Os computadores quânticos atuais trabalham com algumas centenas de qubits, ou bits quânticos, e ainda são muito instáveis. Um caminho para aumentar a sua capacidade seria interligar vários computadores quânticos, adotando um processamento distribuído. Só que isso demanda também uma adaptação das redes de comunicação de dados e a criação de algoritmos capazes de trabalhar com esse processamento distribuído, opinam especialistas que participaram do evento virtual “World Quantum Readiness Day”, realizado nesta quinta-feira, 27, com organização da Digicert.
Para Reza Nejabati, head de pesquisa quântica da Cisco, uma computação quântica distribuída será um dos caminhos para a democratização dessa tecnologia no futuro. Outro caminho será a oferta da computação quântica na nuvem, ou seja, data centers quânticos vendendo computação quântica como serviço – já falamos disso outra vez no Mobile Time.
Criptografia pós-quântica
Um dos maiores temores de governos e empresas é o uso da computação quântica para a quebra das criptografias atuais. Suspeita-se que pessoas e organizações mal intencionadas estariam armazenando dados criptografados hoje em dia para acessá-los no futuro quando tiverem acesso a essa tecnologia.
Alguns especialistas falam que isso será possível em um prazo entre 10 e 15 anos. Outros evitam previsões. O fato é que os computadores quânticos atuais não conseguem, ou levam muito tempo, para quebrar uma criptografia. Para fazer com rapidez, em vez de centenas de qubits, será necessário um computador com centenas de milhares de qubits, estima Bob Sutor, vice-presidente do Futurum Group. Ele faz uma analogia com veículos: para quebrar as criptografias atuais, o computador quântico precisará ser um jato supersônico, mas os modelos atuais são meras bicicletas.
Isso não quer dizer que o problema possa esperar. Para quem possui dados sensíveis com potencial para continuarem sendo sensíveis daqui a uma década, como no caso de governos ou algumas grandes empresas, é aconselhável começar a montar um plano de migração para criptografia pós-quântica.
Já existem soluções de criptografia pós-quântica. Mas a migração não é algo simples. Muitas empresas desconhecem os padrões que elas próprias estão utilizando no momento e não existe uma ferramenta que possa dar um diagnóstico simples e rápido de quais dados em uma organização estão vulneráveis para a computação quântica, comentou Marc Manzano, gerente geral de SandboxAQ. O trabalho ainda é manual, mas a hora de começar a transição é agora, recomendou o CEO da Digicert, Amit Sinha.
O cidadão comum, entretanto, não precisa se preocupar no momento. “No começo, ninguém vai querer quebrar o código para saber o que você compra na Internet. Há segredos mais interessantes para serem quebrados”, disse Peter Shor, professor de matemática aplicada do MIT, se referindo a segredos de Estado ou de grandes corporações.
Ilustração: Nik Neves para Mobile Time