O impacto da pandemia, além de fazer acelerar a telessaúde no Brasil, também fez acelerar os negócios das empresas de tecnologia que prestam serviços na área de saúde, as healthtechs. Um estudo sobre essas startups desenvolvido pelo Distrito, mostra que, em fevereiro deste ano, o País tinha 719 startups na vertical da saúde, 48 a mais do que em janeiro de 2021. A categoria de gestão e Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP) representam 25% de toda a base de healthtechs, ou 179 empresas. A categoria de telemedicina possui 77 startups e representa 10,7% da base, seis a mais na comparação com janeiro deste ano. Ainda segundo o estudo do Distrito, 26 startups foram fundadas em 2020 e, das 719 empresas, 50% delas nasceram nos últimos 5 anos. Porém, apesar do avanço, o caminho a percorrer é longo. Para Gustavo Araújo, CEO do Distrito, a digitalização acelerada pela qual o País passa, traz a necessidade de interoperabilidade.
“Hoje há muitos sistemas que não se comunicam. Diferente do mercado financeiro – com open banking e protocolos comuns, com portabilidade entre um serviço e outro –, na saúde não é possível, por exemplo, tirar seus exames de um hospital e levar para outro. Não existe portabilidade e interoperabilidade entre os players da cadeia. E isso depende do seu regulador, como o Banco Central é com o sistema financeiro e assumiu esse papel. O regulador deveria incentivar e criar ambientes de testes para novas tecnologias, assim como o BC fez no mercado financeiro, onde foram criados novos players”, indica
Não à toa, o CEO do Distrito aponta a necessidade de que os reguladores da saúde (Anvisa, Ministério da Saúde, por exemplo), assumam esse papel na criação de protocolos de interoperabilidade. “É importante também que o regulador abra para as novas tecnologias ou a telemedicina está ameaçada”, enfatiza.
Investimentos
Outro ponto relevante do estudo do Distrito mostra que os investimentos nas healthtechs estão aumentando. Somente em janeiro de 2021, foram realizadas oito rodadas de investimento, totalizando US$ 19,5 milhões. O montante representa 18,6% do total investido em todo 2020. A partir desses dados, o Distrito estima que em 2021 sejam realizadas 50 rodadas de investimento no ano e com US$ 150 milhões investidos.
“O impacto que a pandemia trouxe é estrutural, no sentido de que alguns efeitos não voltam mais. A vida que a gente tinha pré-impacto, não volta”, acredita Gustavo Araújo, CEO do Distrito. “Apesar do caráter provisório, o business de telemedicina permitiu que as pessoas fossem atendidas em locais onde não havia um especialista. A tecnologia trouxe conveniência e um custo menor para a saúde. Para o CEO do Distrito, com um custo menor, o acesso à saúde deve se ampliar no Brasil.
“Com a pandemia, ir a um hospital é um risco ainda maior. É fundamental tirar do hospital quem não deveria estar lá. A telemedicina permite uma primeira triagem e desafoga o sistema”, diz Araújo. É um legado da pandemia. A gente não vai querer que as pessoas voltem ao hospital, mas só quando for necessário.
Mudança cultural
Para Fernando Soares, CEO da CM Tecnologia – empresa que desenvolve soluções na área de medicina como ferramentas para agendamento online de consultas e confirmação de presença automática por meio de e-mail, SMS ou WhatsApp – não há dúvidas de que a pandemia acelerou a tecnologia em saúde. “A gente preferia não ter esse desastre, mas aconteceu”, complementa. Mas, segundo o executivo, existe um outro entrave que apesar de ter melhorado em 2020, se mostra tão complexo de se resolver quanto as discussões de regulamentação: o fator cultural.
“O mindset do setor é limitado. O gestor (de um hospital ou de uma clínica) compra uma máquina de ressonância de US$ 1 milhão porque ele precisa, claro, mas não investe R$ 3 mil por mês no agendamento online, por exemplo. A pandemia mostrou para os gestores de saúde que eles precisam investir em tecnologia para atender melhor seus pacientes. Com uma boa ferramenta, é possível ter 1 mil médicos atendendo. A tecnologia traz escala de atendimento. Mas, apesar de tudo, acredito que a crise acelerou esse mindset”, resume o CEO da CM Tecnologia.