As últimas tendências em meios de pagamento e o seu futuro foram discutidos em uma Mobile Time Live realizada nesta quarta-feira, 27, com oferecimento da Minsait Payments. O painel teve participação de Cristiane Taneze, diretora executiva de inovação da Visa; Fábio Lins, superintendente executivo de inovação, canais, Pix, IA e open finance do Banco Original; Layon Costa, country manager Brasil da Clara; Ricardo Granados, head no Brasil da Minsait Payments; e Daniel Tafelli, superintendente de serviços digitais da GetNet.
A conversa teve como pano de fundo dados da Minsait Payments coletados no relatório “Tendências em Meios de Pagamento”, divulgado em abril de 2022. Segundo a pesquisa, o cartão foi o método de transação financeira mais utilizado pelos brasileiros em 2021, com 76,7% dos entrevistados fazendo seu uso. Logo em seguida, vieram as transferências diretas entre contas, 65,2%, e o uso de apps de pagamento móvel, puxados pelo Pix, com 61,5%.
Foi quase unanimidade entre os participantes que, no futuro, o cartão continuará sendo o principal meio de pagamento dos brasileiros, mas não necessariamente de forma física. “Acreditamos que os cartões estão se desmaterializando. Ele deixa de ser um plástico e passa a se tornar o que a gente chama de credenciais”, comentou Taneze, da Visa.
Ela explicou que essas credenciais podem ser integradas a dispositivos como smartphones, smartwatches e tags, dando acesso ao cartão de forma virtual, sem a necessidade do plástico. Na Clara, empresa especializada em cartões corporativos que nasceu durante a pandemia, isso já é uma realidade entre os clientes. Cerca de 90% dos cartões utilizados por eles são virtuais, relatou Costa, o country manager Brasil.
Entretanto, Taffeli, da GetNet, ressaltou que o ideal é oferecer diferentes meios de pagamento, de acordo com o consumidor. “Eu acredito muito fortemente nessas três variáveis: experiência, conveniência e segurança. A gente conversa muito sobre a criação de uma plataforma de pagamentos totalmente agnóstica. Quem vai nos dizer qual é o método de pagamento que quer usar é o cliente, no fim do dia”, disse.
Mudanças
Todos os participantes concordaram que a pandemia acelerou a opção por meios de pagamento digitais no Brasil. Segundo o relatório da Minsait Payments, a porcentagem de pessoas que usam apps de pagamento móvel, entre 2020 e 2021, saltou de 25% para 61,5%, principalmente impulsionada pelo Pix. Por aqui, 82,8% das pessoas usaram smartphone para fazer compras online em 2021, ante 74,3% do ano anterior. O dispositivo móvel está ocupando parte do lugar de computadores e laptops, que caíram de 55,7% para 51,3%.
Outro ponto destacado pelos participantes foi o aumento no uso de NFC. Para se ter uma ideia, no primeiro trimestre de 2022, 30% dos pagamentos presenciais de cartão foram por NFC, um crescimento de 474% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços). A estimativa é que até o fim do ano metade das transações presenciais sejam realizadas dessa forma.
“Isso é, sim, espelho da alavancagem pela pandemia, mas também pela expansão de carteiras digitais. Eu acho que o Brasil está tendo bastante foco no crescimento das carteiras digitais. Você traz conveniência, mais segurança”, comentou Taffeli. A diretora da Visa lembrou que a maior parte dos pagamentos por NFC ainda se restringe aos cartões físicos.
Desafios
Apesar do aumento dos pagamentos digitais, os participantes da conversa também concordaram que há desafios para a difusão desses métodos. 33,9 milhões de brasileiros, por exemplo, ainda não têm acesso à Internet, segundo um estudo do Instituto Locomotiva e da empresa de consultoria PwC, divulgado em 2022.
Outra questão muito debatida foi o problema da segurança, latente no Brasil. Há barreiras culturais que dificultam a difusão de novos meios de pagamentos no País. O superintendente de serviços digitais da GetNet colocou em xeque, por exemplo, o quanto o brasileiro consegue confiar no Tap on Phone, ainda muito incipiente, que dispensa o uso de maquininha de cartão, substituída pelo próprio smartphone.
Segundo a diretora executiva de inovação da Visa, uma das soluções é o investimento pesado. A companhia gastou US$ 9 bilhões em segurança nos últimos cinco anos. “A gente faz isso através de inteligência artificial, utilizando toda a estrutura de dados da Visa, olhando justamente o comportamento do consumidor. Esses dados permitem comparar esse consumidor contra ele mesmo, para entender se faria sentido aquela transação”, contou. “Com a inteligência artificial e o deep learning, a gente consegue reduzir a fraude”, resumiu.
Quando perguntados sobre o BNPL (Buy Now, Pay Later), que dá opção de pagamento parcelado sem juros, um método pouco utilizado, eles disseram que a dificuldade de implementação é ainda maior. Nunca houve tantos inadimplentes no Brasil e o País bateu recorde na série histórica do Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor: 66,6 milhões de pessoas eram inadimplentes em maio de 2022.
5G
Lins, do Banco Original, ressaltou o papel que o 5G terá em acelerar o uso de meios de pagamento digitais e, mais do que isso, de mudar a forma como fazemos transações financeiras. “Temos uma linha de pesquisas importante, nesse sentido, do context first. Um exemplo diferente: a pessoa está cozinhando e, de repente, olha para geladeira ou para o micro-ondas, [e pensa] ‘eu lembrei que eu tenho que mandar um dinheiro para o meu filho’. ‘Transfira R$ 10 par o meu filho'”, diria essa pessoa, apenas por comando de voz. Ele explicou que o context first dispensará a necessidade de abrir o app no telefone para fazer a transferência.
O head da Minsait Payments no Brasil concordou. “O 5G vai ser fundamental para dar infraestrutura, para que as empresas possam desenvolver produtos e serviços. E ampliar, principalmente, os canais de utilização”, afirmou Granados. “Você vai criar novas oportunidades de negócio e desenvolver novas tecnologias.”