A Grão Direto (AndroidiOS) tem a ambição de se tornar “o mainstream digital no agronegócio”, afirma o CTO da startup, Fred Marques. Em conversa com Mobile Time logo após levantar R$ 90 milhões em uma rodada de série B, o empreendedor explica os próximos passos da empresa, que investe em sua inteligência artificial, no aumento da equipe e na construção de um ecossistema de oferta de crédito ao produtor rural.

Uma dessas frentes que deve ser acelerada pela AgFin (mistura de agritech com fintech) é o assistente AIrton. Solução em testes com uma centena de produtores rurais, o agente virtual com IA traz informações sobre o mercado de grãos, o histórico do usuário e análises avançadas por meio de sub-agentes em conversa direta no WhatsApp.

A solução tem uma linguagem ajustada de “mineirês” para falar o idioma do campo: “O que estamos falando é de um amigo que sabe tudo do mercado e ainda gera atalhos para o usuário fechar negócios”, conta o executivo, ao afirmar que a solução está plugada diretamente na Meta e tem em média 20 mensagens por dia entre cada produtor e o assistente.

O CTO enxerga outras “duas avenidas” para o AIrton: uma vertical de processos internos que podem ser auxiliados por IA para analisar o mercado – como ao fazer curadoria de notícia para colocar em seu site, entender volume de negócios, criar um motor de notificações para saber o momento certo de envio de push e colaborar com produtos que existem atualmente, como fazer resumo de gráfico, detectar preço esquisito e avisar a empresa sobre ele. A outra aposta para a IA é em resumo de planilhas técnicas, como análise de qualidade do algodão.

Destrinchando a Grão Direto

Criada em 2018, a Grão Direto nasceu de uma ideia de três amigos de Uberaba/MT que estudaram em universidade fora do estado, voltaram para a cidade e montaram o negócio com um time de 15 pessoas, após receberem um seed de R$ 2,1 milhões. O papel da empresa é transformar a negociação do mercado físico de grãos no Brasil e eventualmente em outros países.

“Temos o marketplace de grãos, todo mundo que está na cadeia pode utilizar a Grão Direto. O mais importante é o cálculo do preço em tempo real. No modo tradicional, o comprador dita o preço, que é baseado no preço do contrato futuro da Bolsa de Chicago, converte dólar em real, coloca na ‘ponta do lápis’ o imposto, a logística e dá o preço. O diferencial nosso é que trouxemos essa inteligência de dentro do sistema para várias empresas do setor”, detalha o seu principal produto que tem mais de 40 milhões de preços todos os dias.

Outros produtos da startup são:

  • O barter digital, um serviço para negociadores de grãos em tempo real que dá ao produtor quantas safras precisa ter de meta para obter um determinado insumo ou valor;
  • O backoffice, para ajudar grandes empresas a lidarem com a documentação digital;
  • A inteligência de mercado, com uma amostragem de dados a partir das negociações do marketplace de grãos que teve 8 milhões de toneladas comercializadas, o equivalente a 3% a 4% do mercado nacional;
  • Os produtos financeiros, como o cartão de crédito Mastercard com limite, em que o produtor só paga a fatura quando recebe o grão, e vê o preço de um produto na linguagem de sacas de soja ou milho.

Dessas ferramentas, o barter e os produtos financeiros são os mais recentes e estão em fase de crescimento.

Com esse arcabouço, a companhia quer atender todo o ecossistema de grãos, o que inclui empresas intermediárias, cooperativas, cerealistas, armazéns, distribuidores de insumo, enfim, empresas que compram e vendem para traders. Seu modelo de negócios é baseado em três frentes:

  • Customização e implantação de projetos, como backoffice e integração com ERP e CRM;
  • Taxa de sucesso nos negócios do marketplace – ganham um percentual por volume negociado;
  • E taxa de sucesso com o Barter.

Finanças

Com 85 mil usuários ativos no último trimestre de 2024 e 300 mil downloads históricos, os produtos financeiros são, ao lado da IA, o principal investimento da Grão Direto. Metade da rodada será usada para financiar acesso ao crédito no agro, o que terá um misto de capital próprio e de terceiros, como FIDC e/ou outros mecanismos (a depender de conversa com o board).

“Existe uma coisa clara no setor hoje: falta financiamento para o produtor. Tem muita gente com dinheiro, mas há riscos no agro. Ter financiamento certo é uma tarefa complicada. O governo não consegue financiar todo mundo”, diz Marques.

A ideia da AgFin é que a transação de grãos habilita vários outros produtos e serviços. Em serviços financeiros, a plataforma traz uma capacidade de análise de crédito com mais informação, a partir do histórico do produtor. O CTO conta que podem embutir a oferta de crédito para o produtor nas jornadas comerciais, como a antecipação de um contrato daqui a um ano.

Atualmente, a Grão Direto tem aproximadamente 1 mil cartões, mas esta frente não foi mais acelerada porque a startup esperava terminar a rodada da série B.

Smart Money

Grão Direto

Sócios da Grão Direto, CTO Fred Marques é o primeiro da esquerda para direita (divulgação)

A rodada atual da companhia focou principalmente em trazer smart money, ou seja, um capital que abre portas para a Grão Direto. Isso porque entram como sócios minoritários fundos ligados ao Bradesco, Bolsa de Chicago, Endeavor e a Kaszek, que tem histórico de aportar em unicórnios latino-americanos, como o Nubank. Marques reforçou que o capital não era para sobrevivência e não era necessário, mas colabora para mostrar o potencial de mercado da empresa, em especial quando o agronegócio e o mercado de venture capital latino-americano não estão em um bom momento.

“VC caiu, layoffs em tecnologia, o cenário não é mais um mar de rosas, como foi na década passada. Os investidores olham para os números e o agro está sempre em um momento ruim. Recuperações judiciais, demissões, prejuízos de grandes empresas”, disse. “Mas mostramos que players diferentes do mercado veem a gente com diferentes olhos. Mercado financeiro, grandes produtores e as trades olham para a gente”, destrincha.

Apesar da rodada com tantos nomes importantes, o CTO afirma que não há acordos para construir produtos de forma conjunta, mas existe boa vontade. Porém, o executivo reforça que a construção de novos produtos ou parcerias só ocorrerá se for entendido que a Grão Direto é uma plataforma aberta, independente e neutra.

Futuro

A Grão Direto não vai partir para internacionalização pelos próximos dois anos, apesar de estar rodando com algumas empresas no Paraguai, explica. Os executivos querem aproveitar esse período para estudar o avanço para países latino-americanos que sejam semelhantes ao mercado brasileiro. Caso aconteça, o avanço será feito com um “cliente-âncora”. Os Estados Unidos também estão no radar, mas apenas com a ferramenta de inteligência de mercado.

Negociando os principais grãos do mercado brasileiro, como soja, sorgo e milho, a startup mira trazer para o seu ecossistema café, algodão e farelo de soja.

Atualmente com 150 funcionários, a empresa prevê terminar o ano com 200 e pretende criar um braço financeiro em São Paulo, atendimento ao agronegócio no Sul e Centro-Oeste e técnicos que podem ser de qualquer localidade.

 

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