Um ano atrás, testei ao longo de um mês o primeiro aplicativo de pagamento móvel por aproximação brasileiro, o Ourocard (Android), do Banco do Brasil. À época, me chamou a atenção o despreparo dos lojistas para receberem esse tipo de pagamento: embora a maioria das máquinas de POS instaladas no País estejam habilitadas para NFC (Near Field Communications), os funcionários nos caixas não sabiam como proceder e muitos nem deixavam que o pagamento fosse realizado, com receio de que se tratasse de um golpe. Passado um ano, novos serviços foram lançados, campanhas na TV trataram do tema e, aos poucos, o pagamento móvel por aproximação vai se tornando mais conhecido pela população brasileira em geral. Experimentei nas últimas semanas três serviços do gênero, cada um com um dispositivo diferente: um smartphone, um relógio e uma pulseira.

Smartphone com Samsung Pay – Ainda há alguma resistência de certos lojistas em receber pelo celular, mas é muito menor do que um ano atrás. O fato de o Samsung Pay mostrar a imagem do cartão em tamanho natural na tela do smartphone conta a favor. Além disso, ao contrário de outros serviços, o Samsung Pay funciona em qualquer máquina de POS, com ou sem NFC. Naquelas que não têm, o app utiliza a tecnologia MST (Magnetic Secure Transmission), que emula a passagem da tarja magnética do cartão. Notei que o pagamento por MST demora um pouco mais do que com NFC. Em compensação, não precisei ensinar o caixa como pagar: o procedimento para o lojista é o mesmo com um cartão de plástico. Já no pagamento com NFC, o procedimento é um pouco diferente para o vendedor. Ele precisa primeiro apertar algum número na máquina, para depois informar o valor, clicar na tecla verde e, só então, convidar o consumidor para encostar o smartphone. Como a maioria dos lojistas não estão acostumados, ainda preciso ensiná-los. Testei com sucesso também em uma máquina de mPOS da Payleven. Nas compras via MST é sempre exigida a senha do cartão. Nas compras de até R$ 50 por NFC, o consumidor é dispensado da senha, o que agiliza o pagamento. Na comparação entre Rede e Cielo, primeira sai na frente: a tela ociosa da máquina exige permanentemente uma mensagem de que aceita pagamento por aproximação, o que quebra qualquer eventual resistência do funcionário no caixa. Na Cielo essa mensagem só aparece depois de escolhida a forma de pagamento (débito ou crédito) e digitado o valor.

Relógio Swatch – Se o pagamento com o smartphone não chega a ser mais uma novidade tão grande, o pagamento com relógio é. Os lojistas ficam de queixo caído quando você diz que vai pagar com seu relógio. Neste caso, usei o Bellamy, um modelo da Swatch lançado este mês no Brasil. Além dos ponteiros para mostrar as horas ele é um cartão pré-pago Visa emitido pela Brasil Pré-pagos, com elemento seguro da Oberthur Technologies e que realiza pagamentos via NFC, aproximando o mostrador de uma máquina de POS. O fato de haver a marca da Visa estampada na correia facilita a aceitação no ponto de venda, funcionando como uma chancela. Não tive nenhuma recusa para esse tipo de pagamento: todos os lojistas quiseram ver, como se fosse mágica. A recarga é feita através do site ou do app da Brasil Pré-pagos, por meio de cartão de crédito, débito em conta ou boleto bancário, e desconto de uma taxa administrativa de 3% sobre o valor da recarga. Compras de até R$ 50 não requerem a digitação de senha o POS.

Relógio de pagamento da Swatch

Pulseira da RioCard – A RioCard, empresa que administra o sistema de bilhete único para acesso ao transporte público no Rio de Janeiro, está testando em parceria com a Gemalto uma pulseira que substitui o cartão de plástico. Recebi uma unidade para testar, cerca de dois meses atrás. A pulseira é feita de silicone e é à prova d´água. Na parte de dentro dela é encaixada uma versão em miniatura do RioCard, com um número de identificação para ser usado na recarga. O mais difícil, de verdade, é vestir a pulseira com uma mão só, pois seu fecho é um tanto complicado – depois de fazer e refazer algumas vezes acaba-se pegando o jeito. A utilização da pulseira para entrar no metrô, ônibus, trem ou barca é extremamente prática. Dá uma sensação de agilidade e de segurança ao processo, pois não preciso tirar a carteira do bolso para buscar o RioCard. Contudo, notei que dependendo do validador usado no metrô, a leitura da pulseira pode demorar um pouco, o que, na minha primeira tentativa, chegou a gerar a impressão de que o sistema não estava funcionando. Em validadores mais novos é rápido. Uma desvantagem no momento é não ter onde checar o saldo a não ser na tela do próprio validador, quando o valor aparece num piscar de olhos. O processo de recarga também precisaria ser melhorado, pois hoje não se consegue usar as máquinas de autoatendimento para venda de recarga nas estações do metrô. É preciso recarregar através do site Recarga Fácil, por meio de boleto bancário ou débito em conta do Itaú, com cobrança de R$ 1,95 como taxa de conveniência. Vale lembrar que a tecnologia usada para a comunicação com os validadores por aproximação é a MiFare, diferente do NFC presente nos smartphones. Para um usuário eventual de transporte público como eu, talvez não faça sentido ter uma pulseira só para substituir o RioCard. Mas se a tecnologia fosse integrada a outro wearable, como um smartwatch, sim.

Enfim, seja na pulseira, no relógio, no smartphone ou em qualquer outro objeto que vestirmos ou levarmos no bolso, os pagamentos por aproximação vieram para ficar. E aquele problema do desconhecimento por parte dos lojistas tende a acabar, até que se inventem novas "mágicas" para jornalistas de tecnologia como eu testarmos por aí.

 

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