| Publicada no Teletime | Enquanto a decisão da Anatel sobre a faixa de 450 MHz no Brasil não sai, outros setores esperam uma possível realização de novo leilão para a faixa, agora com uma perspectiva de uso para redes privadas. As grandes operadoras – Claro, Oi, TIM e Vivo – não abrem mão do espectro, embora a implantação de redes tenha sido modesta desde sua obtenção junto com a faixa de 2,5 GHz, em 2012. A questão é que há oportunidades para o setor de utilities, como tem sido o caso na Europa, com iniciativas motivadas pela diretriz da Comissão Europeia de gestão de espectro para ajudar a melhorar eficiência do consumo de recursos naturais.
Por isso, o executive chairman da 450 MHz Alliance, Gösta Kallner, acredita que a faixa deveria ser devolvida e leiloada novamente. “Sabemos, por experiência, que serviços públicos, agricultura e transportes estariam bem interessadas em utilizar a faixa de 450 MHz”, disse ele em entrevista ao Teletime. Conforme explica, a operadora precisaria considerar que o caso de uso na faixa de 450 MHz não é o mesmo de um serviço de banda larga móvel comum, uma vez que o retorno sobre investimento é diferente, demandando um novo modelo de negócios.
Assim, ele acredita que o Brasil deve seguir em frente e estabelecer novas prioridades com a frequência, em vez de se ater ao que foi decidido há quase uma década, e ainda não saiu do papel na prática. No começo, as empresas procuraram aplicações da banda larga fixa-móvel (FWA), mas a baixa capacidade e falta de equipamentos frustrou os projetos.
“Havia grande avaliação, especialmente da Vivo e Oi, enquanto a TIM tem sido a força do ponto de vista regulatório”, declara. “Mas o que eu vejo entre os diferentes operadores não tem sido ótimo. A América Móvil [Claro] foi a única que colocou um projeto de longo prazo. Não foi a primeira, mas é a que tem feito. Mas não temos visto. Não se encaixa nos negócios deles [das teles], o que é compreensível, mas é triste por não utilizar os recursos.”
Haveria um interesse também da radiodifusão, promovendo um sistema de interação. “Globo e outros estavam muito interessados nisso, que poderia ser uma proposição para o usuário rural”, conta. “Há muitos casos de negócios, mas utilities e segurança pública são os mais proeminentes.”
Releiloar
“Do ponto de vista regulatório pode ser difícil por causa das restrições inerentes, mas acho que é sempre melhor chegar a um acordo e usar o recurso do que trancá-lo. Se puder releiloar, poderia ter valor a mais.” A solução seria um ganha-ganha, conforme argumenta Gösta Kallner, porque haveria uso mais eficiente de energia (e do espectro), com preço das tarifas potencialmente caindo e aumentando as margens das utilities.
Em outros países, diz, há leilões com preços mínimos irrisórios para o espectro, contanto que ele seja utilizado de forma eficiente. “Especialmente na Europa temos visto várias utilities fazendo isso com benefício para o governo e para os cidadãos”.
Anatel
A decisão sobre o cumprimento de obrigações de cobertura rural (atreladas à faixa de 450 MHz) alternativamente com satélite ainda está no conselho diretor da Anatel, no gabinete do conselheiro Vicente Aquino. A matéria era prevista para ser apreciada na última reunião, mas Aquino pediu prorrogação para ganhar tempo para conclusão de uma das três diligências solicitadas. Apesar de ter aceitado, o presidente Leonardo Euler deu o ultimato para que a votação ocorra definitivamente na próxima ocasião.
Para Kallner, o correto seria que as empresas cedessem o espectro “para quem quer utilizar”, trazendo retorno para a sociedade e economia. “Se há requerimentos que operadoras precisam cumprir e acham que podem fazer com satélite, isso é com eles. Mas se eles acreditam que é melhor, definitivamente deveriam devolver o 450 MHz”, avalia.
O executivo da 450 MHz Alliance avalia que utilizar o satélite para resolver esse gargalo de conectividade não vai sair barato. “Se você acha que usar 450 MHz é extremo, o satélite é ainda mais difícil de achar modelo de negócios e uso”, opina. “É mais fácil estender a rede de 700 MHz para esses requerimentos.”
Ecossistema
O diretor da entidade alega que não há mais o problema alegado de falta de ecossistema, sobretudo se a faixa for utilizada para Internet das Coisas, e não banda larga móvel. Para utilities, o ecossistema já cresceu bastante, com fornecedores de rede e sistemas, além de dispositivos com soluções industriais, como aparelhos resistentes para o chão de fábrica, rádios comunicadores e conectividade de sensores.
Kallner considera que as soluções já estão maduras para esse nicho. “Temos mais dispositivos e fornecedores do que provavelmente temos operadoras comercialmente colocando isso no mercado de massa. O ecossistema é bom o suficiente para ao menos dobrar o crescimento.”