Anunciada na semana passada, a aquisição da Nextel pela Claro por US$ 905 milhões tinha como um dos principais objetivos, talvez o mais importante, os ativos de frequência da operadora da NII Holdings, especialmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Combinados, as bandas acima de 1 GHz foram adquiridas pela Nextel entre 2010 e 2015 em leilões da Anatel por um total de R$ 1,9 bilhão. Ao juntar o próprio portfólio com a capacidade nas bandas de 1.800 MHz e 2.100 MHz, o grupo América Móvil passa a liderar em capacidade espectral nos maiores mercados, enquanto ainda se mantém abaixo do limite de espectro (spectrum cap). Assim, a empresa ganha flexibilidade para expandir a rede LTE, incluindo a LTE-Advanced Pro (lançada em 2017 e chamada comercialmente de 4,5G), o que torna uma nova aquisição de um lote grande de frequências no futuro leilão 5G “menos crítica”, segundo levantamento da consultoria Teleco.

Em São Paulo, por exemplo, a combinação da Claro (com 80 MHz) e Nextel (com 50 MHz) resultará em uma capacidade total de 130 MHz, ainda confortavelmente abaixo do teto de 172,5 MHz estabelecido pelo novo regulamento da Anatel. As maiores concorrentes, Vivo e TIM, continuarão com 90 MHz cada, enquanto a Oi ficará com 80 MHz. Em Minas Gerais, embora se beneficie com menos capacidade da Nextel (20 MHz), a Claro já conta com mais capacidade (110 MHz), permitindo à empresa acumular 150 MHz. Por outro lado, a empresa ficará em pé de igualdade com a Vivo no Nordeste, somando iguais 120 MHz. Confira na tabela abaixo.

Teleco Acima 1GHz

Nas bandas abaixo de 1 GHz, a Claro passará do limite de 71,4 MHz em São Paulo ao atingir 79 MHz; e na região Norte, com 74 MHz. Mas a empresa passará também a conseguir brigar com mais igualdade com a Vivo (com 64 MHz) e a TIM (50 MHz) em Minas Gerais, saindo de apenas 25 MHz de capacidade atual para 40 MHz. A mesma ampliação acontecerá no Paraná e Santa Catarina, onde a situação da Vivo (com 50 MHz) e TIM (64 MHz) se inverte.

Teleco Abaixo 1GHz

Entretanto, a faixa de 800 MHz era utilizada apenas para iDEN, tinha característica fracionada, e a Nextel ainda não chegou a usá-la comercialmente para LTE. Também se deve levar em consideração que o spectrum cap da Anatel permite um limite estendido em até 40%, mediante condicionamentos da agência de ordem concorrencial. “A frequência pode ficar com a Claro, ou ela pode devolver um pedaço”, pondera o presidente da Teleco, Eduardo Tude. “O mais provável é a Anatel autorizar o aumento do acúmulo de espectro.” Em relação à faixa de 800 MHz, ele acredita que a Claro pode não usá-la em LTE, mas que a banda pode ser útil com a chegada do 5G.

Preparação para leilão 5G

Não que a empresa esteja ansiosa pela chegada da quinta geração. “Claro e Vivo não têm pressa para um leilão, e a perspectiva de o 5G chegar ao Brasil é só no final de 2021 ou 2022, quando o preço dos smartphones estiver mais acessível”, analisa Tude. Até lá, com mais frequência em seu portfólio, a Claro consegue entregar maior capacidade ao usuário. “Isso dá mais segurança para a Claro, porque, se não tiver quatro lotes [de 50 MHz cada, ou outra configuração] com a banda de 3,5 GHz, pode gerar uma disputa muito acirrada e o preço do espectro subir muito”, conjectura.

Segundo Tude, a inclusão de mais faixas – incluindo ondas milimétricas – na proposta da nova agenda regulatória da agência para o biênio 2019/2020 não teria impacto na estratégia da Claro com a compra da Nextel, uma vez que essa possibilidade já era ventilada. Mas os investimentos para um novo leilão continuam a levar o receio de que o certame tenha viés arrecadatório. “Mesmo a Anatel e o Ministério (da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) dizendo que o leilão não vai ser arrecadatório, a gente sabe que com o leilão de 700 MHz foi assim, mesmo com todos dizendo que não seria.”

Concorrência

Se por um lado a Claro e Vivo não têm pressa, o leilão terá importância fundamental sobretudo para a TIM e a Oi para que elas se mantenham competitivas no serviço móvel. Tude explica que as duas teles têm capacidade em bandas acima de 1 GHz, mas o problema é nas faixas abaixo, o que obriga as empresas a se virarem com refarming e adoção de novas tecnologias. “Por isso que a TIM foi a primeira a fazer VoLTE (voz sobre LTE), porque tinha que diminuir o espectro de 3G, e não podia jogar a voz para 3G.”

Na visão do executivo da Teleco, tanto a Oi quanto a TIM precisam continuar a investir no serviço móvel, o que na verdade as próprias empresas já confirmaram que farão em seus planejamentos estratégicos. “A TIM tem que investir, o caminho da banda larga fixa é a partir do serviço móvel”, declara. “O negócio principal dela é a móvel, e ela tem que estar em condições de competir em velocidade no mesmo nível da Claro e da Vivo. Já a Oi tem que investir nas duas coisas, na fixa e em 4G, inclusive porque ficou esses anos todos [durante período da recuperação judicial] com investimentos abaixo do mercado.”

 

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