A computação quântica ainda não é a estrela do Mobile World Congress 2024 (MWC24). Mas essa tecnologia disruptiva começa a ganhar destaque com aparições pontuais nos estandes de grandes operadoras, startups e iniciativas governamentais, e também em alguns dos painéis do congresso. Essa talvez seja uma das grandes novidades desta edição da feira — mesmo que ofuscada pelos lançamentos com maior apelo de marketing.

Para entender a importância do tema, é preciso saber que existe hoje uma corrida mundial pelo desenvolvimento da computação quântica, tanto na busca pela maneira mais eficiente de se gerenciar os qubits (unidade de informação na computação quântica) quanto para proteger os dados atuais de ataques futuros por parte dos computadores quânticos. Grandes empresas de tecnologia e governos estão investindo bilhões de dólares nessa tecnologia.

Os computadores quânticos são capazes de resolver rapidamente problemas muito complexos que a computação atual levaria anos. Mais cedo ou mais tarde, por exemplo, é esperado que os computadores quânticos sejam capazes de quebrar as chaves criptográficas atuais, usadas para proteger o conteúdo digital produzido hoje em dia, desde nossas conversas no WhatsApp até segredos comerciais e de defesa nacional. Aliás, existe o temor de que cibercriminosos já estariam armazenando dados sensíveis criptografados hoje para conseguirem lê-los no futuro, quando tiverem acesso a computadores quânticos. Essa prática é chamada de “coletar agora para descriptografar depois”.

Diante desse risco, uma área que está se desenvolvendo rapidamente é a da comunicação quântica. Ela consiste em criar chaves quânticas para proteger chamadas telefônicas e outras transmissões de dados pela Internet, de maneira que um computador quântico não conseguiria quebrá-las. A geração dessas chaves não depende de computadores quânticos, mas de geradores de números quânticos aleatórios (QRNG, na sigla em inglês). Governos e grandes empresas já estão se protegendo.

Todos os novos SIMcards da China Mobile, por exemplo, já vêm com criptografia quântica. A novidade está exposta no seu estande do Mobile World Congress com o nome comercial de Super SIM.

Na área reservada às startups no MWC24, uma pequena empresa sul-coreana chamada Quantum Shieldz se destaca pela oferta de um dispositivo para a realização de ligações de voz pelo smartphone com proteção quântica. O Cipher, como foi batizado, usa uma chave quântica para criptografar a chamada. É preciso ter um dispositivo desses em cada ponta, para que a voz do outro lado seja descriptografada. O Cipher se conecta ao smartphone via Bluetooth.

A mesma startup também criou outro dispositivo de comunicação quântica, o Linker, mas neste caso através de uma conexão cabeada e para transferência de quaisquer dados, como as imagens de câmeras de videomonitoramento, por exemplo.

União Europeia

O Quantum Flagship, projeto de fomento de tecnologias quânticas da União Europeia, montou um estande grande no MWC24. Com orçamento de 1 bilhão de euros por dez anos, o Quantum Flagship estimula empresas europeias a pesquisar e desenvolver tecnologias quânticas nas áreas de comunicação, computação, simulação e sensores.

Congresso

O tema apareceu também no palco principal da feira. Quando a Dra Ilana Wisby, CEO e fundadora da Oxford Quantum Circuits, apareceu diante da plateia nesta quarta-feira 28, fez-se um silêncio profundo, demonstrando a atenção e o interesse do público. Ela fez um alerta: “A computação quântica está cinco anos atrás do estágio atual da inteligência artificial. Se você acha que sua empresa chegou atrasada na era da inteligência artificial, melhor começar a pensar em computação quântica agora”.

Computação quântica como serviço

Uma das expectativas comerciais em torno da computação quântica é de que ela será oferecida na nuvem, como um serviço. Ninguém vai ter um computador quântico em casa, mas vai poder acessá-lo remotamente quando precisar fazer cálculos complexos. Esse modelo de negócios foi tema de outro painel no MWC24.

Além das empresas privadas, a União Europeia planeja instalar um sistema cooperativo próprio com sete computadores quânticos interligados em diferentes países, para a oferta de computação quântica como serviço. Esta é a ideia por trás do Pacto Quântico, que conta com a adesão de 16 países europeus até agora.

Crédito da imagem no alto: Dra Ilana Wisby, CEO e fundadora da Oxford Quantum Circuits (Foto: Fernando Paiva/Mobile Time)

 

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