A apresentação da Ericsson, que iniciou o primeiro dia do Mobile World Conference em Barcelona nesta segunda-feira, 25, não mencionou o nome da Huawei, mas o embate entre a concorrente chinesa e o governo dos Estados Unidos se fez sentir de forma clara. O CEO da fornecedora sueca, Börje Ekholm, endereçou a estratégia da empresa, incluindo a aquisição de uma companhia de antenas e um novo produto para compartilhamento de espectro entre 4G e 5G. Mas tocou na questão de segurança. “Há um debate sobre segurança de gente. A gente protege e garante a integridade e segurança de rede. Mas no final das contas, é uma decisão crítica para os países. Não temos nada a dizer sobre como isso deveria ser abordado, cabe aos países – reguladores e tomadores de decisão – decidirem como lidar com a segurança nacional.”
Ekholm criticou ainda um aspecto que a Huawei tem procurado endereçar com centros especializados, especialmente para apaziguar governos: os testes de falha e de segurança. “Realizar testes pós-desenvolvimento [dos produtos] não é uma ferramenta boa para garantir a proteção, porque eles só vão conseguir avaliar os limites naquelas redes”, alfineta. “Acreditamos que isso aumenta os riscos e cria um falso sentimento de segurança, além de deixar os processos de inovação e implantação mais lentos e custosos”, completa.
O CEO da Ericsson entende que, independente das acusações, o fato é que essas questões afetam o mercado em geral. “Os clientes estão preocupados, eles investem muito em rede. É claro que a incerteza impacta eles”, afirmou. Na visão do executivo, há sim um risco maior em investir em 5G no momento por conta dessas incertezas. Neste contexto, segurança e confiança são ainda mais importantes. “Com 5G, segurança não é anexo, mas intrínseco na padronização. Ainda assim, o padrão não será suficiente para garantir a segurança, isso terá que vir dos status dos produtos e da configuração de redes”, diz.
Progresso
Paralelo a isso, a Ericsson naturalmente focou no desempenho em 5G. A companhia já assinou acordo com dez provedores de serviço, estabeleceu 42 memorandos de entendimento (MOU) e está em conversas com “um sem número de parceiros”. Além disso, está implantando redes de quinta geração nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Austrália. Para tanto, a fornecedora sueca contratou 14 mil engenheiros de pesquisa e desenvolvimento e manterá o nível de Capex entre 35 a 38 bilhões de coroas suecas (entre US$ 3,75 bilhões e US$ 4,08 bilhões). “Nosso foco agora é no crescimento com lucratividade”, reiterou Börje Ekholm.
A Ericsson também anunciou nesta segunda-feira a aquisição da companhia alemã de antena e filtros, a Kathrein. A empresa já fornecia equipamentos e tecnologias, e agora será incorporada para expandir o portfólio da sueca de novos produtos Radio System. “Isso vai fortalecer nossa capacidade, tanto com antenas ativas quanto passivas”, explicou o executivo.
Geopolítica
Na visão do CEO, os Estados Unidos já estão em uma clara liderança em 5G, enquanto a Ásia (especialmente a China) e a América Latina mostram oportunidades de crescimento rápido devido à alta demanda por tráfego. Por outro lado, a Europa está às voltas com muitos entraves regulatórios, o que compromete os investimentos na nova tecnologia. “É uma decisão que a Europa tem de tomar para alocar espectro mais rápido, talvez sem cobrar tão caro nos leilões, focando mais em mostrar os benefícios para a economia e o desenvolvimento. Mas o mais importante é nas licenças de construção e instalação de sites, isso inibe muito a infraestrutura”, conclui.