A Ajor (Associação de Jornalismo Digital) propôs a criação de um fundo setorial destinado ao jornalismo no PL das Fake News (PL 2630/202). Esse fundo seria mantido com recursos pagos pelas grandes plataformas de redes sociais, mas gerido de forma transparente, com governança social, e destinado não apenas aos grandes conglomerados de mídia: a ideia é que abranja as iniciativas de pequeno e médio porte de jornalismo local, comunitário e especializado.
“Não existe democracia sem jornalismo. A desinformação tem o poder de minar o tecido social e levar a cenas de violência como as vistas no dia 8 de janeiro deste ano. Para que atos como aqueles, amplamente rejeitados pela população, não se repitam, é urgente fortalecer e ampliar a produção de informação de qualidade e o jornalismo de interesse público”, começa o documento da Ajor. “Um jornalismo plural e diverso, que dê conta das diferentes realidades do país, é essencial para garantir cidadania plena aos brasileiros. A tramitação do PL nº 2630/2020, atualmente em discussão na Câmara dos Deputados, é uma oportunidade ímpar para tratar esse assunto com a profundidade que merece”, continua o texto.
A atual versão do PL 2630/2020, em seu artigo 38, prevê o financiamento do jornalismo pelas plataformas digitais. Porém, da forma como está redigido, prevendo uma negociação direta entre as big techs e as empresas de mídia, tende a favorecer os grandes grupos jornalísticos, como aconteceu na Austrália, alerta a Ajor.
“A negociação direta entre empresas de mídia e plataformas digitais, sem transparência sobre valores e critérios, concentra poder nas próprias big techs e termina por beneficiar grandes conglomerados de comunicação. Veículos médios e pequenos muitas vezes não conseguem sentar à mesa; quando conseguem, têm um poder de barganha muito menor e negociam no escuro”, argumenta a associação. A Ajor cita como exemplos a serem estudados os casos de Áustria, Itália, Holanda, Noruega e Canadá, “por entenderem a necessidade de fomentar o jornalismo digital como importante mecanismo de combate à desinformação”. “Os modelos são diversos, mas têm em comum a defesa da expansão do jornalismo digital, o pluralismo e a regionalização da cobertura jornalística”, acrescenta.
A Ajor conta com mais de 100 associados, incluindo Agência Pública, Aos Fatos, Congresso em Foco, Jota, Meio, Metrópoles, Mobile Time, Nexo, O Antagonista, Piauí, Rádio Novelo, dentre outros. O posicionamento da Ajor pode ser lido na íntegra aqui.
Mobile Time
Mobile Time faz parte da Ajor e concorda com o posicionamento da associação sobre o PL 2630/2020. O Brasil precisa pensar em políticas públicas de fomento ao jornalismo local, comunitário e especializado, valorizando a diversidade de vozes na produção de notícias, mas sem perder de vista a ética e o compromisso com a verdade, característicos do jornalismo profissional. Em tempos de desinformação em massa, distribuída através de plataformas digitais que se beneficiam dessa audiência, nada mais justo que essas mesmas plataformas digitais contribuam para a sustentação de um ecossistema jornalístico plural e diverso.