Saúde, educação, finanças e indústria. São áreas distintas, mas mudarão de patamar radicalmente com o uso da inteligência artificial (IA), segundo especialistas do setor que participaram de debate no MWC19 nesta terça-feira, 26. Tabitha Goldstaub, a presidente do conselho de inteligência artificial do Reino Unido, e cofundadora da startup Cognition X, que busca esclarecer profissionais e empresas sobre as consequências da aplicação da inteligência artificial, alertou para os perigos do mau uso da IA.
“A inteligência artificial pode ser a nossa salvação, em casos como na saúde, por exemplo. Mas também pode contribuir por aumentar o desequilíbrio (financeiro, digital e social) global”, disse Goldstaub. “Quando pensamos em desenvolver para IA, precisamos pensar antes em todos os problemas econômicos e sociais que a tecnologia pode trazer.”
Para ela, empresas e governos devem basear a construção de suas soluções de IA nos 17 pontos do programa de sustentabilidade global elaborado pela ONU.
Um desses pontos, aquele que prega a boa saúde e o bem-estar, pôde ser visto com o médico Ali Parsa, CEO e fundador da Babylon, startup que consegue fazer análise médica via chatbot, ao conversar com o usuário para entender o que ele está sentindo. Atualmente, essa solução é usada pelo clube de futebol Arsenal para analisar a saúde dos jogadores e está em testes com a população de Ruanda e de Londres.
“A saúde médica pode ser mais acessível e menos custosa. Isto não é um sonho, já existe. O problema é a distribuição”, disse Parsa. “É possível criar soluções de saúde que ajudem a população. No nosso caso, 2,6 milhões de cidadãos de Ruanda estão no Babylon e pelo menos 1 mil londrinos usam diariamente”.
Wan Li Min, chefe de IA do Alibaba, defende o discurso de Goldstaub. Para ele, é preciso que as aplicações de IA sejam feitas “em forma e contexto correto”. Em sua visão, a base da IA é a criação em colaboração, com coerência e conhecimento coletivo.
Mídia, regulamentação e vício em IA
Contudo, Parsa explicou que há outros desafios, como mudar a educação para que não viremos reféns da IA e a aplicação de regulações próprias para a tecnologia em questão. Mas, em sua visão, o debate está raso por culpa da mídia: “a inteligência artificial vai além da nossa imaginação. Pode ser benéfica, mas pode ser uma ameaça. Mas o mais importante é que não podemos prever seu futuro, algo que a mídia faz constantemente com ‘os robôs vão me substituir”.
Em contraponto, Antoine Bordes, líder do laboratório de IA do Facebook na França, acredita que regulação não deve ser apenas papel do governo, e que as empresas também podem ajudar, uma vez que os órgãos governamentais não têm a mesma velocidade de adoção que as companhias.
Sobre a possibilidade de nos tornarmos reféns do IA, Matei Zaharia, fundador do Databricks, frisa que a humanidade sempre avançou com as soluções tecnológicas e não se tornou escrava delas. Um dos exemplos que citou foi o uso do Excel para fazer planilhas ou dos buscadores de Internet para ir atrás de conhecimento.