Nas últimas décadas, os shopping centers se transformaram em grandes centros gastronômicos e de lazer. Embora muitos tenham obtido sucesso em atrair o público, poucos exploraram sua capacidade de realizar vendas remotas, ou seja, entregas a domicílio. É uma oportunidade latente, haja vista que os shoppings costumam ser bem localizados e possuem um conjunto de restaurantes e de outras lojas de itens de conveniência com grande demanda recorrente. Satisfeitas com as vendas presenciais, muitas lojas em shoppings nem sequer trabalham com entregas. Outras investem cada uma em um sistema de delivery diferente, seja próprio ou de terceiros. Esse modelo é ineficiente: se duas pessoas que moram no mesmo prédio fazem pedidos simultaneamente para duas lojas diferentes do mesmo shopping, saem ao mesmo tempo dois motoboys para o mesmo endereço. Para otimizar esse processo, reduzindo custos e melhorando a eficiência das entregas, surgiu a startup Delivery Center. Ela atua como uma integradora de pedidos, juntando as compras que chegam de diferentes canais e se encarregando da entrega e também do pagamento, se necessário. O objetivo é realizar qualquer entrega em até uma hora.

O Delivery Center começou a operar em janeiro do ano passado. Conta hoje com 15 centrais espalhadas por Porto Alegre (3), Rio de Janeiro (11) e São Paulo (1). Seu ritmo de expansão está acelerando: até bem pouco tempo, era inaugurada uma central por mês, e agora é uma por semana. O plano é chegar a 68 no fim deste ano e a 200 em 2021, em várias capitais do País. Os números abrangem tanto unidades dentro de shoppings tradicionais quanto outras montadas em “dark malls”, como são chamados centros comerciais que atendem exclusivamente o mercado de delivery. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Delivery Center está presente no Shopping Tijuca, Botafogo Praia Shopping, Downtown, Fashion Mall, dentre outros. Os shoppings  Rio Sul e Nova América receberão a novidade em breve. E o Delivery Center vai abrir três “dark malls” na capital fluminense, dentre os quais um no supermercado Extra da Barra.

Para bancar a rápida expansão, a empresa vai passar por uma rodada de investimento série B este ano, na qual pretende levantar R$ 250 milhões. Além disso, conta com sócios estratégicos, dentre os quais a administradora de shopping centers brMalls; o grupo Trigo, dono das redes Spoleto e Koni; e a gestora de estacionamentos Indigo. “Nossos investidores são nosso principal fator de sucesso”, declara o fundador e CEO do Delivery Center, Andreas Blazoudakis. O executivo é um antigo conhecido da indústria de conteúdo móvel: foi o fundador da Yavox, uma das maiores integradoras de SMS do Brasil, que acabou se juntando com a Compera e a nTime, formando a Movile.

“Normalmente, as centrais de distribuição do comércio eletrônico ficam nas bordas das cidades. Os delivery centers são centrais de entrega que ficam dentro da área urbana das cidades. São feitos para atender ao mercado de ‘same hour delivery’. Há basicamente dois tipos: 1) os especializados, com prédios construídos propriamente para isso, chamados de ‘dark malls’; 2) e os instalados em centros comerciais que já existem, como shopping centers, galerias, malls etc, onde montamos um processo de expedição, conectando os sistemas dos lojistas. Escoamos as mercadorias com entrega entre 40 minutos e 1 hora”, explica Blazoudakis, em entrevista para Mobile Time.

“Temos times de engenheiros, arquitetos e desenvolvedores de aplicativos Android e iOS. É um misto do mercado online e offline. É a primeira operação desse tipo no Brasil, com mistura forte de online e offline”, avalia. O executivo relata que se inspirou em experiências que presenciou na China, modelo que agora começa a surgir também em outros países. “Por enquanto não temos concorrente especifico com o mesmo modelo no Brasil. Os players atuais são mais parceiros do que concorrentes”, avalia Blazoudakis. É o caso do iFood, por exemplo, que está integrado ao Delivery Center. Quando alguém pede pelo iFood em uma loja dentro de um shopping com Delivery Center, a entrega é realizada pela startup de Blazoudakis.

Operação

Em cada local é montada uma central para a integração dos pedidos. Em geral, é um contêiner dentro do estacionamento do shopping. É importante que fique perto da praça de alimentação e/ou da saída do estacionamento, para agilizar o processo. Os pedidos chegam através de múltiplos canais. Pode ser um app próprio do lojista, ou um marketplace (iFood, por exemplo) ou o app do Delivery Center, chamado Dtudo (Android, iOS), sobre o qual falaremos mais adiante. O software do Delivery Center está integrado a todos esses canais para conseguir organizar as entregas. Quando chega um pedido, ele é visto tanto pelo restaurante em si quanto pela central do Delivery Center. Quando a comida está pronta, um funcionário da startup vai buscar. Esse profissional é chamado de “speedy”. Ele é o responsável por coletar vários pedidos em diferentes lojas e trazê-los para a central. Nela, pedidos para uma mesma região da cidade são agrupados para um motoboy realizar a entrega. Os motoboys não são funcionários do Delivery Center, mas de empresas terceirizadas.

