A utilização de canais móveis em processos eleitorais é um fenômeno demasiadamente novo e ainda não devidamente estudado pela ciência política. Faltam pesquisas que comprovem a eficiência desses canais na conquista de votos, comenta Bruno Borges, cientista político da UERJ. O acadêmico acredita que o melhor período para se estudar o tema seriam as próximas eleições municipais, em 2016, por ser um evento mais localizado e controlado. Contudo, Borges concorda que é válida a experimentação desde já pelos candidatos, desde que os canais móveis sejam integrados a uma estratégia de campanha. "Não basta fazer um site bonito que funcione no celular", comenta.

Borges cita o caso das manifestações de junho passado, fenômeno que incontestavelmente cresceu graças à ajuda de canais digitais e conexões em rede. A dificuldade, na verdade, é mensurar esse efeito. "O efeito é visível, mas não é mensurável. Não sabemos até que ponto em uma eleição esses canais fariam a diferença", explica.

No caso de apps oficiais de candidatos, Borges lembra que o eleitor precisa acessar uma loja de aplicativos para baixá-los. Ou seja, é um canal que requer uma ação do próprio eleitor em busca de informação. Mesmo assim, pode ser um caminho interessante para candidatos a cargos no poder legislativo que possuem pouco tempo na TV. "Uma boa estratégia é ir para a TV e procurar atrair o eleitor para o mundo digital. Pode faz diferença em eleições proporcionais", comenta Borges. E acrescenta que os canais móveis podem mudar o aspecto de uma campanha porque não prendem o político a um reduto eleitoral, ampliando os horizontes dos candidatos.

O cientista político sugere que haja dentro das campanhas alguém responsável pela coordenação de marketing digital e até mesmo alguém especializado em mobilidade."Mas esse coordenador precisa saber o que está fazendo. Quais os benefícios do meio digital e do meio móvel que podem ajudar a alavancar uma campanha? Esse coordenador precisa estar ligado aos estrategistas da campanha e pensar grande: quem se quer atingir, como e quando?", diz.

Alcance

Com quase 280 milhões de linhas em serviço no Brasil, o celular se tornou um meio de comunicação presente em todas as camadas sociais do País. "Até as pessoas de baixa renda estão conectadas. O fenômeno móvel não pode ser desprezado", reconhece o cientista polítoco. Ele alerta, contudo, para o fato de que a utilização de apps ainda não abrange necessariamente todo o público que tem celular. "Eleitores mais jovens dominam essas ferramentas muito melhor que eleitores mais velhos. E, em determinados cenários, não são os mais jovens que decidem uma eleição, mas os mais velhos", comenta.

Em resumo: vale experimentar apps e outros canais móveis, mesmo sem poder mensurar objetivamente seus resultados. Mas é preciso fazê-lo de maneira consciente, integrada à estratégia da campanha.

Em uma série de reportagens nas últimas duas semanas, MOBILE TIME identificou o crescimento de apps de candidatos disponíveis nas lojas de aplicativos nas eleições deste ano, assim como o surgimento de desenvolvedores brasileiros especializados no atendimento a esse nicho de mercado. As matérias publicadas até o momento estão listadas abaixo.

 

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