A ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) apresentou nesta quarta-feira, 30, a segunda parte do projeto que busca levar o Metaverso para a Indústria brasileira. Batizado como MetaIndústria, o projeto passa a ligar o laboratório lançado em São Caetano do Sul, no começo de agosto, com a sede da agência de fomento industrial, localizada em Brasília. Com a conexão, a ABDI captará os dados e mostrará para os participantes os aprendizados sobre a indústria 4.0, algo que poderá ser replicado para outros parceiros.
Os dados capturados são de ganho de produtividade, sem informações comerciais e de propriedade intelectual, justamente para serem repassados ao resto da indústria. O objetivo é melhorar a tomada de decisão do gestor fabril em tempo real.
Para Igor Calvet, presidente da ABDI, a agência entra como um facilitador de um processo que pode culminar na neoindustrialização da indústria brasileira: “Esse processo (de nova industrialização) não é só de tecnologia, mas de inovação compartilhada. Ninguém faz nada sozinho hoje. Esse projeto visa isso”. Por sua vez, o secretário-executivo do Ministério de Desenvolvimento e Indústria (MDIC), Marcio Rosa, afirmou que a neoindustrialização não é uma mera reindustrialização, pois nenhum país conseguiu se reindustrializar: “Mesmo quando um país se industrializa e cria saltos no seu parque industrial, tem gaps”, disse.
“A neoindustrialização é a nova indústria que o Brasil precisa. Algo que foi pensado por Getúlio e JK nos anos 1940, 1950 e 1960 e agora precisa ser pensado por nós. Isso passa pela sustentabilidade ambiental, social (criação de emprego e renda) e tecnologia. Isso passa pelo fortalecimento de agências, como a ABDI”, completou.
Board
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Future board da MetaIndústria (Crédito Lula Lopes/ABDI)
A ação, que conta com o apoio atualmente de 50 grandes empresas e é coordenada pela integradora SPI, ainda apresentou os membros do conselho do projeto. Chamado de Future Board, o grupo tem membros de Nestlé, Braskem, São Martinho, Bio-Manguinhos (Fiocruz), Petrobras, Dexco, GM e Boticário. Esse corpo diretivo tem como objetivo ajudar as empresas que estão na MetaIndústria a encontrarem os melhores casos de uso.
Para colaborar com o projeto da ABDI, os conselheiros trazem suas experiências em indústria 4.0. É o caso da Nestlé com a fábrica digital de São José dos Campos e o hub de inovação em São Paulo. Danilo Farias, líder de manufatura global da Nestlé, afirmou que sua participação no projeto é uma oportunidade para acompanhar e aprender.
“Para a Nestlé, o grande desafio (na indústria 4.0) foi criar inovação atrelada ao negócio. Fazemos do case um processo de negócio. Quando encontramos, nós fazemos rollout na empresa. Isso vale para o Brasil e para o mundo”, disse Farias. “Temos foco hoje no pessoal da inovação e desenvolvimento da tecnologia, a geração da mão de obra qualificada. Temos, por exemplo, o operator center, na Nestlé, para dar a opção de a pessoa se desenvolver”, complementou.
Ao Mobile Time, Eduardo Falotico, diretor de engenharia de manufatura e engenharia de body systems na GM, disse que a ideia de colaborar para o board é ajudar empresas que não têm tanto acesso à indústria 4.0 a usar informações através de viabilidades econômicas: “Nós temos casos de sucesso para poder ajudar essas empresas na sequência a tirar benefício da indústria 4.0”, completou.
Para Maurício Zuma, diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, os principais desafios que pretende trazer ao projeto estão em conectar tecnologias antigas com a indústria 4.0 e o aspecto cultural, que é trazer as pessoas para essa nova realidade: “Tem resistência e precisamos de qualificação das pessoas”, explicou. Em contrapartida, Zuma traz a experiência de ter gerenciado o projeto de construção do Complexo Cultural de Biotecnologia da Saúde (CIBS) que traz muito da indústria 4.0, como a automação.
Próximo passos
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Igor Calvet, presidenta da ABDI (à esq.) e Marcio Rosa, secretário-executivo do MDIC (Crédito: Lula Lopes/ABDI)
Para esta publicação, Bruno Jorge, gerente da unidade de difusão de tecnologia da ABDI, afirmou que o próximo passo é o lançamento do segundo laboratório no Rio Grande do Sul, para mobilizar o ecossistema de parceiros, e o lançamento dos centros físicos em São Caetano do Sul e RS com os primeiros casos de uso.
Vale lembrar que o projeto do Metaindústria tem como objetivo encontrar casos de uso na indústria 4.0 pelo modelo de negócios, redução de risco da transformação digital e preparação da mão de obra. Há projetos em curso envolvendo rede 5G; gêmeos digitais; EPI conectado; processo de produção com inteligência artificial; integração de robótica e IA; logística de ponta a ponta; gerenciamento de fábrica à distância.
Ao fim do projeto, ABDI, SPI e as indústrias participantes esperam ajudar a criar casos de uso de prateleira que sejam apresentados para o mercado e que qualquer indústria – pequena, média ou grande – tenha um guia para sua implantação.
*Jornalista viajou a convite da ABDI