O aplicativo Airfox (Android) está de olho nos cerca de 55 milhões de brasileiros acima de 18 anos desbancarizados. Sua meta é se aproximar desse público tendo como chamariz principal seus microempréstimos por juros menores do que os praticados pelos grandes bancos. O app também oferece uma carteira virtual para a realização de transferência de dinheiro para pessoas e empresas e recarga de celulares. Em um futuro próximo, a ideia é que seus clientes possam pagar contas, recarregar o cartão do transporte público e ter um cartão de débito pré-pago.
Para oferecer esses serviços a seus clientes, a Airfox se serve de criptomoeda própria, a AirToken, de blockchain, além de um algoritmo que usa machine learning para entender seus usuários e poder oferecer serviços mais personalizados.
Algoritmo
Por meio de machine learning, a empresa coleciona uma série de informações de seus clientes para aprender mais sobre seu comportamento financeiro. De acordo com o CEO e cofundador da empresa, Victor Santos, o app consegue capturar mais de 300 dados do celular do cliente. A ideia é saber se ele é ou não “confiável”. “Se for, a ferramenta o categoriza em um determinado perfil de risco. Mas a carteira virtual leva de 15 a 30 dias para coletar informações suficientes para a gente determinar se o usuário está qualificado ou não para receber um empréstimo”, explica.
Para encaixar um cliente numa determinada categoria de risco, Santos exemplifica: “Se a pessoa tem um celular pré-pago, com simcard novo, sem história, esse é um red flag, ele não será aprovado. Se ele tem um Facebook sem histórico, ou falso, ele também não será aprovado. A Airfox determina um risco para o cliente. Se é um risco alto, os juros serão mais altos. Mas, com o tempo, se a pessoa paga o empréstimo direitinho, e a gente incentiva o pagamento do empréstimo, os próximos terão juros mais baixos.”
A Airfox já começou a atuar no Brasil, ou seja, o algoritmo já está sendo alimentado. Mas, para melhorá-lo, a empresa precisa de 10 mil a 100 mil usuários para ajustá-lo e chegar ao nível desejado.
Criptomoeda e Blockchain
Hoje, a Airfox usa o blockchain para duas coisas. A primeira delas é a segurança. Trata-se de um ledger descentralizado, um registro impossível de hackear por conta da criptografia. E, em segundo, é possível ver todas as transações abertas hoje no blockchain. Isso vai dar ao usuário confiança. “O cliente não precisa confiar nem na Airfox porque é totalmente descentralizado. Todo o seu capital está dentro desse ledger que não pode ser hackeado”, explica Santos.
Com criptomoeda e blockchain, a Airfox consegue mover o dinheiro de e para qualquer lugar do mundo. Como o blockchain é descentralizado, a empresa consegue adquirir credores, via a AirToken. “Para mim, não faz diferença se eu tiver que mover R$ 10 mil ou R$ 10 milhões. Num clique eu consigo transferir esse dinheiro de um lugar para o outro. O blockchain quebra as barreiras de intermediários para reduzir o custo do curso de capital. Não estou limitado a barreiras geográficas ou a intermediários que fazem o custo desse capital ficar muito alto”, explica Santos.
Com as criptomoedas e o blockchain, são criados instrumentos financeiros anonimizados, ou seja, não são peer-to-peer, que são colocados no blockchain. “As pessoas que têm a nossa criptomoeda, de qualquer lugar no mundo, conseguem colocar dinheiro dentro desse sistema financeiro. Como a gente consegue mover esse instrumento, via criptomoeda, a gente consegue executar o capital local e levantar o dinheiro para esses empréstimos fora do país”, explica Santos.
Dentro do app, a “introdução” à criptomoeda para o usuário é feita por meio da publicidade. O usuário assiste a uma propaganda e isso é revertido em créditos para ele, primeiramente, em AirToken para depois ser convertido em real.
Taxas
Os empréstimos que a Airfox oferecem têm juros entre 4% e 10% ao mês.
O cliente só pode pegar um empréstimo de cada vez na plataforma e, atualmente, está em torno de R$ 350. A ideia é que, nos próximos seis meses, a carteira aumente para até R$ 1 mil.
Modelo de negócios
A Airfox fica com uma porcentagem da transação que é feita pela carteira virtual e que é feita no microempréstimo. Caso a própria Airfox tenha provido o empréstimo, a empresa fica com 100% dos juros. No entanto, esses microempréstimos podem ser oferecidos por terceiros, ou seja, qualquer holder da criptomoeda. Neste caso, os juros são divididos em 80% para o credor e 20% para a empresa do app. “Caso o cliente pague uma conta de luz via Airfox, ou se ele recarrega o celular via nossos parceiros, a gente tira uma porcentagem dessa transação. Mas bem pequena. Nosso ganho está no microempréstimo. É aí que a Airfox vai fazer o dinheiro”, conta o CEO.
Criação e meta
Em 2015, quando começou, a companhia desenvolveu um software para operadoras de celulares pré-pagos nos Estados Unidos. Tinha como público alvo os 30 milhões de americanos que, na época, participavam de programas de subsídios do governo. Depois que milhões de usuários passaram pela sua plataforma, a Airfox começou, por meio de seu algoritmo com machine learning, a entender melhor seus usuários e a prever, por exemplo, se um cliente iria trocar de operadora, baseado na sua história de localização ou pelos tipos de aplicativos instalados em seu celular.
“Se alguém passa quatro horas por dia no Facebook, não é um bom sinal, né? Essa é uma das informações que conseguimos extrair do celular para saber se o usuário é confiável ou não. Se ele qualificar, qual o seu risco. E, quanto mais usuários temos, melhor a gente desenvolve o algoritmo”, resume Santos.
A Airfox tem escritórios em Boston, São Francisco e em São Paulo. Ao todo, são 20 colaboradores e, no Brasil, contam com um time de engenheiros.Até o fim do ano querem ter entre 100 mil e 300 mil clientes ativos.