A Neuroverse é uma startup que nasceu como uma ferramenta de suporte para as escolas identificarem crianças com potencial de terem dislexia. A empresa desenvolveu uma plataforma gamificada para que a criança jogue e, a partir das respostas, os professores e responsáveis tenham uma identifiquem características do distúrbio de aprendizagem. Não se trata de diagnóstico, mas o jogo é uma adaptação fiel de um protocolo de diagnóstico e foi desenvolvido por uma equipe científica montada por duas neurocientistas e uma psicopedagoga, além de um designer. A ferramenta, batizada de Ilhas Littera, foi criada com inteligência artificial proprietária, possui grupos de controle e oferece um percentil de chance de aquela criança ser diagnosticada com dislexia. Ela foi desenhada para ser utilizada por crianças de 5 a 13 anos.

“Começamos a pesquisar protocolos científicos na área de psicologia que poderiam ser convertidos em algum produto para identificar crianças com dislexia e começamos o projeto. É uma plataforma gamificada, com uso de IA para facilitar a identificação de traços”, resume Igor Libertador, diretor de produto e negócio da Neuroverse em conversa com Mobile Time. “Não pode ser uma ferramenta diagnóstica porque precisaria de autorização da Anvisa e a realização de muitos testes – mas é como uma ferramenta de suporte, principalmente para as escolas”, continua.

O time da Neuroverse desenvolveu o jogo ao longo de um ano e meio. Ele pode ser utilizado em computadores, tablets e celulares. E não precisa, no momento do teste, de internet. Basta que em outro momento os dados sejam levados à nuvem.

“Ela pode rodar offline porque queremos levá-la para qualquer lugar do Brasil. Você instala a plataforma no tablet e coloca o jogo debaixo do braço. Depois, subo os dados na internet”, explica.

Durante os testes, realizados pela Neuroverse foram identificadas todas as crianças suspeitas ou já diagnosticadas com dislexia.

“Sem a gente saber, as escolas [onde os testes foram realizados] acabaram colocando crianças com essas características [suspeitas de dislexia] para saber o que a plataforma iria dizer. A gente tinha dúvidas sobre o produto, mas, no teste, comprovamos que ele funciona. Todas as crianças anteriormente diagnosticadas com dislexia foram detectadas pela plataforma”, conta

E as crianças que a escola tinha dúvidas pontuaram com um grau de médio a alto para característica de dislexia.

Atualmente, a Neuroverse possui algumas licitações aprovadas e deverá apresentar o jogo em escolas de 40 municípios do Maranhão.

“Hoje, se o protocolo fosse executado presencialmente com um psicólogo, levaria em torno de 40 a 60 minutos. Em nossas provas de conceito o tempo maior foi de 20 minutos”, compara.

Autismo e TDAH

Além de escalar o uso da Ilhas Littera, no momento, a startup desenvolve duas plataformas: uma para a identificação de autismo (chamada de Timmo) e a outra para TDAH (Attenta), com algumas diferenças.

Para a criança suspeita de autismo existe um assistente virtual que conduz a criança no uso da plataforma. A partir de um protocolo mundial de identificação, a ferramenta identifica uma potencialidade de ter ou não autismo. “Mas quem é capaz de analisar isso é um profissional”, diz o diretor de produtos e negócio da Neuroverse.

A empresa também deverá utilizar a tecnologia de eye tracking. “A gente sabe que o autista em todos os níveis, tem uma deficiência de interação social. A gente vai usar o eye tracking para analisar isso com IA e, com isso, acho que aprofundamos a pesquisa”, conta.

A ideia da Neuroverse é também oferecer uma plataforma de estímulos. Assim, se um aluno estiver com dificuldades de aprendizado em alguma matéria, ele pode acessar a ferramenta e fazer exercícios e ler sobre o tema.

“Existem muitas coisas que podem ser adicionadas ao produto que a gente nem sabe ainda. Estamos aprendendo a cada dia”, diz Libertador.

Neuroverse no TIC

A startup está incubada no Tiradentes Innovation Center, um espaço dentro da Universidade de Tiradentes, em Aracaju. Aberto em 2019, o TIC ocupa uma área de 1 mil metros quadrados dentro do campus e, atualmente, possui 25 startups sendo incubadas – a maior parte voltada para resolver questões para a educação brasileira.

Para montar o centro de inovação, a equipe visitou outros espaços do tipo, como o Cubo em São Paulo, Acate, em Florianópolis, mas também Vale do Silício, Portugal, Espanha e Finlândia. “Para que a gente pudesse receber as startups com o que há de melhor no mundo, melhor metodologia e infraestrutura. E para resolver questões da educação brasileira”, explica Marcelo Dósea, coordenador do TIC.

O espaço contou logo no início com grandes parceiros como Google for Education, Cisco e Santander Educação. Mais recentemente, apareceram o Banco do Estado de Sergipe e Fortinet. Atualmente também conta com Samsung, Google Cloud, AWS, Meta (empresa de tecnologia, não a holding das redes sociais), Mulvi e Teltec Solutions.

“Startups de outros estados vieram se instalar aqui como a Quantum, Neuroverse e o próprio Google, que instalou um spin-off do grupo”, explica Dósea.

Ao todo, passaram mais de 60 mil pessoas pelo centro somente em 2024, divididos em cerca de 1 mil eventos realizados. “Somos o maior porto de referência de desenvolvimento de startups e ações ligadas à inovação do estado de Sergipe”, atesta Dósea.

O TIC também promove a internacionalização das startups incubadas – a partir de um posto em Boston, nos Estados Unidos – e o intercâmbio entre empresas, recebendo, também, startups de outros países.

Há também parcerias com o MIT, Web Summit, em Lisboa, e com a Universidade de Aveiros, também em Portugal, que facilita a interação com possíveis parceiros na Europa.

Por fim, três startups negociam sua internacionalização em países na Europa e nos Estados Unidos.

O TIC é uma associação privada, sem fins lucrativos e regimento próprio. Possui autonomia em relação à Universidade e compõe o ecossistema Tiradentes, composto pela Universidade, o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), que possui 28 anos de existência e mais de 100 patentes.

“Cabe ao Tiradentes Innovation Center ser responsável pela inovação e negócios, trazendo startups desenvolvidas por pessoas de fora da universidade ou de egressos, e também buscando as patentes existentes para transformar em novos negócios”, explica o coordenador.

 

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