A Deloitte divulgou recentemente um estudo com oportunidades para o segmento de TICs no Brasil. Entre os temas defendidos pela consultoria estão: melhoria da infraestrutura de fibra ótica, menos regulação, entrada do 5G, cidades inteligentes, política de proteção de dados, treinamento da força de trabalho e uma cooperação mais ampla entre academia, governo e setor privado.
Para detalhar um pouco mais a visão sobre o documento, Mobile Time conversou com dois executivos da consultoria, a sócia-diretora em telecom, mídia e tecnologias assistidas, Marcia Ogawa; e o líder global da companhia no segmento de telecomunicações, Craig Wigginton (foto). Na opinião dos dois especialistas, o ponto primordial para o avanço é uma infraestrutura de Internet mais robusta.
“Neste momento, o mundo todo está pensando no 5G. Mas o que é realmente necessário é um backhaul de fibra ótica bem estruturado. Fibra é necessário para acelerar a adoção em rodovias e ferrovias”, disse Wigginton. “Mas, simultaneamente, é preciso ter mais espectro para acelerar a conectividade móvel.”
Citando dados recentes da telecom e do IBGE, que estão no estudo, os executivos da Deloitte enfatizam que apenas 5% das cidades (300 entre 5.570) possuem cobertura completa de banda larga.
Regulação
Outro ponto defendido pela companhia é uma regulação “mais leve”, como afirmou Ogawa. Na visão da executiva, a redução de barreiras regulatórias dará mais “confiança” para investidores aportarem no Brasil. No entanto, Wigginton frisou que isto não é um problema apenas do Brasil, mas de todo o mundo.
Como um dos exemplos, ela cita que uma operadora – um de seus principais clientes – gasta a maior parte de seus ganhos com pagamento de taxas regulatórias: “Se você taxar menos as empresas, mais negócios e outras firmas poderão ser criadas. E, no final das contas, o governo pode lucrar mais com taxas dessas novas empresas”, defendeu a sócia da Deloitte.
Em seu estudo, a empresa de consultoria e auditoria citou o exemplo do Uruguai. O país sul-americano aboliu o imposto de consumo sobre o tempo de transmissão (ITEL) que custava 0,40 do peso uruguaio por minuto para chamadas curtas e 2 pesos/minuto para chamadas longas. Com o corte, a penetração do mobile passou de 65% para 141% e o uso de tecnologias móveis triplicou no país, segundo dados da GSMA, que considerou o período entre 2007 e 2011.
Políticas no próximo governo
Quando questionados sobre quais políticas de TICs o próximo presidente deveria priorizar de imediato em sua administração, Marcia Ogawa defende a aprovação da Lei Geral de Telecomunicações (PLC 79) “o mais rápido possível”. Para ela, a atualização do documento ajudará a atrair investimentos ao Brasil. Por sua vez, Craig Wigginton ressaltou que a prioridade do governo deve ser em melhoria da infraestrutura de telecomunicações, mas reconheceu que uma renovação da lei pode ajudar a trazer mais capital ao Brasil, uma vez que tirará encargos em serviços pouco usados como a manutenção de telefones públicos.
Outro ponto levantado durante a conversa com os executivos foram os investimentos de empresas de telecomunicações no Brasil pré-eleição. O líder global de telecom explicou que as companhias que estão em terras brasileiras investem no necessário, mas o resto do mundo prefere aguardar, uma vez que o calendário eleitoral é curto. Olhando com o ponto de vista de quem atua aqui, a executiva explicou que muitos de seus clientes estão esperando os resultados do pleito, uma vez que o próximo presidente pode trazer impacto (negativo ou positivo) ao mercado com suas políticas econômicas.
Proteção de dados e Smart Cities
Sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) os executivos defenderam a necessidade de uma Autoridade Nacional de Dados Pessoais. Para os dois, o grupo deve ser mais amplo e multissetorial, e com um conselho. Além disso, Ogawa lembrou que a definição do formato da Autoridade é vital para o desenvolvimento das cidades inteligentes (smart cities).
“Nós defendemos uma iniciativa do governo em smart cities e safe cities, com foco mais em segurança, é necessário discutir privacidade de dados. A nova lei dá respaldo jurídico, mas ainda tem pontos que precisam ser esclarecidos, como a segurança interagências”, afirmou a sócia-diretora. “Uma vez que isto esteja resolvido nós podemos implementar e até exportar casos de smart cities”.
Por sua vez, Wigginton ressaltou que existem pontos que podem ser melhorados. Como o uso mais expansivo de computação em nuvem, datacenters, além da já mencionada melhoria nos backhauls de fibra. “É um balanço que trará segurança para todos. E todos queremos mais segurança”, completou.