O desenvolvimento do OpenRAN é visto como uma promessa distante pelo CTO da Claro, André Sarcinelli. Em sua participação no Painel Telebrasil 2021 nesta terça-feira, 28, o executivo vê a tecnologia longe da realidade apresentada pelos seus fornecedores por não ter escala e custos reais computados. Há ainda uma série de outros fatores, como a falta de comprovação de integração com outros equipamentos de rede, legado com redes antiga, modelo de negócios definido, segurança e até geopolítica.
“As dores do OpenRAN não são apenas de custo, mas também de performance. Não pode piorar o que temos. Ou seja, os equipamentos precisam ser robustos o suficiente para ter VoLTE, velocidade, throughput; queremos rádio com Massive MIMO 64 – mesma capacidade de hoje ou melhor. E tem o consumo de energia. A própria Rakuten teve aumento de 3 a 4 vezes o consumo de energia com OpenRAN. Em um país com problema de energia elétrica, não dá para ter um aumento de custo dessa grandeza”, disse Sarcinelli.
“Além disso, o OpenRAN precisa falar com todas as tecnologias, do 2G ao 5G, precisa de interoperabilidade com o legado, talvez não seja problema no agrobusiness e no corporativo, que é greenfield. Segurança também é problema, pois precisa operar com legado. E nós precisamos de um agente novo, um integrador, ou a operadora se torna um integrador? E nas conversas com vendors, muitos fornecedores prometem sair do vendor lock-in (ou seja, quando o fornecedor da infraestrutura precisa acompanhar a compradora até o final da vida útil dos equipamentos), mas ele vem oferecendo mais um (no caso, uma empresa de software). Ou seja, a gente vai sair do vendor lock-in de um para dois?”, questionou o executivo.
Para Atila Xavier, diretor de arquitetura, inovação e tecnologia da TIM, a integração é o grande desafio do modelo de rede aberta, pois a questão técnica não deve levar muito tempo. Porém, Xavier acredita que outro problema é a cultura: “É preciso que as operadoras se adaptem para um modelo Open e mais ágil, para que as operadoras atendam de maneira rápida as demandas do mercado”, completou.
Geopolítica
Sarcinelli criticou ainda o fato de que os fornecedores – vide Nokia – têm reduzido esforços no OpenRAN após a entrada de empresas chinesas no grupo de desenvolvimento global da tecnologia, o O-RAN Alliance. Para o executivo da Claro, a posição dos vendors ocidentais é danosa para o desenvolvimento da tecnologia aberta, ao fechar portas para os fornecedores da China.
“Superando o tema da maturidade, tem a geopolítica. Não existe Open se começar a excluir chinês”, disse o CTO da Claro.
Vale lembrar que o governo dos Estados Unidos têm usado o OpenRAN como alicerce para diminuir o domínio dos players chineses nas redes de telecomunicação, em especial a Huawei.
Contudo, Francisco Soares, vice-presidente de relações institucionais da Qualcomm, acredita a questão geopolítica existe, mas não é impeditivo para o desenvolvimento da tecnologia, ao menos dentro de sua companhia.
“Nós temos vários clientes chineses. Não temos impedimento de trabalhar com eles. Mas o OpenRAN é um fator que ajuda no processo. Hoje, se você tem um vendor na sua rede, você precisa ir com ele até o final. Se vier um problema de geopolítica que pode te afetar, o OpenRAN abre espaço para mudar a rede”, completou Soares. “Mas isso não é um problema para a Qualcomm, nós fornecemos (tecnologia) dispositivos, ao usuário final. Mas muito do terminal depende da infraestrutura. Por isso é importante ter desagregação e abertura da interface. Ou seja, se um não fizer, o outro vai fazer”, explicou.