Uma parceria da Amstel com o Google pretende atrair 200 mil torcedores brasileiros até o final do ano para treinar o Torcedor Artificial, um chatbot com inteligência artificial que simula um torcedor apaixonado pelo futebol brasileiro. no certame. A ação não é de marketing, pontuou Eduardo Picarelli, diretor de marketing do Grupo Heineken no Brasil, mas uma forma de deixar um legado da companhia no futebol brasileiro durante a Libertadores.
O executivo da marca de bebidas ressaltou que a expectativa de impacto de mídia do robô-torcedor é de alcançar 20 milhões de pessoas com a campanha nos meios digitais, TVs e publicidade nos estádios desta terça-feira, 27 – a partir do jogo entre Palmeiras x Grêmio – até o final do torneio, sendo que esperam que 1% apoie a iniciativa treinando o robô.
Inicialmente, o Torcedor Artificial estará apenas em uma plataforma, uma página na Internet. Mas poderá ser expandido para outros canais a partir do próximo ano. Para criar o bot foram usados mais de 400 mil comentários de usuários de portais sobre futebol e canais no YouTube.
Como funciona
Feito junto ao Google, JWT e MediaMonks, o projeto tem uma primeira etapa educacional, que é treinar o bot já que ele foi alimentado com base em dados de jogos, comentários de torcedores nas mídias sociais e no noticiário. Não à toa, ele é seco, pessimista e péssimo torcedor. Cabe ao visitante da página onde bot está hospedado ser seu professor e ensiná-lo a ter uma visão mais otimista, mais fair play e menos violenta dos times nacionais. Segundo Caio Velenosi, criativo em tecnologia na MediaMonks, a maioria desses comentários encontrados nas redes sociais eram negativos: “Os comentários negativos que captamos passam de 50%. Em alguns casos, dependendo do vídeo, eles passavam de 80%”.
Por meio do site, o usuário responderá perguntas do robô sobre futebol. Por sua vez, o bot responde de forma ríspida, pois o conteúdo que possui são aqueles negativos. Após essa primeira inteiração, a pessoa poderá ensinar o modo certo para o robô se comportar.
Princípios e objetivos
A ideia era lançar um bot por voz com Google Assistente na lata da Amstel, mas a companhia preferiu primeiro captar dados. Dependendo do resultado, após o final de 2019, um bot mais elaborado poderá ser criado para interagir com o torcedor durante uma partida de seu time no torneio continental.
“O que existe hoje é um princípio. Estamos focados em desenvolver e captar primeiro para o Torcedor Virtual”, disse Picarelli, durante evento realizado no Allianz Parque, em São Paulo. “Ele (bot) não tem curadoria dedicada, mas nós acompanhamos as interações”.
“Esse projeto começou um ano atrás. A gente se propôs a esse desafio e experimento. Mas descobrimos no mapeamento de dados um aumento de 33% das buscas de violência de torcida”, disse Vinicius Malinowski, líder de criatividade do Zoo no Google Brasil. “O bot responde com rispidez pois ele é um reflexo do comportamento dos torcedores. Com o treinamento, a gente espera que o projeto tenha um aspecto positivo de ensinar o robô e o torcedor”.
Por sua vez, Richard John, CEO da JWT no Brasil, indica que, uma vez treinado, o robô pode se tornar um parceiro de uma pessoa: “Temos um sonho desse torcedor ser maior. Estamos captando esses dados para interagir e entender com mais localidades. Entender para onde vamos daqui em diante”.
Ódio, preconceito racial e homofobia
Por mais que tenha falas duras, o robô não possui comentários com ódio, racismo ou xenofobia. Ainda assim, o lançamento do bot coincide com o episódio de xingamentos homofóbicos por parte da torcida do Vasco no último domingo, 25, durante partida contra o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro.
Convidado pela Amstel como participante do evento, o pentacampeão mundial e comentarista de futebol, Denílson, defendeu a punição por pontos aos times quando atacam adversários ou árbitros, de forma que os torcedores aprendam a respeitar as diferenças no esporte.
Outro ex-jogador e pentacampeão de 2002, Marcos acredita que o momento é de aprendizado para torcer em um novo momento. O ex-goleiro da Seleção e do Palmeiras acredita que a violência (na web) passou a ser vista como uma atitude nociva e que, se exposta, tende a diminuir.
O ex-jogador e comentarista da Band ainda vê a importância de ações para a educação dos torcedores, como uma forma de diminuir ações de cunho violento: “Temos falado muito sobre a geração da Internet. Nós percebemos que a Internet vem afastando as pessoas e encorajando-as a serem violentas. A violência virtual às vezes pode doer mais que uma agressão física”.
“(Educar o torcedor) é um processo de longo prazo. A ideia é mudar a agressividade que temos agora”, completou o comentarista.