É preciso namorar antes de casar. É com esse pensamento que a Claro prefere, por enquanto, seguir uma estratégia de marketplace em relação a serviços digitais, montando um portfólio amplo de produtos com diversos parceiros, em vez de construir joint-ventures – o que não está descartado para o futuro, se alguma parceria se aprofundar. O posicionamento marca uma diferença em comparação com as concorrentes TIM e Vivo, que têm construído acordos que envolvem participação acionária ou criação de novas empresas com provedores de serviços digitais.
Em entrevista para Mobile Time, o diretor de serviços digitais e inovação móvel da Claro, Fábio Maeda, descreve sua atuação em verticais como saúde, educação e entretenimento, além de comentar sobre 5G, incorporação da Oi e metaverso. Maeda estará no painel de abertura do MobiXD, novo seminário presencial do Mobile Time, ao lado de executivos da Algar, da Vivo e da TIM, no dia 10 de maio, em São Paulo.
Mobile Time – Quais são os principais projetos da Claro em inovação móvel e serviços digitais para este ano de 2022?
Fábio Maeda – Algumas verticais que temos trabalhado há algum tempo e que consideramos estratégicas são saúde e bem-estar e educação, tanto com serviços que disponibilizamos gratuitamente quanto com os que vendemos como marketplace. Também são importantes as verticais de entretenimento, que sempre foram muito próximas de telecom, até pelo nosso DNA de pay TV, e de leitura (ebooks, jornais e revistas), que cresceu muito e está com muita relevância e boas notas nas lojas de aplicativos. As pessoas estão criando o hábito de ler no smartphone. E tem também a área de serviços financeiros, em que o Claro Pay está decolando. Outras duas prioridades este ano são o 5G e a unificação com a Oi.
Quais os principais serviços na área de saúde e bem-estar?
Temos uma história bacana com o Missão Covid, que, aliás, foi vencedor no Prêmio Seleção Mobile Time dois anos atrás. Demos zero rating e linhas para os médicos fazerem atendimento sem precisar usar suas linhas pessoais. Começamos com isso dois anos atrás. E agora estamos lançando nesta semana o StarBem (serviço de atendimento online desenvolvido pelos mesmos criadores do Missão Covid). Lançamos a R$ 3,99 por semana ou R$ 12,99 por mês. O StarBem faz um reconhecimento facial e uma série de medições pelo rosto da pessoa. Consegue ver nível de estresse, pressão arterial e batimento cardíaco. É uma funcionalidade do app, que traz também teleconsultas com um corpo médico. Há desde clínicos gerais até pediatras, endocrinologistas, otorrinos, dermatologistas, ortopedistas, dentre outras especialidades. Algumas requerem pagamento à parte, como psicólogo e nutricionista. O objetivo do StarBem é atender o cliente que não tem plano de saúde e não quer usar o SUS. Ou aquele que deseja um atendimento rápido sem precisar se deslocar. O atendimento é feito por videochamada no WhatsApp.
Este é o serviço de saúde e bem-estar mais recente lançado pela Claro. Mas há outros, certo?
Temos 10 serviços de saúde e bem-estar. O StarBem é um deles. Temos uma parceria com o hospital Albert Einstein, para um produto mais premium. Nele, você tem atendimento de um clínico geral. A diferença é a marca Einstein, que dá credibilidade. Neste caso o atendimento é feito pelo próprio app do Einstein.
E assinamos acordo com uma startup chamada SleepUp, que ajuda a fazer diagnóstico do sono. É um assistente pessoal que monitora o sono. Mede o quanto a pessoa dormiu e a eficiência do seu sono, além de propor um tratamento, que pode incluir mudanças na alimentação e exercícios. Em breve vamos lançar um serviço com eles.
É usada alguma pulseira ou outro wearable para monitorar o sono?
Pode usar o próprio celular, pelo seu microfone, ou por meio de um device conectado que eles estão desenvolvendo.
E na área de educação?
Seguimos a parceira com o Descomplica, que é oferecido gratuitamente e com zero rating. E lançamos o Claro Cursos no ano passado, com mais de 100 cursos gratuitos somando 3,4 mil horas de conteúdo educacional, e com zero rating. Aliás, o Claro Cursos foi escolhido pelo Google como o melhor app na categoria de autoaperfeiçoamento em 2021. Optamos por fazer com marca branca porque entendemos que educação está no core da Claro.
Quais os cursos mais populares?
Entre os cursos mais acessados estão: Como abrir seu próprio negócio; Entrevista de emprego; Técnico de informática; Assistente administrativo; e Redes sociais. Os cursos mais acessados mostram como as pessoas estão interessadas em prosperar na vida.
Quem são os parceiros por trás do Claro Cursos?
São Verisoft e UOL Edtech.
Há mais serviços de educação?
São 11 serviços de educação. Temos vários outros para crianças, idiomas etc, mas a estratégia é ser um marketplace.
O que acha da formação de parcerias mais profundas em serviços digitais, envolvendo participação acionária?
Por enquanto seguimos na estratégia de ter marketplace e fazer diversas parceiras com várias empresas. Quando se faz uma joint-venture, você dá exclusividade a uma empresa. Entendemos que faz sentido ter parcerias, mas ainda não em modelo de joint-venture. À medida que parcerias evoluam e percebamos que estão virando estratégicas, podemos em algum momento virar uma empresa ou joint-venture. Mas por enquanto a estratégia é de ter um portfólio amplo de serviços, seguir crescendo e oferecer produtos para pré-pago e pós-pago. A ideia é ter um portfólio amplo e que não se restrinja a um único grupo. Primeiro temos que namorar para depois casar.
