O Brasil caiu seis posições e ficou em 81º no ranking de países mais competitivos do do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) divulgado nesta quarta-feira, 28. Em "requerimentos básicos", no entanto, o País ficou em 103º, enquanto "melhoradores de eficiência" foi em 61º. Há destaque positivo, entretanto: nos fatores de inovação e sofisticação, o mercado brasileiro atingiu o 72º lugar, melhorando 12 posições (em 2015, esteve em 84º). O aspecto positivo é que o mercado brasileiro é extremamente competitivo em relação a serviços de Internet, longa distância e mobilidade, atingindo o grau máximo e ficando em "primeiro" ao lado de mais 69 países. O relatório, contudo, critica as políticas regulatórias e a falta de reconhecimento por parte do governo do impacto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs).
O avanço em TICs é parte de outro relatório do WEF, o Global Information Technology Report 2016. Nele, há o Networked Readiness Index 2016 (publicado em julho e disponível aqui), que mede a capacidade dos países de entregar TICs para aumentar a competitividade e o bem-estar. É baseado em seis princípios: um ambiente regulatório e de negócios de alta qualidade; disponibilidade de infraestrutura, habilidades e acessibilidade econômica de TICs; papel das TICs para sociedade, governo e empresariado; impacto de TICs na economia e sociedade; o ambiente, receptividade e uso de TICs; e uma agenda com políticas claras. A pesquisa foi realizada em 140 países com mais de 14 mil executivos.
O relatório ressalta que o mercado brasileiro "reverteu parcialmente a forte tendência de queda de anos recentes". De acordo com o WEF, o Brasil conta com larga adoção de TIC tanto para indivíduos quanto para empresas graças à "muito boa acessibilidade – em particular, conexões de Internet banda larga barata", na qual o País está em 14º lugar. Destaca que o uso individual ganhou cinco posições, uma "conquista considerável", já que outros países também melhoraram.
Porém, o relatório destaca o "ambiente regulatório fraco" que impacta no desenvolvimento da receptividade aos índices, bem como o ambiente de negócios e inovação, descritos como "um dos mais fracos do mundo", em 124º, com disponibilidade de capital e aquisição de tecnologia "caindo ainda mais". "O apoio do governo à agenda de TIC é percebido como fraco e a comunidade de negócios vê o governo fracassar em entregar (políticas) em termos de incorporação de tecnologias digitais nas estratégias em geral (121º), além da promoção direta de TIC (122º)".
No sub-índice que avalia os ambientes político e regulatório e de inovação e negócios, o País ficou em 118º. Considerando a política e regulação, ficou em 98º, e no ambiente de negócios e inovação, atingiu a 124º posição. No conjunto de capacidade, o Brasil ficou melhor posicionado: 55º, com a 58º posição em infraestrutura, 26º em acessibilidade econômica e 91º em habilidades. Em se tratando de uso de TICs, o Brasil está na 57ª posição, com 57º em uso individual, 59º em uso em negócios e 84º com uso por parte dos governos. O impacto socioeconômico das TICs no Brasil o deixou em 79º lugar no ranking. Separando por impacto econômico, o País está em 75º, com o impacto social em 77º.
Detalhamento
No relatório detalhado do Networked Readiness Index, no pilar de infraestrutura, o destaque é para o ranking de competitividade em Internet e telefonia: segundo o Fórum, o Brasil está em primeiro lugar dentre 139 países, mas ao lado de outros 68 países que atingiram o mesmo indicador. Isso significa que, no entendimento do WEF, há um elevado grau de competição em Internet, mobilidade e longa distância no país. As boas notícias terminam aí. Na cobertura de rede móvel, o país está em 35º lugar. Servidores de Internet seguros estão em 58º, e a capacidade de Internet (em kb por usuário) deixa o País em 60º lugar.
No pilar de uso individual, o País mostra índices medianos, como na penetração móvel (35º), de penetração de Internet por usuário (58º), de residências com computador pessoal (66º), de residências com acesso à Internet (66º), de banda larga fixa (63º), de banda larga móvel (24º) e de uso de redes sociais (46º). A penetração das TICs em empresas também mostra posições intermediárias para o Brasil, sobretudo no uso de Internet B2C (40º), nas aplicações de patentes (51º) e na absorção da tecnologia nas firmas (57º). Peca, no entanto, o uso em governos: a importância das TICs para o Estado está em 121º, e a promoção de políticas bem-sucedidas está em 122º. O índice de serviços online do governo tem melhor resultado: 49º.
A "melhor" posição do Brasil em ambiente político e regulatório é a da base instalada de software pirata, ficando em 38º; nas leis relacionadas a TICs (80º); e na proteção à propriedade intelectual (83º). No ambiente de negócios e inovação, a principal queixa é no tempo para começar um negócio (135ª posição) e na fatia dos lucros absorvida pelos impostos (133º). A competição local é o destaque positivo, em 41º.
O impacto econômico nos modelos de negócio ficou em 76º, e nos modelos organizacionais, em 78º. Os impactos sociais de TICs em acesso a serviços básicos, no entanto, ficou em 111º lugar, enquanto o uso de TIC para eficiência no governo esteve em 110º. O acesso em escolas deixou o País em 97º, mas a participação eletrônica foi melhor posicionada, em 24º.
Geral
Na América Latina, o Chile (38º) foi o melhor colocado geral em TICs, enquanto Haiti é o pior (137º). O WEF não encontrou nenhuma tendência particular em desempenho comparado ao ano anterior, uma vez que metade do grupo de países cresceu, e outra metade caiu. Ainda assim, a região mostra crescimento no placar absoluto desde 2012. A entidade sugere que muitos governos "precisam urgentemente reforçar esforços para melhorar os ambientes regulatórios e de inovação em seus países".
Em geral, o relatório destaca a revolução digital e seu impacto na natureza da pesquisa e desenvolvimento, com executivos de quase cem países destacando um aumento no impacto das TICs na inovação no modelo de negócios comparado ao ano passado. Isso tem seu preço: o aumento da pressão por inovação constante, sugerindo que uma adoção de TICs estagnada mostra que muitas empresas não estão embarcando rápido o suficiente. Trata-se de reflexo também da falta de reconhecimento por parte de empresas e governos da rápida adoção da economia digital pela população. Por outro lado, essa nova economia requer "inovações urgentes em governança e regulação".