A entrada do Google no arranjo do Pix como iniciador de pagamento coloca em foco o futuro dos aplicativos dos bancos, uma vez que cada vez mais os smartphones, smartwatches e outros dispositivos com carteira digital substituem a carteira do usuário.

De fato, 31% dos brasileiros já não saem de casa com suas carteiras, segundo um estudo recente da Adyen. Adicionalmente pesa o fato que o brasileiro não dispõe de handsets com tanta memória. Um outro estudo recente, da DialMyApp, revelou que 44% dos brasileiros precisam remover apps do seu smartphone para instalar outros.

Mas pela visão dos executivos dos bancos participantes do Pix na Carteira do Google, C6 Bank e PicPay, não há risco para seus apps e ecossistemas de pagamentos.

Mais que um app

Para Pedro Romero, diretor de wallet e banking do PicPay (AndroidiOS) , o Piz na Carteira do Google é uma continuidade de sua jornada e conecta as duas pontas, os correntistas do PicPay e usuários do Android. Reforçou ainda que estão longe de abandonar o app, que segue avançando com novos produtos e funcionalidades.

Por sua vez, Maxnaum Gutierrez, head de produtos para pessoa física do C6 Bank (AndroidiOS), afirmou que o seu app “concentra todas as funções que queremos oferecer” e que este será “o ponto de contato de produtos e relacionamento”. Também afirmou que o app tem contato humano direto com os gerentes.

Quarta fase do Pix

Gutierrez reforçou que atualmente o ecossistema de pagamento está na “quarta onda do Pix” que primeiro teve a transferência entre pessoas, depois a aceitação do lojista, adoção pelas concessionárias e agora parte para a aceitação no comércio digital.

“O Pix incluiu mais de 70 milhões de brasileiros fazendo pagamentos digitais, reduziu custos para se realizar uma transação financeira (como a diminuição do papel moeda das tarifas em máquinas de pagamento). Agora passa por uma jornada de experiência que inclui ser mais simples e fácil”, disse.

A head de operações de pagamentos do Google Pay para a América Latina, Elisa Joia, acredita que a evolução do Pix e de outros arranjos de pagamento está ligada diretamente à regulação: “Temos uma agenda regulatória que vai fomentar essa evolução e tem mais avanços para surgir (no cronograma do BC)”, disse.

Para Joia, há uma relevância a se observar também do mercado de cartão de crédito e cartão de débito: “Temos uma fatia relevante da população brasileira que usa cartão. Portanto, eu vejo uma ebulição de inovação em vários tipos de pagamento, sempre melhorando a experiência do usuário”, completou.

Análise

Vale lembrar que para usar o Pix do PicPay ou C6 Bank na Carteira do Google o consumidor precisa ter o app da instituição financeira em seu smartphone, o que valoriza os aplicativos.

Mas em teoria este cenário pode mudar.

Isso porque a movimentação que vemos com o Ato de Mercado Digitais (DMA) da Europa é não ter tantas barreiras e fricções para o consumidor final, algo que o regulador europeu forçou a Apple fazer na abertura de sua carteira. Com as mudanças recentes, as empresas de meios de pagamento podem colocar suas próprias carteiras para consumidores usarem em iPhones na Europa e até efetuarem pagamento por aproximação. Antes, o ecossistema de pagamentos da Apple era fechado apenas para o Apple Pay.

No Brasil, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto já sinalizou para um futuro sem apps de banco. Em seu lugar previu um agregador de contas baseado no Open Finance. Mas depois Campos Neto recuou sobre o tema ao dizer que foi mal-interpretado e que queria dizer que o que existe é a possibilidade de ter um marketplace dos bancos, algo que só foi dito após posicionamento de defesa da Febraban sobre os apps dos bancos.

Imagem principal: Da esq. para dir: Maxnaum Gutierrez, head de produtos para pessoa física do C6 Bank; Pedro Romero, diretor de wallet e banking do PicPay; Raissa Coppola, gerente de comunicação do Google; Elisa Joia, head de operações de pagamentos do Google Pay para a América Latina (crédito: Henrique Medeiros/Mobile Time)

 

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