Você mencionou o modelo de marketplace. A Claro pretende criar um marketplace de serviços digitais?
Por enquanto o cliente faz as contratações dos serviços separadamente pelo app Minha Claro Móvel e pelo site na web. Esses canais estão funcionando bem. Mas estamos estudando como criar uma loja ou marketplace de aplicativos. É algo que ainda está em discussão. No cenário atual, a web e o app atendem bem.
Qual a estratégia para a vertical de entretenimento?
Estamos virando um grande hub de conteúdo. Temos Netflix, HBO, Globoplay, e parceria com Discovery+, com acesso para clientes banda larga e pós-pagos. E trabalhamos muito com produtos marca branca. Um exemplo é o Claro Música, que teve crescimento grande, dobrando a receita em 2021 em comparação com 2020.
O Claro Música é um exemplo de serviço que vocês internalizaram…
Sim, já tenho um grupo dentro de casa que ajuda a fazer o serviço, o Imusica. Neste caso, antes de nos juntarmos, houve um namoro.
E há também muita coisa em negociação em entretenimento, mas que ainda não posso divulgar. Estamos virando um grande hub de conteúdo e os grandes serviços de OTT estão ou estarão dentro dele.
Você citou especificamente o segmento de serviços de leitura. Quais os principais produtos da Claro nessa área?
Temos o Claro Banca, de jornais e revistas, e o Skeelo, de livros. O primeiro é com a Verisoft e tem bastante relevância com a gente. O Claro Banca tem nota 4,6 nas lojas, o que é uma supernota. As pessoas estão cada vez mais lendo no smartphone porque os aparelhos com tela grande e resolução melhor estão mais baratos, o que facilita a leitura. O cliente consegue ler jornal, revista ou livro com mais fluidez, de modo mais prático e cômodo. Antigamente as pessoas usavam mais o tablet para isso. Hoje eu uso o notebook ou o celular. E isso acontece não só com os modelos de smartphone high end.
Como será feita a transição dos serviços digitais de clientes da Oi para a Claro?
Boa parte do portfólio da Oi em serviços digitais já temos aqui. Faremos a migração de forma transparente. O que o cliente assina na Oi vamos disponibilizar na Claro. A peculiaridade está nos serviços de marca branca. Mas aí vamos disponibilizar um serviço equivalente ou até o mesmo conteúdo quando a pessoa migrar. Um exemplo é o Oi Livros, que vai virar Skeelo. Outro exemplo: o Oi Jornais vai virar Claro Banca. O acervo é parecido. Só tem um ou outro serviço que a gente não possui. Aí vamos analisar a base e decidiremos se vale a pena adicionar ao nosso portfólio ou não. Mas, a princípio, a ideia é que todos sejam contemplados.
As operadoras móveis, de um modo geral, não conseguiram criar muito valor agregado em cima do 4G, o que acabou ficando a cargo de aplicativos over the top, como Uber, AirBnb, Netflix etc. No 5G vai ser diferente?
Sim, porque aprendemos a vender bundle, a vender conteúdo junto com conectividade. Do mesmo jeito que vendemos banda larga com Netflfix, poderemos vender pacote de móvel com conteúdos ligados ao 5G. E aí a operadora não vira um mero cano, mas começa a agregar os serviços ao seu core de telecom. Vamos agregar conteúdos de entretenimento e conteúdos de 5G junto ao nosso core de telecom.
Qual vai ser o killer app do 5G?
Temos algumas ideias para o mercado de consumo e para B2B, mas não posso falar ainda. Mesmo os mercados mais evoluídos, ainda não encontraram o killer app do 5G.
Os OTTs já foram vistos no passado como adversários das teles. Hoje são parceiros e figuram em planos de zero rating. Qual o seu balanço dessa relação com OTTs no Brasil?
Somos parceiros deles. Queremos ser um grande hub de conteúdo. Queremos vender o serviço core de telecom junto com serviços de conteúdo over the top, como já fazemos com HBO, Globoplay, Discovery+ etc. Não vemos mais OTTS como adversários, mas como parceiros.
Pretendem remover ou adicionar algum app ao zero rating em 2022?
Estamos analisando a estratégia do zero rating. Estamos repensando em como estruturar o zero rating. Na Claro temos o modelo de zero rating e de Extra Play. O zero rating é o acesso completamente gratuito e o Extra Play é uma franquia extra para alguns apps de vídeo, como Netflix e YouTube. Estamos repensando como organizamos.
Mas alguma parceria com OTTs poderá ser descontinuada?
Pode acontecer qualquer coisa. Pode haver parceria ampliada ou descontinuada.
Qual a sua opinião sobre o buzz em torno do conceito de metaverso?
Precisamos definir nosso objetivo no metaverso. Estamos olhando com cuidado para fazer a entrada correta. Ainda há muitos caminhos a seguir. Você vai entrar em um mundo especifico ou criar o seu? Há vários metaversos… Estamos estudando por onde vamos seguir e qual será a nossa jornada. Será de exposição de produtos? Ou de atendimento? Estamos pensando com cuidado.
Acredita que haverá um único metaverso ou vários?
Será descentralizado. Haverá vários metaversos.
Como é a relação da Claro com startups no Brasil?
Temos uma iniciativa chamada BeOn, um hub de inovação aberta, no qual trabalhamos com startups. E estamos sempre conversando com novas empresas que nos procuram, como Missão Covid e SleepUp.
Nas últimas semanas, Mobile Time também publicou entrevistas com diretores da Algar e da Vivo sobre a estratégia das respectivas operadoras no segmento de serviços digitais.