O sucesso do Pix atraiu fraudadores e fez surgirem diversos golpes que logo viraram tema de matérias jornalísticas. Contudo, o sistema de pagamentos instantâneos é seguro e a taxa de fraudes nele é baixa quando comparada com aquela de outros meios de pagamento, apontou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante palestra no evento Blockchain.Rio, nesta quarta-feira, 24, no Rio de Janeiro.

Em vez de olhar números absolutos de fraudes, Campos Neto recomenda que a análise seja feita com base na proporção de golpes sobre o total de operações realizadas. O Pix atualmente registra sete ocorrências de fraude a cada 100 mil operações. No cartão de crédito, são 30 a cada 100 mil, ou seja, uma proporção mais de quatro vezes maior. Por sua vez, o sistema de pagamentos instantâneos do Reino Unido, chamado Faster Payments, tem uma taxa de 100 fraudes a cada 100 mil operações.

“Um estudo do Banco Mundial mostra que o Brasil tem uma taxa de fraude abaixo da média”, destacou.

Os números absolutos de fraude no Pix parecem altos porque o serviço é extremamente popular. Hoje, são feitas 224,2 milhões de pagamentos instantâneos no Brasil por dia. Há 151,2 milhões de pessoas e 14,6 milhões de empresas cadastradas na plataforma, somando 765 milhões de chaves. O volume de operações cresceu 60% em 12 meses, passando de 3,3 bilhões em junho de 2023 para 5,3 bilhões em junho de 2024.

Pix internacional: tributação e regras contra lavagem de dinheiro precisam ser padronizados

Bancos centrais do mundo inteiro estudam a possibilidade de oferecer pagamentos instantâneos internacionais, ou seja, transferências instantâneas de valores entre países. Para isso, além de uma padronização técnica da interoperabilidade dos sistemas, é necessário homogeneizar regras de combate à lavagem de dinheiro e ao financiamento de terrorismo, disse Campos Neto.

“Cada país tem as suas regras para combater lavagem de dinheiro e financiamento de terrorismo. Para termos pagamento instantâneo internacional, essas regras precisam ser homogêneas”, comentou o presidente da autarquia.

A tributação também precisaria ser homogeneizada, lembrou.

Marketplaces, IA e monetização de dados virão no futuro

Campos Neto prevê que no futuro surgirão “superapps financeiros” que vão operar como marketplaces de bancos e diversos produtos financeiros digitais. Eles estarão conectados via APIs com várias instituições financeiras e seus catálogos de produtos. Dentro desses superapps, o usuário poderá ver seus saldos e todos os seus investimentos e empréstimos contratados, e adquirir novos, de bancos e financeiras variadas, comparando as condições e custos de cada opção.

Esses marketplaces financeiros do futuro só serão possíveis graças à integração de iniciativas como Open Finance, Pix e Drex. Os atuais agregadores financeiros criados por alguns bancos são os precursores disso.

A inteligência artificial também desempenhará um papel fundamental nesse futuro. “Com programabilidade e conexão com marketplaces, a utilização de IA poderá transformar o superapp num consultor financeiro do futuro”, escreveu o presidente do BC em um slide em sua apresentação.

Outra tendência futura prevista por Campos Neto é a possibilidade de o consumidor monetizar com seus dados pessoais. “Com marketplace e conexão entre plataforma e carteira digital, as pessoas serão capazes de acumular todos os seus dados e monetizá-los”, informou no mesmo slide.