A fabricante de brinquedos Mattel confirmou que não lançará o seu dispositivo de inteligência artificial Aristotle, que atuaria como uma espécie de babá robótica, usando voz e acompanhando a criança através de uma câmera. De acordo com o jornal britânico The Guardian, a empresa resolveu cancelar o projeto após receber diversas reclamações, alegando que o equipamento seria intrusivo para os pequenos.
A crise começou em janeiro deste ano. Após a confirmação de lançamento do Aristotle em um futuro próximo, a ONG norte-americana Campaign For Commercial-Free Childhood começou uma ação na Internet contra o produto, que considerava sensível à vida das crianças por coletar dados que poderiam ser usados por terceiros, deixando as famílias vulneráveis ao marketing, a hackers e a outros atores maliciosos. De acordo com a instituição, o dispositivo poderia prejudicar a criação de laços entre as crianças e a sociedade já que uma de suas funções seria educá-las. O dispositivo usaria canções de ninar, por exemplo, e ajudaria no aprendizado da fala.
“As crianças pequenas não devem ser usadas como cobaias para experiências de inteligência artificial. Por favor, coloquem primeiro o bem-estar das crianças e terminem com a produção do Aristotle”, dizia trecho da carta da ONG para a CEO da Mattel, Margaret Georgiadis.
Como resultado, a Campaign For Commercial-Free Childhood obteve 1,5 mil assinaturas contra o dispositivo e ainda contou com o apoio do senador Ed Markey (Massachussetts – Democrata) e do congressista Joey Barton (Texas – Republicano). Em setembro, os dois políticos enviaram uma carta à Mattel levantando “sérias preocupações" em relação à privacidade das crianças que interagissem com o brinquedo, uma vez que o dispositivo teria capacidade de “criar um perfil da família e das crianças”.
Em resposta à imprensa dos Estados Unidos, um porta-voz da Mattel confirmou que Sven Gerjets, CTO da fabricante de brinquedos, avaliou o Aristotle e, após uma extensiva análise, percebeu que o equipamento “não estava adequado às estratégias de tecnologia da empresa”. O produto estava sendo desenvolvido em parceria com Qualcomm, Silk Labs e Microsoft.
Vale lembrar que a Mattel já esteve envolvida com outros casos polêmicos de proteção à criança no ambiente digital. Em 2015, a companhia lançou uma Barbie com conectividade Wi-Fi, a Hello Barbie. Contudo, o especialista de segurança Matt Jakubowski descobriu na época que a boneca possuía uma série de falhas, pois seria possível acessar dados do sistema, informações da conta, baixar os arquivos de áudio e até comandar o microfone. Os problemas foram corrigidos pela empresa responsável pela solução, a ToyTalk, e a Hello Barbie continua sendo vendida nos EUA.