Guarde este termo: edge computing. Ao contrário de 5G, bots e inteligência artificial, ele ainda aparece pouco no Mobile World Congress (MWC), mas alguns especialistas acreditam que ele pode representar uma reviravolta na indústria de tecnologia nos próximos anos, permitindo que as operadoras retomem o protagonismo outrora perdido para Amazon, Google e outras empresas de Internet. É o que preveem alguns especialistas no assunto, presentes em um painel sobre o tema nesta segunda-feira, 26, no MWC, em Barcelona.
Mas o que é edge computing? O conceito poderia ser traduzido como “computação na ponta” ou “computação na superfície”, em oposição à computação na nuvem. Trata-se de realizar o processamento dos dados o mais perto possível do usuário final, seja em seu próprio aparelho ou nas antenas de infraestrutura móvel – podendo ser o roteador Wi-Fi ou uma estação rádio-base de telefonia celular. Ou seja, é o contrário da computação na nuvem, em que os dados precisam ser transportados até um servidor, onde são processados, e de lá retorna uma resposta para o aparelho na ponta.
Mahadev Satyanarayanan, professor de computação da Universidade de Carnegie Mellon e um dos maiores especialistas no assunto, cita as seguintes vantagens da computação na ponta: redução da latência, o que é fundamental para aplicações de carros autônomos e drones; a garantia de privacidade de dados pessoais, que deixam de ir para a nuvem e passam a ser tratados localmente; e a disponibilidade, pois redes locais e aplicações locais seguiriam funcionando mesmo se perderem a conexão com o core.
“Na prática, edge computing permite inteligência artificial por toda a parte”, diz o professor. Realidade aumentada com óculos inteligentes, de controle de tráfego urbano e de controle de espaço aéreo para drones são alguns exemplos de aplicações que poderiam ser beneficiados com computação na ponta, além de várias outras relacionadas à Internet das Coisas (IoT).
Hoje, a computação na ponta sofre com o problema do ovo ou da galinha. O que virá primeiro: as aplicações ou as redes? Satyanarayanan defende que as teles tomem a dianteira, construindo redes capazes de realizar computação na ponta, sem esperar pela demanda.
“O campo está aberto. Há oportunidade para novos players aparecerem, sejam as telcos ou companhias que não existem hoje. Acho que Google e Amazon, empresas que deram muito certo com nuvem, não vão abraçar a computação na nuvem. A Microsoft talvez seja exceção, porque nasceu na era da computação pessoal, quando era tudo descentralizado. Isto está em seu DNA, de certa maneira”, avalia o professor.
Um caso prático de computação na ponta apresentado no painel é o da francesa Snips, que desenvolveu uma solução para assistentes de voz em que todo o processamento de linguagem natural acontece localmente, ou seja, na ponta, dentro do aparelho que captura a voz do usuário. Seu CEO, Rand Hindi, explica que a solução foi criada seguindo o conceito de privacidade por design: o objetivo é proteger os dados do usuário. O que for falado no microfone é tratado localmente, sem ser enviado para a nuvem.
“O mercado demanda agora menos pesquisadores de inteligência artificial e mais engenheiros capazes de aplicá-la aos negócios. Você não precisa inventar a tecnologia que você usa. O Google não inventou a Internet. Não acredito que a maior companhia de IA será uma inventora de IA. A tecnologia sempre pode ser replicada. Os dados é que precisam ser protegidos”, argumentou Hindi.