido pelo usuário e poderá ser configurada diretamente na plataforma bancária habitual. A chave poderá ser um número de identificação (cédula), número de telefone, e-mail ou uma combinação alfanumérica.
Para realizar uma transferência, o usuário acessará a Zona Bre-B, informará a chave do destinatário e o valor a ser transferido. A operação será concluída em segundos.
Que medidas serão adotadas para educar os usuários sobre o uso das “chaves” como identificadores únicos para transferências?
O Banco da República estruturou uma campanha de divulgação do Bre-B, baseada em diversas frentes. Uma delas consiste na produção e distribuição de materiais educativos para as instituições participantes, explicando o funcionamento do Bre-B e seus benefícios para cidadãos, empresas e o setor financeiro.
Além disso, serão realizadas campanhas publicitárias de grande alcance nos meios de comunicação, garantindo que toda a população conheça e utilize o Bre-B.
No Brasil, o Pix foi uma iniciativa do Banco Central. Quais são as semelhanças com o Bre-B? Há planos de integração entre os dois sistemas?
O Bre-B compartilha com o Pix o objetivo de incentivar e facilitar transações digitais. Ambos são ferramentas tecnológicas desenvolvidas pelos bancos centrais para garantir a interoperabilidade entre instituições financeiras e oferecer aos usuários uma experiência de pagamento simples, instantânea e segura.
No entanto, o Bre-B foi projetado para integrar os sistemas de pagamento instantâneo já existentes na Colômbia, diferentemente do Pix, que foi criado do zero. Esse modelo reconhece os avanços que o setor privado já realizou no país e segue o princípio de “construir sobre o que já existe”.
Sobre uma possível integração com sistemas similares de outros países, essa possibilidade será analisada futuramente, dentro do plano de expansão do Bre-B, que inclui o estudo de pagamentos instantâneos transfronteiriços.
Quais vantagens específicas o Bre-B oferecerá em relação aos sistemas de pagamento atuais?
A principal vantagem do Bre-B será a sua capacidade de unificar os diversos sistemas de pagamento instantâneo já existentes, garantindo total interoperabilidade entre eles. Ou seja, permitirá uma comunicação fluida e imediata entre qualquer instituição financeira.
Além disso, a experiência do usuário será simplificada: bastará informar a chave do destinatário e o valor a ser transferido.
Outro diferencial é que o sistema de execução de operações do Bre-B reduz o risco de crédito, pois todas as transferências são liquidadas em tempo real.
Como o Banco da República pretende reduzir o uso de dinheiro em espécie na Colômbia, que ainda representa mais de 70% das transações?
Ao permitir transações rápidas, intuitivas e seguras entre instituições financeiras, o Bre-B tem o potencial de reduzir significativamente o uso do dinheiro em espécie. Se pagar ou transferir dinheiro for fácil, rápido e exigir poucos passos, as pessoas naturalmente adotarão o sistema.
Experiências como o Pix, no Brasil, e o UPI, na Índia, demonstraram que a digitalização dos pagamentos pode transformar a economia. Esperamos uma tendência semelhante na Colômbia, graças ao design inovador do Bre-B e à colaboração entre o setor financeiro e o Banco Central.
Como será medido o impacto e o sucesso do Bre-B após seu lançamento em 2025?
Atualmente, estamos desenvolvendo os indicadores que serão utilizados para medir o impacto do Bre-B no setor de pagamentos. Esses indicadores complementarão os dados já coletados pela Superintendência Financeira da Colômbia.