O diretor de cash managment e open banking do Itaú Unibanco, Marcos Cavagnoli, acredita que o open banking é apenas o começo da jornada dos bancos na inclusão da vida dos consumidores. Durante o evento online Ciab Febraban, que aconteceu nesta quinta-feira, 24, o executivo disse que acredita que os bancos são a primeira camada de entrega de dados abertos ao cliente, mas depois virá o sistema financeiro e, em seguida, o “tudo aberto”.
“Se fizermos o open banking e open finance com privacidade, bem-feito, em até cinco anos teremos uma população extremamente bem-educada. Isso trará consequência não apenas em finanças, mas em outros tipos de compartilhamento de dados que acabarão vindo. Ou seja, o open finance evolui para o open x (open to everything ou sistema aberto a tudo, na tradução livre para o português)”, explicou Cavagnoli.
Assim como afirmou em conversa recente com Mobile Time, Cavagnoli explicou que acredita que a chave nos sistemas abertos são educação para o consumidor e segurança dentro das empresas. Deu como exemplo garantir a segurança de forma holística em todos os end-points, isso configura do ecossistema de pagamento, até aquilo que está no cotidiano do correntista, como os wearables.
A segurança também é vista como chave por Carolina Fera, diretora do Bradesco Experience. A executiva explica que pelos dados estão no controle do cliente, haverá um aumento exponencial no tráfego de dados que, por sua vez, demandará mais robustez na segurança: “O grau de segurança é muito alto, pois falamos de um sistema com vários participantes. Mas a agenda de comunicação do cliente precisa ser transparente. Ele (consumidor) precisa ter clareza do que será feito com os dados dele”, disse.
“Com todo o espectro de soluções, o cliente vai interagir diferente. A dinâmica é bem mais acelerada. E o cliente pode conectar em qualquer lugar”, completou Fera.
Serviços e produtos
João Pereira, chefe de departamento do Banco Central brasileiro, acredita que o open banking é o começo da “plena digitalização” no sistema financeiro. Prevê ainda a “interoperabilidade digital”, algo que hoje é difícil no sistema financeiro atual, mais blindado e fechado.
“Quando organizamos isso de forma segura, nós conseguimos chegar em um novo patamar. Isso abre muitas oportunidades. Para o cliente, por exemplo, permite acessos e melhor comparação. E dá oportunidades grandes para os bancos com novos modelos de negócios”, afirmou Pereira. “Existe uma oportunidade operacional. As instituições ficarão mais ágeis, poderão atender novos nichos e outros clientes que não estavam no radar”, completou.
De acordo com o diretor da Financial Data & Technology Association para América Latina e sócio da Spiralem Innovation Consulting, Bruno Diniz, o open banking e o open finance são similares à evolução da Internet. Trará facilidades para o consumidor e novos modelos de negócios aos bancos. Por outro lado, ele acredita que o movimento aberto trará mudanças estruturais nas instituições financeiras.
“O grande ponto do open banking é que ele deixa mais fácil, seja para trocar de instituição ou para o consumidor fazer onboarding em uma nova”, afirmou Diniz. “Para o lado dos bancos, isso coloca em xeque a ideia do controle de tudo verticalizado. Passa a ser mais um modelo de plataforma. Agora é possível distribuir produtos e serviços em diferentes canais com vários parceiros. Os efeitos serão notórios, inclusive na parte de inclusão financeira”, concluiu.
Personalização
Sobre como entregar isso ao cliente, Thiago Affonso, diretor de negócios digitais do Banco do Brasil, acredita que a ideia é criar bancos customizados para a demanda de cada correntista. Para isso, o executivo crê que a robustez na análise e arcabouço de dados, atrelados a uma camada de inteligência artificial (IA) e parcerias via APIs, serão vitais nesta criação.
“Quando se diz que o ‘dado é novo petróleo’, na verdade, ele é a nova energia renovável. É uma evolução constante. Nós buscamos ter um banco personalizado para cada cliente. Quando a juntamos tecnologia, APIs, IA, modelos analíticos, uso de dados, isso gera a personalização para o cliente. Essa é a vantagem do modelo aberto”, relatou Affonso. “O uso de inteligência artificial nos bancos começa com bots, mas tem potencial de chegar a outros serviços, como organização e consulta financeira personalizada. São muitos dados, os bancos precisam trabalhar com esses dados. Estamos começando a fazer isso, com data lakes”, afirmou.
“Estamos só no começo de uma jornada de transformação (digital). Dito isso, estamos na fase da consolidação dos dados, incorporados na contração de jornada e produtos do cliente”, disse Cavagnoli. “Depois do open finance, não terá mais como fazer produtos e ver como ele encaixa. Ele terá que fazer da jornada do cliente”, completou.