O Brasil é a sexta maior economia do mundo e um dos maiores mercados de telefonia celular, seja em número de assinantes ou em venda de aparelhos. Contudo, o país participa pouco dos fóruns internacionais que definem os padrões tecnológicos da mobilidade e da Internet. Na IETF (Internet Engineering Task Force), entidade em que se discute e define os novos protocolos da Internet mundial, por exemplo, dos 1,2 mil participantes, menos de dez são brasileiros. Por isso, chama a atenção o fato de este mês ter sido aprovado um novo padrão da IETF para Internet móvel cujo proponente, editor e coautor é um pesquisador brasileiro do INdT (Instituto Nokia de Tecnologia), Fuad Abinader. É a segunda vez na história da IETF em que uma proposta liderada por um brasileiro é aprovada.

A solução, batizada de "Bulk Biding Update Support for Proxy Mobile IPv6" (ou "Suporte para atualização de presença em massa para Proxy Mobile IPv6") contou com a colaboração de outros quatro pesquisadores de empresas como Cisco, Ericsson e Nokia. A proposta tem como objetivo identificar em grupo a passagem de celulares em movimento de uma torre para outra (processo conhecido como "handover"). No momento isso é feito individualmente, em uma comunicação entre a estação rádio-base (ERB) e a central, onde fica um componente conhecido como "home agent", que contribui para o gerenciamento dos endereços IP dos celulares. Quando há muitos telefones se deslocando em conjunto, como passageiros em um trem, ônibus ou metrô, existe o risco de haver congestionamento desse processo de identificação, provocando lentidão ou mesmo queda de uma conexão de dados. Com o novo padrão, as torres serão capazes de agrupar os celulares em movimento em um identificador numérico. "A maneira de agrupar os usuários poderá variar entre os fabricantes, dando espaço para a diferenciação entre eles", explica Abinader, acrescentando que o padrão aprovado pela IETF não está atrelado a nenhuma patente específica.

O novo padrão será opcional. A expectativa é de que esteja disponível comercialmente já no final deste ano, principalmente em equipamentos de quarta geração com tecnologia LTE (Long Term Evolution), que são obrigatoriamente preparados para trabalhar com IPv6, protocolo de Internet que suporta uma quantidade maior de endereços IP que o atual (IPv4). A Nokia é uma das fabricantes interessadas em incluir o "suporte para atualização de presença em massa para Proxy Mobile IPv6" em suas redes.

Projeto

Abinader conta que a ideia inicial partiu de um colega estrangeiro da Nokia, que já deixou a empresa. Coube ao pesquisador brasileiro a elaboração da proposta e sua submissão à IETF. Em uma primeira fase o documento foi avaliado pelo grupo de trabalho do qual Abinader faz parte na IETF, chamado"network based mobility extensions", dois anos atrás. Foi durante as discussões nesse grupo de trabalho que o projeto recebeu as colaborações de outros autores até ser aprovado ao fim de 2011 e encaminhado para o diretor da área de mobilidade IP da IETF. Após a avaliação positiva desse diretor, o projeto foi aberto para toda a comunidade da entidade. Como não houve qualquer contestação, o novo padrão foi aprovado no último dia 15 de maio, recebendo o número RFC 6602. A íntegra da sua descrição, em inglês, pode ser lida no site da IETF.

Abinader espera que a divulgação de sua experiência sirva de inspiração para outros pesquisadores de telecomunicações brasileiros participarem de órgãos de padronização internacional. Abinader é formado em ciências da computação e trabalha com telecomunicações desde 2002. No INdT está desde 2007.

 

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