Houve um tempo em que existia uma corrida por megapixels no competitivo mercado de smartphones. A cada novo modelo top de linha lançado os fabricantes procuravam superar os concorrentes na resolução das câmeras, que é medida em quantidade de megapixels. Chegou-se ao ponto de haver um aparelho da linha Nokia Lumia com câmera de 41 MP. O frenesi em torno disso ficou para trás depois que o consumidor aprendeu que quantidade de megapixels não é suficiente para garantir boas fotos – e uma resolução muito alta pode até atrapalhar, gerando arquivos enormes que tomam toda a memória do aparelho. Agora, os smartphones top de linha estacionaram em resoluções que variam de 16 MP a 21 MP para as câmeras traseiras e a busca dos fabricantes pela diferenciação entra em uma nova fase: a adoção de inteligência artificial.
“A câmera deixou de ser um objeto apenas para tirar fotos, mas uma ferramenta inteligente com várias funcionalidades. Desmitificamos a história do megapixel. O brasileiro aprendeu que a câmera não é só megapixel”, diz Renato Citrini, gerente de marketing da área de smarthones da Samsung.
Nessa nova fase, a inteligência artificial está sendo aplicada às câmeras com dois objetivos: 1) melhorar as próprias fotos; 2) transformar a câmera em uma espécie de visor inteligente para a realidade ao redor do usuário, a partir de mecanismos de reconhecimento de imagem e realidade aumentada.
Para a primeira aplicação, um bom exemplo é o recém-lançado G7 ThinQ, da LG. Seu chipset Snapdragon 845, da Qualcomm, foi treinado com redes neurais para identificar 19 tipos de objetos em cena e, assim, configurar automaticamente os ajustes da câmera para melhorar as fotografias. Paisagens, bebês e comidas são alguns dos tipos identificados. O reconhecimento de imagem é feito offline, ou seja, não precisa de conexão à Internet.
Na Sony, merece destaque as funcionalidades de auto-foco preditivo e de auto-foco híbrido, presentes nos novos modelos da série Xperia. O auto-foco preditivo consiste na câmera perceber um objeto em movimento e tirar fotos antes mesmo de o consumidor apertar o botão. O smartphone analisa e apresenta as melhores fotos para o consumidor escolher quais quer salvar. O auto-foco híbrido, por sua vez, rastreia automaticamente o objeto que está sendo fotografado quando ele se move, garantindo que fotos de crianças ou animais sejam tiradas com nitidez.
Realidade aumentada
As maiores inovações, contudo, aparecem na combinação da câmera com o conceito de realidade aumentada. No S9, top de linha da Samsung, a câmera traz uma série de recursos desse tipo. Um deles é um tradutor automático, que converte textos em cena para a língua do usuário em tempo real. “Pode ser uma placa na rua ou o cardápio em um restaurante, por exemplo”, diz Citrini. Outra funcionalidade é a exibição de pontos de interesse sobre a imagem captada, também em tempo real. Se o usuário apontar a câmera para o céu, ela informa a previsão do tempo. E se apontar para o chão, mostra o mapa do local. Há ainda um botão para reconhecimento de imagens, que informa o que a câmera está vendo e oferece links relacionados. Se for um produto à venda na Amazon, permite ir direto para a página de compra. A tecnologia de reconhecimento de imagens do S9 é fornecida pelo Pinterest. O tradutor, os mapas e os pontos de interesse são fruto de uma parceria com o Google.
Motorola, LG e Sony também têm parcerias com o Google, mas para a integração da câmera com o seu recurso de reconhecimento de imagens, o Google Lens.
Uma ferramenta curiosa do S9 é a produção de emojis a partir de rostos captados pela câmera frontal. O usuário pode salvar seus emojis personalizados com diversas expressões e mandá-los através de qualquer aplicativo de mensageria ou rede social.
Futuro
Para o futuro, é esperado que as câmeras fiquem ainda mais inteligentes e ofereçam uma série de novos recursos. Citrini projeta, por exemplo, que as câmeras sirvam como manuais de instrução. Ao apontar para um produto, este seria reconhecido e instruções de como manuseá-lo ou consertá-lo apareceriam na tela.
Ana Peretti, diretora de marketing da Sony Mobile, por sua vez, cita uma pesquisa realizada pela empresa que indica que os consumidores gostariam que a câmera fosse capaz de medir seu corpo para avaliar o tamanho ideal de uma roupa. Uma extensão desse uso seria poder provar virtualmente um vestido, aplicando-o virtualmente sobre a imagem do seu corpo na câmera.