O megainvestidor ativista Carl Icahn, que amealhou sua fortuna comprando e vendendo participações em empresas, resolveu vender todas as suas ações da Apple, prevendo uma forte desvalorização nos papéis da empresa. O motivo seriam as restrições cada vez maiores impostas pelo governo da China para a compra de produtos de tecnologia de empresas norte-americanas, o que, segundo ele, eleva os riscos sobre as ações da companhia.

Atualmente, a Apple vende mais na China do que em toda a Europa. Mas as vendas no país, depois de anos de crescimento e de terem chegado a atingir índices percentuais de três dígitos em 2015, estão encolhendo, com a receita recuando 26% ano sobre ano, de acordo com o balanço referente ao primeiro trimestre deste ano da empresa.

Até o fim do ano passado, Icahn possuía o equivalente a 0,83% das ações da Apple, ou seja, 45,7 milhões de ações. O volume total de ações valia o equivalente a US$ 4,46 bilhões, e o megainvestidor teria lucrado cerca de US$ 2 bilhões com a venda dos papéis. No ano passado, o bilionário investidor, que vinha comprando ações da Apple desde 2013, publicou uma carta aberta na qual disse que as ações da companhia estavam subvalorizadas. Na carta, enviada ao CEO da Apple, Tim Cook, Icahn defendia que as ações da companhia deveriam valer US$ 240, cerca de 90% a mais do preço dos papéis à época.

Por US$ 240 a ação, o valor da Apple seria de US$ 1,4 trilhão. Atualmente, o valor de mercado da Apple é de US$ 517 bilhões. Nesta sexta-feira, 29, os papéis da empresa operaram em baixa durante todo o pregão da Nasdaq, sendo que o pico de queda foi de 2,4% às 12h36 (horário de Brasília), quando foram negociados a US$ 92,56.

"Você não pode entrar nesse negócio, a menos que você seja como a Samsung, que realmente conta com o apoio do país", disse Icahn durante entrevista à rede de TV a cabo norte-americana CNBC, na quinta-feira, 28. "Muitas pessoas tentaram, um monte de gente falhou… Na China, vai ser cada vez mais difícil para a Apple vender lá. Eles são, basicamente, em vários sentidos, benevolentes, uma ditadura benevolente. Eu não sei se benevolente é a palavra certa."

Na entrevista à CNBC, Icahn disse que sua preocupação é menos com a desaceleração da economia chinesa e mais com os entraves ao comércio que Pequim pode impor à Apple. "A coisa que eu estou preocupado com a China não afeta todo o mercado. Eu não estou falando sobre o status econômico da China agora. Estou falando que as restrições do governo à Apple podem aumentar um pouco. E, se isso acontecer, o que significa para os lucros da empresa?"

Icahn disse também que está "ainda muito cauteloso" com o mercado de ações dos EUA, e comunicou a venda dos papéis que detinha. "Nós já não temos uma posição na Apple", disse ele. "Tim Cook fez um grande trabalho. Eu liguei para ele esta manhã [de quinta-feira] para lhe dizer que sentia um pouco de pena, obviamente. Mas eu disse a ele que é uma grande empresa."