Ao anunciar números pessimistas em seu resultado fiscal referente ao último trimestre de 2013, a gigante japonesa dos videogames Nintendo admitiu que o mercado mudou e que jogos em smartphones (e tablets) são uma realidade que veio para ficar. Mas, para uma empresa de tecnologia, a Big N é incrivelmente conservadora e não deu o braço a torcer na hora de levar para os telefones suas franquias de extremo sucesso, como Mario, Zelda e Metroid.

Um artigo do jornal japonês Nikkei chegou a afirmar nesta semana que a Nintendo iria utilizar smartphones como plataformas de promoção dos jogos com pequenas demos e minigames específicos que levariam o consumidor a procurar a versão “maior” nos consoles da empresa. Logo a informação foi desmentida: a companhia afirmou que não tem planos de produzir esses minigames.  

A justificativa, desde sempre, é que smartphones não possuem os recursos necessários para passar a experiência desenhada originalmente em um software específico para um hardware. Estranho, já que um dos recursos mais inovadores do portátil Nintendo DS era justamente uma rudimentar tela sensível ao toque, função repetida anos depois no portátil 3DS e no console Wii U.

E há precedentes na indústria dos jogos de conversões bem feitas de franquias para a plataforma móvel. Um dos casos mais recentes é o da série Sonic, que tem sido remasterizada em HD pelo produtor independente Christian Whithead e publicada pela Sega. Como os controles são simples (direcional e apenas um botão de pulo), a jogabilidade é boa o suficiente para permitir reapresentar os clássicos originalmente lançados para o Mega Drive para uma nova geração sem agredir os saudosistas.

Não necessariamente é preciso apostar em uma conversão 100% fiel. A franquia Rayman, da Ubisoft, foi recentemente ressuscitada nos consoles e o sucesso foi repetido em smartphones com a versão simplificada, mas muito divertida, Rayman Jungle Run. O título exige do jogador apenas a precisão de apertar um único botão de pulo no momento certo – o personagem anda sozinho pela tela. É simples, mas traz uma experiência muito próxima da versão dos consoles.

É importante lembrar que uma nova tendência tem se destacado principalmente após o lançamento do iOS 7: a de cases de smartphones com botões para simular um joystick. A Apple agora reconhece oficialmente esses acessórios ao disponibilizar uma API para que desenvolvedores programem seus jogos com essa compatibilidade. No fundo, isso significa que os smartphones ou tablets estão se tornando mais um CPU poderoso que podem ser aproveitados para games, da mesma forma como aconteceu com os computadores.

Essa comparação, aliás, é cada vez mais óbvia. Durante a CES 2014, em Las Vegas, a Nvidia apresentou o processador móvel Tegra K1, que compartilha a arquitetura de GPU (unidade de processamento gráfico) com as placas de vídeo para computador da empresa. Ou seja, a companhia promete que essa próxima geração de chipsets terá capacidade gráfica teórica maior do que de um Xbox 360 ou PlayStation 3, consoles da geração passada, mas ainda a maioria do mercado. Em um futuro próximo, o que impediria um usuário de aproveitar o smartphone que já possui e comprar apenas um acessório em forma de joystick para ter a mesma experiência de um console maior?

O grande fluxo de caixa da Nintendo ainda garante alguns trimestres de prejuízo, mas nenhuma justificativa da companhia japonesa parece fazer sentido em um universo em constante modificação. Se continuar ignorando a força dos games em dispositivos móveis, ela acabará tropeçando como sua antiga rival, a Sega, que hoje é voltada apenas para a produção de software. De um jeito ou de outro, a Big N terá de ceder. Não duvidem que, em 2018, estaremos jogando Super Mario em um iPhone 7S ou Nexus 9.

 

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