A nova versão do “breque geral dos apps”, paralisação de entregadores de apps realizada nesta segunda-feira, 31, afetou aplicativos de delivery e seus restaurantes, principalmente em São Paulo. Em checagem feita pelo Mobile Time desde o começo da manhã, vários restaurantes apontaram problemas no funcionamento do principal app de intermediação de comida, o iFood.

Uma doceria da Saúde, zona sul da capital, informou a este noticiário que a sua loja no aplicativo foi fechada por ‘falta de entregadores’. Outra afirmou que o iFood fechou sua loja um dia antes da paralisação e a loja seguia fechada, mas o app informava que foi uma solicitação da loja que não pediu tal serviço. E uma terceira disse que recebeu apenas uma notificação do app sobre “entregadores reduzidos”.

Um restaurante árabe que atua na zona oeste da cidade informou que o iFood estava disponível para realizar entregas com motoboys. Um comércio asiático da região da zona oeste disse que pela manhã teve corridas com carros, mas o cenário piorou perto da hora do almoço: faltou motoboys e os pedidos foram cancelados.

Um outro bistrô da zona sul afirmou que teve muitos pedidos na hora do almoço, mas todos precisaram ser cancelados o trouxe um forte prejuízo para sua operação nesta segunda-feira.

Além dessas empresas que ficaram em anonimato para não receberem represálias, outros restaurantes mais conhecidos foram às redes sociais para compartilhar os problemas com o breque dos apps. O La Guapa da chefe Paola Carosella deu desconto de 50% no segundo combo pela lentidão das entregas. A Frangaria pediu paciência aos consumidores pela demora. O I Love Burguer informou que o iFood pode ficar instável e gerar atrasos na entrega. E a churrascaria Vivano pediu para os usuários não fazerem pedido pelo iFood, mas diretamente pelo telefone ou app próprio.

Importante: a vasta maioria dos comércios no iFood estavam fechados próximo da hora almoço e com horários para abrirem os atendimentos às 13h30 ou 14h. Os poucos restaurantes que estavam abertos no aplicativo tinham previsão de entrega de até duas horas.

O cenário ainda se agravou com uma forte chuva que atingiu a capital e o ABCD, inclusive com enchentes, devido ao volume de chuva desta segunda-feira, que foi similar ao histórico de meio mês. Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da prefeitura de São Paulo, o volume médio de 19,9 milímetros gerou um estado de emergência que iniciou às 15h34 e terminou por volta das 18h15.

Breque dos apps

Marcado no último dias 21 de março, o novo breque dos apps é uma paralisação nacional que teve adesão da categoria por melhores condições de trabalho, em especial:

  • Taxa mínima de R$ 10 por corrida;
  • Reajuste no valor pago por quilômetro rodado, passando de R$ 1,50 para R$ 2,50
  • Limitação de 3 km para entregas realizadas por bicicleta;
  • Garantia de pagamento integral dos pedidos em entregas agrupadas.

A paralisação remete a um primeiro breque feito em 2020, que alertou para os primeiros problemas de precarização e pagamento inadequado aos entregadores durante a pandemia do novo coronavírus. Assim como ocorreu no passado, os motoboys foram às ruas se manifestar em ações apoiadas e convocadas nas últimas semanas pelo Movimento VAT-SP, Minha Sampa e SindimotoSP.

De acordo com a CET, a movimentação na capital paulista teve início às 9h13 na Praça Charles Miller, zona central de São Paulo. O trajeto com milhares de entregadores seguiu pela Rua Desembargador Paulo Passaláqua (Pacaembu), Rua Major Natanael, Avenida Doutor Arnaldo, Viaduto Okuhara Koei (Jardim Paulista), Rua da Consolação e Avenida Paulista (MASP).

