Existem 27 milhões de brasileiros acima de 60 anos que usam smartphone. No entanto, poucos aplicativos móveis, chatbots e outros produtos e serviços digitais são desenvolvidos levando em conta as necessidades desse público. O alerta parte de Martin Henkel, professor da FGV e diretor da consultoria SeniorLab, especializada nesse segmento da população.
Em conversa com Mobile Time, Henkel citou diversas características desse público que não costumam ser consideradas na criação dos produtos. No caso de uma interface visual, como um aplicativo móvel, é importante um layout com maior contraste, pois com o passar do tempo nossa visão tem mais dificuldade de distinguir cores em tons pastéis. Também é recomendado evitar fontes com serifa e a mistura de diferentes tipografias em uma mesma página.
No caso de voicebots ou qualquer estímulo sonoro, é melhor optar por vozes e sons mais graves, pois com a idade perde-se a audição das frequências mais altas. Idosos também têm maior dificuldade em distinguir certos dígrafos, como “LH”, o que deve ser considerado na construção de respostas de voicebots.
No caso de chatbots, Henkel alerta que a velocidade demasiadamente rápida na resposta automatizada atrapalha, pois nem sempre o usuário se dá conta que foi respondido. Ou seja, seria melhor atrasar levemente, para simular um tempo de resposta mais humano.
Por sua vez, a perda de força em certos movimentos das mãos, como de pega e o de pinça, também devem ser levados em conta na elaboração de produtos físicos.
Rótulos
Por outro lado, é preciso evitar a rotulação desse público e a construção de produtos específicos para ele. Segundo o consultor, os consumidores com mais de 60 anos não querem um smartphone diferente por causa da idade: querem o modelo top de linha que todo mundo quer. Mas é fundamental que esse produto tenha sido pensado também para a sua utilização por pessoas mais velhas.
“Esse público não gosta de ser rotulado. E muito menos de ser infantilizado. Precisamos lembrar quem compõe essa nova geração 60+. É gente que conheceu o rock and roll ainda jovem, a Tropicália, a Jovem Guarda, e outros movimentos culturais que transformaram o nosso comportamento. Graças a eles temos o comportamento dos dias de hoje. É uma geração que causou uma disrupção de comportamento”, comenta Henkel.
Além de sua consultoria para a adaptação de produtos e serviços digitais, Henkel criou junto com o IBTeC um selo de certificação de produtos para o público 60+. “Para cada tipo de produto criamos um protocolo de teste e certificação”, explica. O certificado foi lançado há pouco tempo e por enquanto apenas quatro produtos foram submetidos a testes – dois calçados, uma muleta e um livro.
Henkel estreou nesta semana como colunista do Mobile Time e vai dedicar seus textos à relação do público 60+ com a tecnologia.