A tela sensível ao toque é considerada uma das maiores inovações da telefonia celular nos últimos anos, tendo revolucionado a interface com o usuário. Contudo, um conjunto significativo de consumidores foi prejudicado por essa novidade, ou pelo menos não conseguiu aproveitá-la até agora: os deficientes visuais. A maioria deles possui telefones simples, com teclas tradicionais, que usam apenas para receber chamadas e ligar para os números que sabem de cor. Não se trata de uma minoria tão pequena assim: calcula-se que há cerca de 6,5 milhões de pessoas cegas ou com sérias dificuldades permanentes em enxergar no Brasil. Com o intuito de incluir essas pessoas à onda de smartphones com telas sensíveis ao toque, o CPqD criou um aplicativo chamado "VozMóvel", que vem sendo testado há três meses por um grupo de dez deficientes visuais do Centro de Prevenção à Cegueira de Americana/SP. A partir das sugestões deles, o app será aperfeiçoado visando a sua distribuição comercial no primeiro semestre de 2013.

O "VozMóvel" foi desenvolvido em Android 2.2 e 2.3. O app basicamente divide a tela em seis quadrados, que compõem um menu básico de ações: realização de chamadas; histórico de ligações; contatos; mensagens de texto; nível de sinal e bateria; data e hora. Ao deslizar o dedo pela tela, o app lê em voz alta o comando presente em cada quadrado, utilizando uma tecnologia de síntese de fala desenvolvida pelo próprio CPqD. Ao clicar no quadrado desejado, o usuário é levado para um submenu, com outros comandos novamente distribuídos em seis áreas na tela. Para a digitação de mensagens, as letras também são divididas na tela e lidas pelo app. É possível ler a frase completa antes de enviar um SMS. 

"O aplicativo mudou radicalmente a vida dessa gente. Antes ligavam apenas para pessoas próximas, agora já encomendam serviços pelo celular. A quantidade de chamadas efetuadas dobrou. E agora conseguem trocar mensagens de texto: enviam em média duas por dia", relata Claudinei Martins, coordenador do projeto no CPqD.

Mas há pontos a serem melhorados. Ao longo dos três meses de teste foram anotadas as sugestões dos usuários, como a inclusão de navegação a pé georreferenciada e leitura de emails. Os deficientes também sentiram falta de algumas funções básicas, como ajuste do despertador e a presença de frases prontas para rápido envio via SMS, tais como "Estou atrasado", "Estou bem" etc.

O CPqD pretende negociar com as operadoras móveis brasileiras e com os fabricantes de celulares para que embarquem o aplicativo nos smartphones Android vendidos no Brasil. Obviamente, seria complicado simplesmente botar o app em uma loja de aplicativos e torcer para que alguém o instale no smartphone de um deficiente visual. Também está nos planos do CPqD oferecer a solução por trás do VozMóvel como uma plataforma para que outros desenvolvedores criem apps para deficientes visuais. Isso deve ser disponibilizado em meados de 2013.

O projeto do VozMóvel está orçado em R$ 5 milhões e é financiado com recursos do Funttel.

 

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