|Mobile Time Latinoamérica| Com a chegada do Bre-B, o Pix da Colômbia, o Banco de la República (equivalente ao Banco Central da Colômbia) selecionou a ACI Worldwide como sua fornecedora tecnológica para implementar a infraestrutura central dos pagamentos instantâneos no país.
Essa iniciativa, que busca melhorar a interoperabilidade e a eficiência do sistema financeiro, já está em andamento e tem início de operações previsto para julho, com a implementação do diretório centralizado de chaves, seguido pela fase de liquidez em outubro. Trata-se de um projeto que atende a um mandato estabelecido no Plano Nacional de Desenvolvimento do governo colombiano, o qual exige a implementação de um esquema que permita a mais cidadãos e comércios o acesso a ferramentas de pagamento eficientes e equitativas.
Mobile Time Latinoamérica conversou com Álvaro Cuestas, diretor para a América do Sul da ACI Worldwide, fornecedor tecnológico chave na implementação do novo esquema de pagamentos imediatos, um projeto que busca integrar os sistemas existentes sem desarticulá-los. “O banco tomou uma decisão justa com o mercado: construir sobre o que já existe, em vez de começar do zero”, afirma.
A ACI Worldwide é uma empresa com 50 anos de trajetória no mercado e mais de 20 anos de presença na Colômbia. Sua atuação em pagamentos imediatos cresceu exponencialmente nos últimos seis anos, consolidando-se em cerca de 60 meios de pagamento ao redor do mundo.
Interoperabilidade e conectividade
Diferentemente de modelos como o do Pix no Brasil, onde todos os participantes se conectam diretamente a uma única plataforma, a Colômbia optou por uma estratégia que aproveita as estruturas já existentes. O esquema permite que as sociedades de pagamento de baixo valor atuem como intermediárias para conectar os bancos e outras entidades financeiras ao sistema de pagamentos imediatos.
Cada entidade deverá escolher por meio de qual câmara irá operar e atender aos requisitos técnicos e de segurança. “O modelo permite que até fintechs e cooperativas participem de forma indireta, ampliando a inclusão financeira no país”, acrescenta. Isso garantirá a integração com plataformas já em operação, como Redeban e Credibanco, evitando uma ruptura abrupta no ecossistema financeiro.
Infraestrutura tecnológica para o Bre-B
Segundo explica Cuestas, a solução tecnológica que a ACI Worldwide fornecerá ao Banco de la República é composta por três elementos principais:
Diretório centralizado de chaves: Um repositório central onde os usuários poderão vincular suas contas bancárias a uma chave única, como número de telefone ou e-mail, facilitando transferências sem a necessidade de compartilhar dados sensíveis.
Mecanismo operacional de liquidação: Um sistema que administrará a liquidez, alertará os participantes sobre seu saldo e garantirá a estabilidade do sistema.
Interface de conectividade: Baseada no padrão ISO 20022, essa interface permitirá que as diferentes câmaras de compensação se conectem ao sistema de pagamentos instantâneos.
Além disso, o Banco da República também atuará como uma câmara adicional, promovendo a concorrência e garantindo preços justos no serviço de pagamentos instantâneos.
Inclusão financeira
Um dos principais objetivos do sistema de pagamentos instantâneos é promover a inclusão financeira. Ao permitir a participação de entidades menores, como fintechs e cooperativas, espera-se ampliar o alcance do sistema financeiro na Colômbia. Com o tempo, também poderão ser desenvolvidos produtos adicionais, como microcréditos e seguros digitais, beneficiando pessoas tradicionalmente excluídas do sistema financeiro formal.
O novo sistema também visa reduzir o uso de dinheiro em espécie, permitindo que os usuários tenham acesso a novos produtos financeiros com base em seu histórico de transações. “Quando as pessoas percebem que não precisam de dinheiro físico para suas transações diárias, há uma mudança nos hábitos de consumo e isso gera informações valiosas para a criação de novos produtos financeiros, como microcrédito e seguros”, afirma.
Segurança e prevenção a fraudes
Um dos maiores desafios na implementação de pagamentos instantâneos é a segurança. Experiências de outros países, como o Brasil, mostraram que esse tipo de sistema pode ser alvo de fraudes e crimes financeiros. “A fraude é um tema que precisa ser tratado com urgência”, destaca Cuestas.
Para mitigar esses riscos, o Banco de la República criou um grupo técnico de segurança focado em estratégias de prevenção à fraude. Além disso, cada participante do ecossistema – desde as instituições financeiras até os usuários finais – terá um papel fundamental na proteção das transações. Cuestas acrescenta: “O sucesso desse sistema dependerá da pedagogia: que os usuários compreendam como funcionam as chaves e confiem na tecnologia.”
Para isso, o Banco de la República criou um microsite informativo sobre a iniciativa e exigiu que as câmaras de compensação invistam na divulgação do projeto. Instituições como Davivienda e Bancolombia, os dois maiores bancos do país, que já contam com suas próprias carteiras digitais, começaram a educar seus clientes com o conceito de pagamentos por meio de chaves, preparando o terreno para uma transição fluida.
O lançamento desse sistema na Colômbia marcará um divisor de águas na forma como são realizados pagamentos e transferências. A primeira fase começa em julho, com a implementação do sistema de chaves, e espera-se que em outubro o sistema completo de pagamentos instantâneos entre em operação.
“Esperamos que isso transforme o ecossistema financeiro da Colômbia, assim como aconteceu com o Pix no Brasil”, conclui Cuestas.