Já aconteceu em eleições passadas e vai acontecer de novo este ano: o SMS vai ser o canal preferido daqueles candidatos que quiserem espalhar boatos difamatórios e apócrifos contra seus adversários. Isso pode acontecer principalmente nas campanhas para presidente, governador e senador. Essa é a expectativa de diversos especialistas entrevistados por MOBILE TIME ao longo das duas últimas semanas.
"Está tudo se encaminhando para ser uma eleição em que as luvas vão ser jogadas longe. Uma campanha sangrenta pode se refletir no SMS. Em eleições presidenciais passadas, esse canal foi usado para difundir boatos sobre privatizações e aborto", comenta Bruno Borges, cientista político da UERJ. E complementa: "Todos os dados indicam que campanhas negativas na TV funcionam. Não é à toa que os políticos adotam essa estratégia. Podemos achar condenável do ponto de vista ético ou moral, mas funciona."
E o pior: dificilmente os autores dessas mensagens serão rastreados. Isso porque contratarão prestadores não homologados de SMS, que usam chipeiras ou brechas em rotas internacionais de tráfego para disparar mensagens de texto sem a anuência das operadoras móveis. É o chamado "SMS pirata". A previsão é de um tráfego de milhões de SMS com essa finalidade durante o período eleitoral. "As eleições deste ano vão ser o Natal das chipeiras", resume Michele Bader, diretor da TWW, uma integradora homologada de SMS que não trabalha com esse tipo de serviço.
A maioria dos ataques deve se concentrar na véspera ou no próprio dia da votação, para dar menos tempo de resposta ao difamado. Mas alguns políticos já começaram a usar o SMS como canal para campanhas negativas. O jornal O Globo desta sexta-feira, 29, informa ter constatado o envio de mensagens de texto críticas à política de segurança do governador fluminense Luiz Fernando Pezão e aparentemente assinadas por Garotinho, candidato da oposição.
SMS positivo?
O SMS dificilmente será usado para divulgar propostas e ideias de candidatos porque o tiro pode sair pela culatra. "É preciso tomar muito cuidado com SMS marketing, pois pode gerar insatisfação quando não autorizado. Pode implodir toda uma campanha", diz Iuri de Brito, diretor no Brasil da Mobilize, empresa especializada em apps para políticos. "O SMS é muito invasivo. Só funciona bem para fazer contra-política, do contrário é perda de voto. Só serve para espalhar boatos", diz outra fonte de um agência de marketing político que preferiu não se identificar.
A única possibilidade de uso positivo do SMS seria para a comunicação com apoiadores de um candidato que tenham espontaneamente autorizado o recebimento de mensagens através deste canal. Mesmo assim, os partidos teriam que recorrer ao SMS pirata, porque as teles optaram por não permitir o envio de mensagens eleitorais. Além disso, no caso do Rio Grande do Sul, houve uma recomendação do Ministério Público Eleitoral para que se evite o SMS, sob o argumento de respeitar a isonomia das eleições.