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Ignacio Contreras, diretor sênior da Qualcomm (crédito: divulgação)

O desenvolvimento das redes 5G privativas com a Qualcomm tem a criação do ecossistema de parceiros como chave para o seu desenvolvimento, em especial integradores de sistemas que usam suas tecnologias para implementar as redes, como explica Ignacio Contreras, diretor sênior de marketing em produtos e tecnologias da Qualcomm.

Em conversa exclusiva com Mobile Time durante o Snapdragon Summit, realizado no Havaí no último dia 18 de novembro, o executivo relatou como a companhia tem diversificado seus negócios, em uma evolução dos handsets para a infraestrutura de rede.

Também arriscou dizer que a aplicação cabal para o 5G privativo pode ser a computação de borda (edge computing), além de compartilhar casos de uso de sua empresa no exterior. Confira:

Mobile Time – Como inicia a jornada da Qualcomm em redes privativas?

Ignacio Contreras – A história começa em geral com o 5G. Essa rede celular foi desenhada para ter muitas aplicações e casos de uso além do smartphone. Isso inclui aplicações para o consumidor final, como PC, gaming, realidade aumentada e virtual, mas também aplicações industriais em áreas como manufatura (que o Brasil é forte). Portanto, a quinta geração já inclui uma série de funcionalidades e capacidades. Um exemplo é o Ultra Reliable Low Latency Communications (URLLC), que é a capacidade do 5G em ser responsivo e dar suporte para mensagem de tempo sincronizada em configurações, ou seja, agora podemos prever em quanto tempo os bits vão viajar do dispositivo controlador para o receptor. Isso é algo muito mais importante que a banda larga de transmissão e seus Gbps.

Essa diversificação da Qualcomm é lucrativa?

Sim, nós estamos vendo isso. A Qualcomm é uma companhia diversificada. Hoje, o mobile é uma parte significativa do nosso negócio, mas também temos uma parte importante na indústria automobilística. Tivemos US$ 1,3 bilhão de receita com o setor de carros no último ano fiscal e estamos de olho em um pipeline avaliado em mais de US$ 30 bilhões vindo das montadoras. E vemos um incremento em IoT. Então, a nossa estratégia é diversificação. A habilidade de pegar um cronograma para uma tecnologia e articular para diferentes áreas é algo para o qual o 5G foi desenhado. Portanto, eu digo que há muita correlação entre essa visão em termos de avançar além dos smartphones. O 5G foi desenhado para avançar dos handsets e chegar aos PCs, XR e outras aplicações. Hoje, a Qualcomm está em uma jornada para diversificar. E isso não é coincidência, uma vez que somos um grande contribuinte das tecnologias fundamentais dos 5G.

O que vocês estão oferecendo ao mercado em redes privativas?

Hoje nós oferecemos sistemas modularizados que podem permitir dispositivos com essas capacidades e lançamos há dois anos a expansão do nosso portfólio de soluções de RAN para o lado da infraestrutura de rede, algo que inclui capacidades para redes públicas e privativas. Uma outra solução que mostramos este ano no MWC foi de software (de rede) em nuvem que possibilita a integradores e empresas desenharem a instalação de suas redes privadas, inclusive compreenderem os custos de implementação, dos equipamentos, como instalar e operar a rede. É uma camada que ajuda a simplificar para companhias que não são necessariamente operadoras, e a planejar e instalar redes privadas. Portanto, se vermos mesmo do ponto de padronização (que a Qualcomm participou ativamente com funcionalidades como o URLLC até os chipsets e dispositivos), tanto do lado dos devices e infraestrutura até o software para instalação e gerenciamento dessas redes, a Qualcomm está em todas essas camadas.

Como essas redes são montadas? Há parceiros?

