Continuando a saga de testes de aplicativos de inteligência artificial generativa, hoje nós vamos falar da Perplexity (Android, iOS). Uma ressalva que faço aqui é que utilizei o app em duas versões, a gratuita e a Pro.
Entre os principais apps que surgiram no gênero, o Perplexity é o mais focado. Como a própria empresa diz, a plataforma é um “canivete suíço” para descoberta de informação e saciar a curiosidade alheia e em tempo real. Começando pela sua usabilidade.
O seu design é bem melhor e mais intuitivo que qualquer outro do setor. Se o Copilot me oferece um monte de cards enormes que deixam a tela poluída, Gemini e ChatGPT são duas folhas em branco e Claude precisa de melhorias, o Perplexity é informacional e minimalista.
Ferramentas da Perplexity
Logo na tela de abertura, tenho sugestões e pequenas frases sobre o que procurar. Além disso, Perplexity já está completamente em português e, com isso, fica mais fácil de compreender como usar o app, uma vez que ele está baseado em quatro simples telas:
- Início, a home que permite responder questões sugeridas pela plataforma ou os questionamentos próprios do usuário, sem tanta roupagem de prompt, mas tem mais uma cara de artigo, inclusive com fontes e imagens antes do texto para comprovar suas avaliações. Ao clicar no botão foco, as buscas podem ter foco específico, como academia, geração de texto sem buscar na web, resolver questões matemáticas, pesquisar discussões sociais e descobrir e assistir vídeos;
- Descobrir, uma seleção das principais histórias do dia com matérias de várias fidedignas da web que pode ser baseada em suas preferências, mas o lado ruim é que a maioria das matérias são de veículos do exterior – apesar de traduzidas para o português;
- Biblioteca, o histórico de buscas do usuário em seu perfil que tem outras duas sessões, Tópicos e Espaços, além da cruz no alto da tela para começar um novo questionamento e da lupa para buscar temas no histórico de pesquisa.
- Os Tópicos são as pesquisas que foram feitas em um modo cronológico, sendo que a mais recente é a primeira. Espaços, por sua vez, é um modo de pesquisas personalizadas que funciona com perfis criados com base na demanda do usuário, um advogado tributarista que pode responder sobre reforma tributária ou um engenheiro experiente de telecomunicações para falar sobre topologia de rede 5G.
Em Biblioteca, ainda é possível vincular um Tópico a um Espaço, assim como é possível apagar pesquisas que você não quer deixar em seu histórico. O app também tem um ícone sutil para convidar outras pessoas no alto da tela principal.
Configurações
Com todo esse arcabouço tecnológico, o Perplexity é o app de IA generativa que a UX está mais imbuída em seu uso. Ou seja, ele foi bem construído para o consumidor poder descobrir como usá-lo. Nas partes das configurações, o app ainda se destaca por dois modos que não existem em outros apps:
- O Modelo de IA (somente no Pro) que permite ao usuário entre os grandes modelos de linguagem (LLM) da Anthropic, OpenAI, xAI, Perplexity (treinados com Llama da Meta) ou modo padrão (default), que é otimizado para a busca mais rápida e o que usei com mais frequência;
- O Modo Incógnito para pesquisa que serão armazenadas e serão apagadas em um dia.
Pago x gratuito
De todas as IAs testadas até o momento, Perplexity é aquela que menos alucinou. Mas é muito comum você ter o sentimento de que está conversando com um ‘palestrinha’ que não para de falar e você quer uma resposta mais curta e simples.
Mas esse é o momento que falo da diferença entre a IA paga e a IA gratuita. A versão gratuita da Perplexity é ótima para quem está começando a usar IA generativa com objetivo e foco. Um uso mais avançado que aquele da experimentação. A plataforma te responde rapidamente, de forma básica e resumida.
Para critério de comparação:
- O Modo Gratuito permite ao usuário fazer cinco buscas e três uploads de arquivos/imagens por dia (em nenhum momento eu senti que tinha um taxímetro rodando com limite de quilometragem que me limitou como dois dos concorrentes principais).
- O Modo Pro (R$ 99 por mês ou gratuito para clientes elegíveis ao programa Vivo Valoriza) permite até 600 buscas por dia, uploads ilimitados de arquivos e acesso aos multimodais de LLMs.
Na prática, as buscas e respostas começam a ficar mais assertivas e específicas no Pro. Tudo fica mais leve, fluído e personalizado. Acredito que consigo comparar o Perplexity Pro com Niki Lauda na F1 saindo da Ferrari na década 1980 para a McLaren e descobrindo o motor turbo. A Ferrari era um carro fantástico e permitiu que Lauda ganhasse dois títulos mundiais nos anos 1970, mas sem o turbo que reinou até 1988, o campeão do mundo tomaria volta da Williams e da McLaren.
Em dicas anteriores falei que as empresas de IA precisam achar outro modelo de negócios que não cobrasse um absurdo dos consumidores? Talvez a parceria entre Perplexity e a Telefónica/Vivo seja o caminho. Não é necessário cobrar R$ 100 neste começo de jornada, ache um parceiro que subsidie esse uso porque precisa atrair ou reter clientes.
Lado ruim
A Perplexity faz ótimas buscas, traz um conteúdo de ponta, compreende texto, documento e imagem melhor que os rivais. Um exemplo que dou é a receita que um médico me passou recentemente (leia-se letra de médico). O app reconheceu todos os remédios e instruções, como ‘tomar a cada 12 horas’.
Mas a plataforma não gera imagens, ainda.
E o seu modo voz ainda precisa de melhorias.
Diferentemente do ChatGPT e do Gemini, é possível conversar com ele em dois formatos: uma conversa fluida que vai captando tudo que fala no modo ‘mãos livres’, ou com o modo ‘pressione falar’ semelhante a uma conversa com o WhatsApp e Siri que você precisa manter o botão de microfone para falar (estou usando mais esse modo).
Além disso, não consegui ajustar o sotaque com português americanizado da Perpétua (apelido que coloquei para a assistente) para algo mais natural, como fiz com o ChatGPT. Mas as respostas estão certinhas e sem alucinações.
Imagem principal: Imagem de divulgação da Perplexity na Vivo