“Em seguida, os manifestantes continuaram pela Avenida Paulista, Avenida Rebouças, Avenida Eusébio Matoso e Marginal Pinheiros até a Rodovia Castelo Branco, onde o término foi registrado às 12h45. A CET acompanhou a manifestação, monitorando e sinalizando o trânsito ao longo de todo o percurso para garantir a fluidez e a segurança viária”, completou o órgão de engenharia de trânsito paulista.

A ação dos manifestantes foi dividida em blocos. A convocação no MASP (local tradicional de grandes manifestações) foi feita por VAT-SP e Minha Sampa e mobilizou 3 mil pessoas. Em outra vertente da paralisação, o SindimotoSP uniu um grupo de 500 motoboys na cidade de Barueri para fazer manifestações contra iFood, McDonalds e Burger King em suas sedes.

A greve continua

Em resposta por áudio enviada a esta publicação, o presidente do SindimotoSP, Gilberto Almeida, disse que o movimento está pegando força e a greve deve continuar. Explicou que após as manifestações nas sedes das empresas, os motoboys se dividiram e foram para a frente dos principais shoppings da região metropolitana de São Paulo para “travar”.

“Não vai ter entrega, independentemente dos bônus que as empresas estão oferecendo (para os motoboys)”, disse Almeida. “Na nossa visão, a mobilização foi forte. As empresas entenderam o recado que do jeito que está não dá. Além de eles não arcarem com as obrigações que os empregadores tradicionais [em regime de CLT] costumam arcar, eles estão precarizando e afundando a categoria que está há mais de três anos sem reajuste”, completou lembrando que a moto e outros custos como combustível e plano de dados são custeados pelo entregador e que esse profissional não recebe por tempo ativo no app quando está ocioso.

“A tendência hoje é a greve se estender. Ninguém vai entregar nada enquanto não resolver essa situação”, concluiu.

Lado das empresas

O iFood disse que respeita o direito à manifestação pacífica e à livre expressão dos entregadores e entregadoras e que estão “atentos ao cenário econômico e estudando a viabilidade de um reajuste para 2025”. Afirmam ainda que trouxe aumentos aos ganhos dos entregadores nos últimos três anos, como:

  • 2022 – Aumento do valor mínimo da rota em 13%, de R$5,31 para R$6, e do valor por quilômetro rodado em 50%, de R$1,00 para R$1,50;
  • 2023 – Reajuste da taxa mínima em 8,3%, de R$6 para R$6,50, acima da inflação do período (3,74% pelo INPC);
  • 2024 – Introdução de adicional de R$3 por entrega extra em rotas agrupadas.

“O ganho bruto por hora trabalhada hoje no iFood é quatro vezes maior do que o ganho do salário mínimo-hora nacional. De 2022 até 2024, os ganhos líquidos médios por hora trabalhada na plataforma foram 2,2 vezes superiores ao salário mínimo-hora, de acordo com os custos apontados em pesquisa realizada pelo Cebrap em 2023”, enviou em nota. “Além disso, todos os entregadores parceiros do iFood têm acesso a seguro pessoal gratuito para casos de acidentes durante as entregas, planos de saúde, programas de educação, além de apoio jurídico e psicológico para casos de discriminação, assédio ou agressão sofridos pelos profissionais de delivery”, completou.

Por sua vez, a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) informou que suas empresas associadas mantêm canais de diálogo contínuo com os entregadores.

“As empresas associadas da Amobitec apoiam a regulação do trabalho intermediado por plataformas digitais, visando a garantia de proteção social dos trabalhadores e segurança jurídica das atividades. Além disso, atuam dentro de modelos de negócio que buscam equilibrar as demandas dos entregadores, que geram renda com os aplicativos, e a situação econômica dos usuários, que buscam formas acessíveis para utilizar serviços de delivery”, completou.

Tanto o iFood como a Amobitec foram questionados sobre os problemas e impactos operacionais do app junto aos restaurantes, mas não responderam. Por sua vez, McDonald’s, Burger King e Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) não responderam às perguntas para esta reportagem.

O espaço fica aberto para eventuais atualizações.

 

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