|Atualizado em 27 de janeiro, às 15h30, com dados da AppMagic| O sucesso de um app chinês de IA generativa que até bem pouco tempo quase ninguém conhecia causou impacto nas bolsas de valores do mundo ocidental nesta segunda-feira, 27. Trata-se do DeepSeek (iOS), espécie de ChatGPT criado na China. As ações das empresas de tecnologia ligadas à primeira onda da inteligência artificial generativa nos Estados Unidos registraram fortes quedas em suas negociações nesta data em razão do “efeito DeepSeek”.
NVIDIA, ARM, Micron e AMD, além da Nasdaq, tiveram quedas pela manhã após o China Daily informar que o DeepSeek ultrapassou o ChatGPT como mais baixado entre os apps gratuitos da App Store nos Estados Unidos e na China.
Às 12h13 (10h13) logo após a abertura do pregão, a NVIDIA estava com o papel valendo US$ 124,69, uma queda de 12,6% ante US$ 142 da sexta-feira, 24. A Broadcom passou de US$ 244 para US$ 211, um tombo de 13,7%. A Micron caiu 10%, de US$ 103 para US$ 93. A ARM recuou 8%, de US$ 162 para US$ 149,50. E a AMD teve uma queda de 5%, de US$ 122,8 para US$ 116.
Por sua vez, os índices Nasdaq 100 (100 maiores empresas), Nasdaq 500 (500 maiores empresas) e Nasdaq Composite (um barômetro das empresas da tecnologia) estavam em queda de 2,9%, 1,8% e 2,9% respectivamente.
O DeepSeek está tendo um crescimento meteórico nos últimos dias. No domingo passado, dia 26, ele foi o segundo aplicativo mais baixado na App Store chinesa, com 346 mil downloads, subindo 26 posições no ranking, de acordo com dados da AppMagic obtidos por Mobile Time. Nos EUA, na mesma data, o DeepSeek foi o quarto título mais baixado em iOS, com 101 mil downloads – ainda atrás do ChatGPT, que ocupava a segunda posição, com 139 mil instalações.
Conheça DeepSeek
Lançado no final de dezembro de 2024, o DeepSeek chegou ao mercado com a promessa de ser um dos principais e mais assertivos modelos de IA generativa do mundo. Sua tecnologia é baseada no grande modelo de linguagem (LLM) Mixture-of-Experts (MoE) que foi treinado com um total de 671 bilhões de parâmetros, dos quais 37 bilhões são ativados para cada token. Ou seja, para cada palavra, o DeepSeek utiliza 37 bilhões dos seus parâmetros para analisar e gerar sua resposta. Para efeitos de comparação, o modelo Llama 3.1, da Meta, possui 405 bilhões.
Preocupação com a IA chinesa
Na última semana, durante o evento Cisco AI Summit, organizado pela Cisco, executivos do setor de IA demonstraram preocupação com o avanço da China neste setor, mesmo com as dificuldades e imposições comerciais que o governo do ex-presidente Joe Biden impôs no final de 2024, ao bloquear o acesso de empresas chinesas às placas e chips avançados que permitem treinar a IA com mais velocidade.
O CEO da Groq, Jonathan Ross, afirmou que apesar da dificuldade dos chineses em obterem semicondutores de ponta, as empresas de lá poderiam usar chips de qualidade reduzida em brute force (força bruta, na tradução livre do português) para treinar IAs. Aqui, vale dizer, as empresas de semicondutores chinesas não têm a infraestrutura adequada para construírem chips avançados. Quem possui é sua vizinha Taiwan: “Acho que eles vão usar força bruta, produzindo mais chips com menos capacidade. Isso trará um pouco de vantagem para os EUA. Mas vai depender de como nós (EUA) vamos aproveitar essa vantagem o mais rápido que pudermos”, disse.
Porém, Ross, que atua no mercado de semicondutores e antes da Groq ajudou a criar o chip TPU, no Google, afirmou que sua esperança é uma paridade comercial entre empresas chinesas e norte-americanas, em especial com a abertura do mercado chinês para empresas estrangeiras com autorização para atuarem por lá.
Por sua vez, Alexandr Wang, CEO da Scale AI , reforçou que o receio é que a China ganhe a disputa pelo mercado de IA e integre rapidamente a sua indústria com a força militar do país. O executivo alega que os chineses não respeitariam dados ou liberdades pessoais, o que configuraria uma vantagem para o DeepSeek, que poderia escalar muito mais rápido.
Imagem principal: Ilustração produzida por Mobile Time com IA