A voz virou uma commodity no mercado de telecomunicações. Este ano, as operadoras móveis brasileiras começaram a adotar uma estratégia que já é comum em mercados mais maduros: a oferta de chamadas de voz ilimitadas. Oi, Claro, TIM, Nextel e Porto Seguro Conecta tomaram esse rumo em planos pós-pagos. A TIM e a Nextel incluíram a novidade também nos chamados planos controle.

Mas como isso é possível? Não se trata de mágica. Muito menos de altruísmo das corporações em prol da liberdade de comunicação da sociedade. Elas fizeram os cálculos e a conta fecha. As redes de segunda geração, ou 2G, onde boa parte do tráfego de voz circula, têm quase 20 anos de existência e já se pagaram. As redes de terceira geração, estas com dez anos de idade, se não se pagaram, estão perto disso, e nelas o custo do tráfego de voz é menor, porque sua tecnologia é mais eficiente. As redes de quarta geração são novas, ainda vão demorar alguns anos para prover o retorno sobre o seu investimento, mas nelas a voz é trafegada como dados, a um custo irrisório. É o chamado VoLTE, como é conhecida tecnicamente, e que começa a ser implementado este ano por algumas operadoras nacionais. O VoLTE garante uma qualidade de serviço bastante superior, com áudio de alta definição e chamadas completadas instantaneamente.

Além disso, a tarifa de interconexão paga por uma operadora para completar uma chamada na rede de outra está caindo ano a ano. Já custou mais de R$ 1 e hoje está na casa de poucos centavos. Isso permite a oferta de voz ilimitada em ligações para qualquer operadora, não apenas para usuários da mesma.

Por fim, existe a pressão da concorrência com os aplicativos de comunicação instantânea, especialmente o WhatsApp, que é utilizado por mais de 90% dos usuários brasileiros de smartphones. Como se sabe, o WhatsApp tem um funcionalidade gratuita de chamada de voz. De acordo com a mais recente pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box sobre mensageria no Brasil, 65% dos usuários do WhatsApp utilizam esse recurso. E, destes, metade declara que realiza mais chamadas pelo app do que pelo plano da sua operadora móvel. Ou seja, se as teles não reagissem, ficariam logo em segundo plano não preferência do usuário para o tráfego de voz, perdendo ainda mais importância. Melhor dar voz ilimitada e continuar fazendo parte do dia a dia do seu assinante.

Mas ainda vai demorar um pouco para essa tendência chegar aos planos pré-pagos. Pelo que conversei com alguns executivos do setor, é preciso esperar que o valor da taxa de interconexão caia ainda mais, chegando perto de zero.

Com voz e SMS ilimitados, os planos das operadoras serão cada vez mais focados em franquias de dados. Esqueça os velhos pacotes de minutos. Daqui em diante, vamos falar em Gigabytes. É uma outra língua. E muito mais moderna.