Aqui os integradores de sistemas têm um papel-chave para colaborar e participar nessa criação (de redes privativas). Por exemplo, nós estamos trabalhando com a Capgemini na França e Europa em especificidade para redes 5G. Eles instalaram e entenderam como é a melhor maneira de configurar e implementar uma rede de quinta geração privativa, de maneira que eles podem levar essa expertise e construir uma rede por conta própria em seus clientes – grandes empresas –, inclusive aquelas que estão no Brasil. Dessa forma, muito do nosso propósito é nos engajarmos com esses integradores, ou seja, nós queremos colocá-los a bordo para desenvolver esse conhecimento em tecnologias 5G. Assim eles conseguem levar o 5G com outras tecnologias e atuar como integradores no suporte de instalação dessas redes privativas de quinta geração.

No Brasil, nós vimos uma forte demanda por integradores. O mercado de telecom vê que há poucos. Como é a relação da Qualcomm com eles?

Nós vemos os integradores como parceiros e não como problemas, nesse sentido. E nós estamos trabalhando com eles para criar conhecimento no tema. Os integradores de sistemas estão em uma posição muito melhor que a nossa e são chave nesse ecossistema, uma vez que estão em contato com grandes clientes, e podem misturar tecnologias que vão além daquilo que oferecemos para setores como varejo, indústria de manufatura, construção civil e outros. Mas um ponto importante é que a Qualcomm sabe montar esses ecossistemas e trabalhar com eles. Um exemplo é o que fizemos para levar 5G nos PCs. Outro exemplo é o trabalho que estamos fazendo como realidade estendida: nós não fornecemos apenas os processadores, mas softwares e ferramentas. Portanto, nós também estamos construindo um ecossistema para redes privativas 5G e integradores de sistemas em nossa plataforma.

Hoje, em redes privativas, quais tecnologias estão embarcadas nos equipamentos desenhados pela Qualcomm?

Quando falamos de tecnologia para fabricantes de infraestrutura, nós oferecemos basicamente tudo que está no cardápio. Nós oferecemos e somos pioneiros em soluções de LTE CAT-M e NB-IoT. Anos atrás oferecemos soluções com essas conectividades. Em 5G é a mesma coisa. Nós produzimos soluções de IoT em 5G, à medida que o mercado precisa usar os nossos modems mais recentes (X65 e X70) para uma série de aplicações que podem ser feitas em um smartphone, inclusive aplicações industriais que dependem de 5G. Nós introduzimos produtos que são compatíveis com o release 16, que incluem uma série de funcionalidades que são relevantes em redes privativas e aplicações de usuário. E nós continuamos investindo em pesquisa e desenvolvimento. Isso permitiu, por exemplo, o 5G Positioning que é o uso do 5G em infraestrutura e dispositivos não apenas para enviar dados, mas também para enviar sinal para identificar a posição em um local, como em uma mina, porto ou armazém. Nós estamos testando essa solução com a ZTE em demonstrações públicas de redes privativas e 5G Positioning.

Comunicação satelital está no radar para este segmento?

Durante a IFA no meio do ano, o nosso CEO Cristiano Amon confirmou que comunicação satelital virá para o Snapdragon. Por enquanto não temos novidades sobre isso, portanto, o tema será apresentado na hora certa. Mas nós estamos testando o que será a evolução das especificações 5G que permitirão comunicação satellite-to-cellular, assim como permitirá o 5G non terrestrial network (NTN). Mais cedo neste ano, nós fizemos junto com Ericsson e Thales uma demonstração dos protocolos que serão necessários para construir e que estão sendo usados para construção de comunicação satelital. E com as constelações de satélites lançadas, nós estaremos prontos para combinar com produtos.

Como você vê o mercado de redes privativas hoje?

É um mercado que está começando. Nós estamos nos primeiros dias. São os primeiros anos do 5G em muitos países, como o Brasil. Veremos muito mais atividade com redes 5G privativas. Mas o mais importante é que as especificações de 5G continuam evoluindo e adicionando novas capacidades e novas funcionalidades. Como é o caso do 5G NTN. Ou comunicações via satélite e comunicação entre dispositivos. Ou mais casos de uso em outros setores. Será algo dinâmico. E muitas das funções que vemos hoje no 5G são para aplicações que ainda não foram criadas.

Quais são os exemplos de casos de uso construídos em redes privativas com a Qualcomm hoje?

