Para a TIM, o memorando de entendimento assinado com a Vivo deverá permitir um uso mais eficiente das redes 2G e do espectro de 700 MHz, preparando a empresa para futuros investimentos, como o leilão de 5G. Segundo afirmou o presidente da operadora, Pietro Labriola, em teleconferência de resultados nesta quarta-feira, 31, trata-se de proporcionar uma melhor gestão de ativos para alocar o capital com mais eficiência. “Vamos ter um leilão com novas frequências, e [o acordo] nos permite avaliar o que poderá ser bom para nós”, declarou. “Estamos preparando o financeiro da companhia para poder aumentar o valor do acionista.”
Labriola foi perguntado na ocasião se a empresa estaria preparando um perfil de fluxo de caixa para uma possível consolidação, ao que ele respondeu com o que ele mesmo chamou de “chavão”: “Estamos explorando todas as possibilidades de aumentar o valor do acionista”. Após citar o leilão de 5G, o executivo disse: “enquanto isso [o leilão não ocorre], a consolidação do mercado, que me parece que vai acontecer, vai nos dar a oportunidade de ter não apenas uma escolha, mas a possibilidade de escolher”.
Importante notar que não fica claro se ele se referia à oportunidades de consolidação ou de participação no leilão de 5G: o executivo chegou a mencionar que o segundo semestre trará “surpresas”, mas não especificou se isso teria relação com a dinâmica do mercado. De qualquer forma, a pergunta original do analista citava a recente declaração da Oi, quando o membro do conselho e coordenador da estratégia (e possivelmente futuro presidente) da empresa, Rodrigo Abreu, afirmou que considera “todas as oportunidades” no segmento, incluindo a venda da Oi Móvel.
No tocante ao acordo com a Vivo, a palavra-chave é eficiência. Para Labriola, ainda é cedo para falar em números, uma vez que o MoU ainda deverá ser finalizado – o prazo total para a conclusão do plano era de 90 dias desde o anúncio, dia 23 de julho. A expectativa é de que já no próximo trimestre a empresa tenha estimativas de potenciais economias em Capex e Opex. “O MoU com a Vivo nos dará oportunidade de melhorar a capacidade para aumentar a qualidade de rede e a eficiência”, destaca.
Para Labriola, a TIM está também em uma posição mais favorável para o uso imediato do 5G com o acesso fixo-móvel. “Vemos neste mercado uma enorme oportunidade em FWA”, declarou. A companhia pretende aproveitar a experiência com a solução que já comercializa em 4G, chamada de WTTx (wireless to the premisse). “O posicionamento de alguns players em 5G tem a ver com o fato de o FWA ser atrativo para oferta deles. Para nós, é uma abordagem gradual em desenvolvimento.” Se a vontade da operadora existe, ela ainda precisa esperar pela definição das regras e de preços do leilão. “É claro que é cedo para ver o nível de Capex, porque precisa ser entendido melhor o que será colocado pela Anatel na consulta pública”, afirma.
Massive MIMO
Além do memorando de entendimento com a Vivo, a TIM tem como estratégia a ampliação da capacidade da rede 4G com tecnologia de quinta geração. A operadora anunciou também durante teleconferência de resultados, que pretende implantar a tecnologia de múltiplas entradas e saídas massivas (massive MIMO), sendo a quarta tele no mundo a utilizar a técnica. Conforme os testes da empresa, foi possível obter uma “melhora” de dois a três vezes o LTE comum.
“A tecnologia proporciona um uso mais eficiente do espectro”, declara o CTO da TIM, Leonardo Capdeville, afirmando que se trata de uma oportunidade para melhorar o uso do Capex. “Os resultados foram bem interessantes, obtendo de duas a três vezes mais capacidade com o mesmo espectro”, declara.
Além disso, Capdeville destaca como oportunidade o compartilhamento de infraestrutura e o swap de fibra. “Para a gente, o swap é muito importante não só como fonte de receita, mas para melhorar tanto o Capex quanto Opex”, diz, destacando que deverá haver oscilação com essas receitas nos próximos trimestres. “Estamos melhorando a infraestrutura, com fibra adicional, e também vendemos [capacidade] para outras operadoras: cada uma utiliza uma pequena parte de nossa fibra.” Para o executivo, é “imperativo” que as teles promovam esse tipo de compartilhamento.
Competição
A competição no pré-pago tem motivado algumas operadoras a reclamarem da agressividade de certos players. Pietro Labriola, afirmou que a concorrência tem adotado práticas que ele considera arriscadas para a dívida incobrável (bad debt). “Claro e Vivo estão mais racionais e mais em linha conosco. Os dois players que precisam controlar em racionalidade são Nextel e Oi”, declarou. A questão é que, em ambos os casos, espera que eventual consolidações resolvam o problema.
Segundo o executivo, a Nextel tem atuado com ofertas “muito agressivas” na aquisição de novos usuários, o que ele considera arriscado por o bad debt. Por conta da proximidade com a conclusão da venda para a Claro, entretanto, Labriola entende que não faz sentido reagir a isso no momento.
O presidente da TIM também não mostra grande preocupação com a Oi, afirmando que já começa a ver racionalidade na concorrente. Mas critica assim mesmo: “Eu vi em uma publicidade na TV a oferta de 50 GB [de franquia] por R$ 99. Não achamos que é uma estratégia sustentável em longo prazo”, analisa. Além disso, ele também considera que a dinâmica de mercado poderá mudar o jogo. “Vamos continuar a ver racionalidade, e a consolidação do mercado vai permitir para todo mundo melhorar a qualidade de serviço e da rede”.