O ICB (Instituto Conhecer Brasil) promoveu a instalação de 2,8 mil pontos de Wi-Fi livre em comunidades e favelas do município de São Paulo desde agosto do ano passado, após seleção em chamamento público da Secretaria de Inovação e Tecnologia local para ampliar o projeto da Prefeitura. O número representa pouco mais da metade da meta total, de 5 mil pontos em um ano, e a organização destaca que o feito só foi possível com o apoio de pequenos provedores e dos moradores locais.
Segundo dados da Prefeitura, antes do edital de ampliação, o programa – Wi-Fi Livre SP – contava com 1.015 pontos de acesso, incluindo locais como praças, bibliotecas públicas, pontos de ônibus, postos de saúde e pontos turísticos. A ampliação que demandou a seleção de uma organização social como o ICB partiu de um objetivo mais complexo, de adentrar a conexão nas comunidades, mapeando pontos de aglomeração e demandas por serviços digitais que estavam fora do radar.
“Nossa equipe teve que fazer um mapeamento achando os pontos de maior vulnerabilidade. Por exemplo, as entradas e saídas de favelas, vielas onde apps como iFood e o Uber não chegam”, conta Karina da Gama, presidente do ICB.
Tal mapeamento precisou do apoio de lideranças comunitárias, e a saída para os obstáculos de instalação foi fixar antenas na área externa de residências de moradores parceiros.
“A gente coloca porque os postes são da distribuidora de energia, e o custo de locação do poste inviabilizaria o programa social”, acrescenta.
Os moradores parceiros são apelidados de “guardiões” do equipamento. “Ele [morador] cuida como se fosse dele. Com isso, tivemos um índice de vandalismo quase inexistente”, afirmou. Houve quatro casos de furto e, em todos eles, o equipamento foi recuperado, segundo Gama, graças ao engajamento da comunidade.
Wi-Fi Livre com provedores regionais

Crédito: Divulgação/Activa Comunicação
A prestação do serviço de conectividade conta com 72 contratos, sem incluir grandes operadoras de telecomunicações, todos envolvendo pequenos provedores de serviços de internet (ISPs). De acordo com Gama, a seleção observou a empresa que atuava na região mapeada, o que, para a instituição, impactou no empreendedorismo regional.
“Tivemos provedores de internet que tiveram que fazer um empréstimo no banco para poder comprar os equipamentos que precisavam, porque fizemos um pedido grande. Então, esse empreendedor tanto teve que buscar um recurso para esse contrato, como também teve que capacitar pessoas e começou a fazer contratação dentro da comunidade para ampliar o projeto”, conta a presidente do ICB.
O raio de conectividade gerado pelos equipamentos de Wi-Fi passou a alcançar locais de moradia irregular. “Algumas pessoas não conseguiam contratar [o serviço], porque a casa não tem rua, não tem número”, exemplifica.
Para além de ruas residenciais, o Wi-Fi livre atendeu pontos de comércio de rua, como feiras, e locais próximos a quadras desportivas. Por ponto, a velocidade é de 600 Mbps e o custo é de R$ 150, mensalmente.
Enquanto segue no projeto de ampliar o número de pontos de instalação, a instituição estuda a implementação de uma intranet, rede de acesso privado, que seria usada como uma espécie de “classificados” para a população fazer comunicações de utilidade pública ou oferecer serviços.
Atendendo população com dispositivos simples e pacote de dados limitados, a visão do ICB é de que o projeto de Wi-Fi livre deve ser continuado. Questionada sobre o eventual fim do projeto após o vencimento do prazo do edital, Gama responde com uma aposta: “a população não vai deixar”.
Imagem principal: Instalação de ponto de Wi-Fi Livre | Crédito: Divulgação/Activa Comunicação