Hoje muitos dos nossos casos vêm da manufatura. Nós estamos com a Bosch na Europa para entender quais são os melhores casos de uso para redes privativas e suas configurações. Com a John Deere (fabricante de equipamentos de agricultura, como tratores), eles instalaram sua primeira rede privativa 4G e agora querem atualizar para 5G. Muitos benefícios que nós estamos vendo em redes privativas na manufatura estão na flexibilidade. Por exemplo, em uma fábrica que produz um produto A, mas quer começar a produzir o produto B. Para isso, a empresa precisa mover todos os equipamentos. Isso inclui todo o cabeamento de redes. Isso leva tempo e esforço. Se nós conseguimos entregar o mesmo nível de confiança do cabo em rede wireless, que agora é possível com o 5G, nós podemos dizer que você pode deixar os cabos de lado e mover mais facilmente os equipamentos e fabricar o produto A de manhã e o produto B à tarde, por exemplo. Portanto, você deixa o espaço mais flexível, além de eliminar os cabos. É por isso que o URLLC ou funções como time sensitive networking, que é bom para redes cabeadas, conseguimos inserir em redes móveis com o 5G para entregar esse nível de flexibilidade. Nós vimos isso como algo bem vantajoso em aplicações de redes privativas em manufatura. Muitos dos dispositivos estão conectados, portanto, é uma unidade completa de TI que é requerida pelas plantas conectadas e agora podemos oferecer com a quinta geração.

Educação também está no radar de vocês?

Outro caso que vimos está no campus (educação e corporativo) ou onde quer que se tenha uma grande concentração de pessoas que acessam dados, a maioria simultaneamente, e essas pessoas precisam acessar com segurança e de maneira protegida. Por isso temos interesse em implementar esse tipo de redes (privativas). Hoje vemos campus de empresas se preparando para usar 5G, em muitos casos em ondas milimétricas para ter uma camada adicional de conectividade em cima do Wi-Fi. Isso significa que pode ser uma rede pública que pode ser mais rápida e protegida em acesso aos dados.

Qual pode ser o killer-app em redes privativas?

Essa é uma boa questão. Mais cedo hoje, eu estava falando da possibilidade de Edge Computing. Com a velocidade que veremos 5G mmW – por exemplo, no Havaí chegamos a 4 Gbps – nós veremos uma transmissão de dados mais rápida que o notebook faz em seu HD. Portanto, o que significa quando a interface de rede é mais rápida que a interface física? Significa que agora o PC pode acessar a rede na ponta como fonte. Parte do Photoshop o usuário pode rodar com workloads de inteligência artificial em um motor de IA ou unidade de processamento neural em um equipamento. Mas também poderá levar essa carga de trabalho para a nuvem que vai processar o machine learning e então trazer de volta para o PC. Basicamente, se o consumidor estiver com um PC em uma rede dedicada com 5G em ondas milimétricas, ele terá uma sensação de acesso virtual e armazenamento em fontes de computação. Isso permitirá rodar aplicações mais sofisticadas. Como modelos de IA sem ligar quanto poder de processamento ou storage você tem em seu dispositivo, pois você está usando isso na rede. Acho que essa é uma das possibilidades que podem acelerar as redes privativas em 5G. Mas é algo que está limitado à minha imaginação. Acredito que veremos mais aplicações à medida que instalarmos mais redes, algo que voltaremos em três a cinco anos.

MPN

O gerente sênior de desenvolvimento de negócios da Qualcomm, Fransergio Vieira, participará de um painel de debate sobre oportunidades e desafios do mercado brasileiro de redes privativas móveis na segunda edição do MPN Fórum, seminário organizado por Mobile Time que acontecerá no dia 29 de novembro, no WTC, em São Paulo. Ele terá a companhia de Ari Lopes, gerente para as Américas de mercados de telecom da Omdia; Cristiano Moreira, gerente de negócios com operadoras e soluções avançadas da Embratel; e Luiz Spera, gerente de estratégia para o mercado de telecom do CPQD. A agenda completa e mais informações estão disponíveis em www.mpnforum.com.br.

 

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