A comparação de preços de sites na Internet é tarefa para robôs. É assim que Buscapé e Zoom atualizam constantemente os preços de inúmeras páginas de comércio eletrônico. Mas e no varejo físico? Estima-se que mais de 90% do consumo dos brasileiros acontece em lojas de verdade, espalhadas pelas ruas e dentro dos shoppings. Como acompanhar e comparar os preços dos produtos delas? Uma start-up do Rio de Janeiro chamada PesquisaPraMim decidiu trilhar esse caminho, focando inicialmente em supermercados. Em vez de robôs, a empresa têm gente na rua: são pesquisadores que visitam diariamente as lojas para atualizar os preços ainda na parte da manhã. Hoje são monitorados os preços de 2 mil produtos em 12 supermercados da Zona Oeste carioca, incluindo filiais de redes como Pão de Açúcar, Mundial, Carrefour, Prezunic, Extra e Zona Sul. Todo dia, às 11h da manhã, todos os preços estão atualizados e podem ser pesquisados pelos consumidores através do site ou do app (Android, iOS) da companhia.

Cada pesquisador carrega consigo duas máquinas. Em uma das mãos leva um smartphone com um app desenvolvido internamente no qual constam os códigos de barras de 2 mil produtos cadastrados – a lista foi elaborada com base naqueles mais populares de cada categoria, segundo publicações do próprio setor de supermercados. Na outra mão, um Kindle se comunica com o smartphone e gera em sua tela cada código de barras para ser escaneado pelas leitoras de preços disponibilizadas dentro dos supermercados. A cada preço exibido, uma foto é tirada com o smartphone. Um software de OCR faz a leitura da imagem. O trabalho de coleta dos 2 mil preços leva cerca de 1 hora e 50 minutos. Os dados são enviados em poucos segundos via 4G para o servidor do PesquisaPraMim. É necessário usar o Kindle porque sua tela não emite luz, o que torna possível a leitura do código pela máquina do supermercado. A luz emitida pela tela do smartphone impede a leitura na maioria dessas máquinas. A solução foi desenvolvida pela própria empresa, que já deu entrada no pedido de patente.

Cada pesquisador visita dois supermercados por dia. Chegam às 7h, logo que as portas abrem, e por volta das 9h já estão em outro supermercado, de maneira que às 11h todos os preços estão atualizados. Antônio Luis Abreu, idealizador do PesquisaPraMim, garante que o fato de seus pesquisadores passarem quase duas horas ocupando uma leitora de preços não gera reclamações dos consumidores nas lojas. Pelo contrário: alguns já estão sendo reconhecidos e recebem elogios pelo trabalho. Além disso, são instruídos a sempre darem a vez para os consumidores que se aproximam para verificar um preço. Quem não está gostando muito da ideia são algumas redes de supermercados que entraram na justiça para tentar impedir a pesquisa, mas Abreu confia que a lei está do seu lado: o supermercado é uma área pública e a pesquisa de preço não pode ser proibida.

Comparação

Para o consumidor, a utilização do PesquisaPramim é gratuita. Através do site ou do app, basta informar o nome do produto ou escanear seu código de barras para verificar os preços nos supermercados monitorados. É possível também elaborar uma lista de compras e ver onde se gastaria menos. Ou, se tiver tempo, pode-se também pedir para dividir os itens na lista em dois ou mais supermercados para obter o menor gasto total possível.

"A verdade é que não existe o mercado mais barato. Depende do seu perfil de compras e depende das promoções do dia", resume Abreu. "Fazemos o trabalho de bater perna para o consumidor. Forneço para ele uma bússola. Talvez não valha a pena andar 20 Km para economizar R$ 5 em sua lista de compras. Mas para economizar R$ 100, sim", comenta.

Em operação comercial desde 2 de abril, o PesquisaPraMim superou 10 mil downloads em apenas 15 dias, somando Android e iOS. Sua projeção é ter entre 800 mil e 1 milhão de usuários no fim do ano, acompanhando a expansão do número de supermercados monitorados. Serão mais seis na Zona Oeste em breve, além de 14 em Jacarepaguá e 12 em Niterói. A empresa quer cobrir o Rio de Janeiro inteiro até o fim do ano. A Zona Sul será a última região. "Não me custa muito ganhar escala. Só preciso comprar dois aparelhos, ter um funcionário e um chip para a transmissão de dados", descreve o empreendedor. Para fora da capital fluminense a ideia é crescer por meio de franquias no futuro.

Modelo de negócios

A definição do modelo de negócios do PesquisaPraMim ainda não aconteceu. A empresa avalia a possibilidade de criar ferramentas premium que serão cobradas, como a divisão da lista de compras entre várias pessoas de uma mesma família, e a exploração de publicidade dentro do serviço. A longo prazo, sonha até mesmo em se integrar com os supermercados, permitindo que a encomenda seja feita através do aplicativo e depois recolhida pelo consumidor na loja.

A start-up recebeu um aporte inicial de R$ 1 milhão, o que lhe assegura algum tempo para operar no vermelho conquistando base de clientes antes de definir mais claramente quais serão suas fontes de receita.

Crowdosurcing

No ano passado, MOBILE TIME publicou uma matéria sobre outra start-up carioca de comparação de preços em lojas físicas, a Price Ninja. Seu modelo, contudo, dependia da colaboração voluntária dos usuários. A PesquisaPraMim não descarta adotar crowdsourcing no futuro, mas como um complemento ao trabalho dos seus pesquisadores contratados. "Temos que fazer algo sistemático para ter credibilidade. Não posso depender apenas da boa vontade de uma dona de casa", comenta o executivo.

 

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