Cada etapa é acompanhada no sistema. Quando um pedido é coletado no restaurante, o speedy escaneia um QR code impresso na nota, usando um app feito para isso. A partida do motoboy também é informada. Por GPS, é possível acompanhar o deslocamento de cada entregador. Finalizada e entrega, o motoboy dá baixa no pedido em seu app.

Se o pagamento não tiver sido feito online pelo consumidor, pode ser realizado com cartão ou dinheiro com os entregadores. Eles carregam uma única máquina de cartão do Delivery Center que serve a todas as lojas integradas. O sistema realiza automaticamente a distribuição entre as lojas e parceiros, incluindo as empresas dos motoboys.

“Nos sistemas tradicionais de delivery de rua há muita ineficiência porque os restaurantes estão todos espalhados, eventualmente faltam motoboys para coletar pedidos etc. Temos um processo especializado em um hub. No nosso caso a fila é única. Quando entra um pedido, a gente fica sabendo. E tem o speedy, que recolhe o pedido e entrega na mão do motoboy, que cuida apenas de dirigir”, explica Blazoudakis.

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Central do Delivery Center instalada no estacionamento do Botafogo Praia Shopping, no Rio de Janeiro. Na janela, o COO Saulo Brazil

Modelo de negócios e resultados

O Delivery Center pode prestar até três serviços para os lojistas: 1) o recebimento do pedido, caso este aconteça pelo app Dtudo; 2) a logística (coleta e entrega do pedido); 3) o recebimento do pagamento. Com cada loja pode ser feita uma combinação diferente desses serviços. O Delivery Center cobra entre 10% e 12% para fazer a venda e entre 9% e 10% pela expedição.

Com apenas um ano de operação, os resultados já podem ser sentidos. Lojistas que não realizavam delivery aumentaram, em média, 17% o seu faturamento depois do início da operação do Delivery Center. E aqueles que já entregavam em casa aumentaram em 20% sua receita com delivery, graças ao ganho de eficiência, informa o COO e cofundador do Delivery Center, Saulo Brazil. Os shoppings atendidos pelo Delivery Center registraram aumento de 1% a 1,5% do seu faturamento em apenas três meses de operação. “E isso foi atingido trabalhando apenas o segmento de comida”, ressalta Brazil.

Dtudo

Além de cuidar da entrega para os lojistas, o Delivery Center criou seu próprio app para recebimento de pedidos, o Dtudo. Por enquanto, ele funciona apenas em Porto Alegre e no Rio de Janeiro, cujo lançamento oficial acontece nesta segunda-feira, 28. Pelo app, o consumidor enxerga o Delivery Center mais próximo e pode realizar pedidos para as lojas que estão nele. No momento, os pedidos são feitos separadamente por loja, mas em breve será possível pedir produtos de lojas diferentes em um único carrinho, pagando uma vez só. É o chamado ‘multicarrinho’, diz Brazil.

O foco inicial está em restaurantes, mas a ideia é vender de tudo, especialmente itens de conveniência, como remédios e produtos de mercado. Mas, na prática, qualquer loja presente em um shopping atendido por uma central da empresa poderá realizar vendas e entregas pelo Dtudo. “É one stop buy para o consumidor e one stop sell, para o lojista”, resume o COO.

Blazoudakis compara o Dtudo aos superapps da China, mas com uma construção inversa: começou pela parte mais difícil, ou seja, a parte offline, de integração de lojas físicas e de processo de logística, para depois lançar seu app. “Quem tentou construir superapps fora da China teve dificuldade, porque geralmente começaram pela vitrine. No Brasil, se você construir do zero um superapp, tende a fracassar. Então fizemos um processo muito diferente. Fomos para o final da fila, e construímos ao contrário. Fizemos primeiro a central, a frente de logística, o ‘same hour delivery’, e plugamos os marketplaces nas centrais. Agora que isso está estabelecido é que lançamos o nosso superapp, o Dtudo. O nome é sugestivo: tem de tudo. O que tiver dentro de um shopping você pode pedir”, explica.

Tela Viva Móvel

Andreas Blazoudakis é o primeiro palestrante confirmado para a edição deste ano do Tela Viva Móvel, que acontecerá no dia 6 de maio, no WTC, em São Paulo. O evento agora é focado em discutir a inovação através do mobile, nas mais diferentes verticais. Blazoudakis apresentará em mais detalhes, e com números atualizados, a operação do Delivery Center, como um case de inovação em entregas no Brasil.

Mais informações sobre o evento e venda de ingressos podem ser obtidas em www.telavivamovel.com.br, ou através do telefone/WhatsApp 11-3138-4619, ou pelo email [email protected].

 

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