A abertura do Messenger para a criação de chatbots – robôs que conversam através dos aplicativos de comunicação instantânea – despertou uma grande discussão no mundo da tecnologia sobre uma suposta rivalidade entre bots e apps. Será que os chatbots vão matar os apps? A resposta é não. Pelo contrário, talvez o bot vire o melhor amigo do app.
É claro que surgirá um ecossistema de desenvolvedores especializados em bots, que vão trabalhar com as diferentes APIs que forem disponibilizadas por cada comunicador instantâneo (hoje Messenger, Slack e Telegram já liberaram a entrada de bots). Da mesma forma, haverá lojas de bots, tal como há hoje as de apps. E talvez até agregadores de bots (um robô que procura por um táxi para você consultando simultaneamente os bots de vários serviços, como 99Taxis, Easy Taxi etc). Mas isso não significará a morte dos apps. Serão universos paralelos, mas profundamente interligados.
Antes de analisar a sinergia entre as duas interfaces, cabe ressaltar as suas diferenças. Para começo de conversa, a programação dos apps é orientada ao front-end, ou seja, ao cliente. O sucesso de um aplicativo depende imensamente da sua usabilidade e da atratividade do seu design. No caso dos bots, a interface já existe: é o aplicativo de mensagem, seja o Messenger, o WhatsApp, o Telegram, o Viber, ou qualquer outro. O grande trabalho no desenvolvimento de bots estará no backend, ou seja, no servidor, com destaque para os algoritmos que tentarão entender e responder às demandas dos usuários. Haverá espaço enorme para o aperfeiçoamento de inteligência artificial. Quanto mais esperto for o seu bot, maior será o seu sucesso. E vale lembrar que a mesma programação de um bot para o Messenger será facilmente replicada para bots de outros comunicadores, acreditam fontes.
Todo mundo sabe adicionar um contato à sua agenda, mas nem todo mundo sabe baixar um app. O fato de se aproveitarem da interface dos comunicadores instantâneos é uma grande vantagem dos bots. Afinal, o usuário conhece essa interface e já sabe manuseá-la. Não é necessário baixar um aplicativo novo e perder tempo aprendendo a utilizá-lo. Muita gente no Brasil usa o WhatsApp e nada mais. Não raro, ele já vem instalado no smartphone ou alguém o ajuda a instalá-lo. É disparado o aplicativo mais popular do Brasil, presente na homescreen de quase 90% dos smartphones brasileiros. Segundo a última edição da pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre uso de apps no Brasil, se só pudessem ter um aplicativo, quase a metade dos usuários brasileiros escolheria o WhatsApp.
É possível que muitas ações hoje realizadas dentro de apps passem a fazer mais sentido através de bots em comunicadores instantâneos, como a chamada de um táxi, um pedido de refeição ou a compra de um ingresso de cinema. É com base nisso que se criou a ideia de uma rivalidade entre as duas interfaces. Contudo, ao mesmo tempo, os bots funcionarão como porta de entrada para a descoberta e a instalação de apps. Os robôs poderão sugerir links para o download de aplicativos específicos para quem quiser ter uma experiência, digamos, mais profunda com a marca ou serviço em questão, aproveitando recursos multimídia que eventualmente não estarão disponíveis inicialmente dentro dos comunicadores instantâneos.
Ou seja, em vez de inimigo, os bots poderão ser amigos dos apps, resolvendo parte do seu maior problema atualmente: ser encontrado dentro das lojas oficiais de Apple e Google, no meio de outro 1,5 milhão de títulos. Os bots serão o primeiro contato de um consumidor com uma marca ou serviço. Quem quiser estreitar os laços com uma marca poderá marcar um encontro real… ou melhor, baixar o seu app.