Se existe a Lei de Moore para semicondutores, estou criando a Lei da IA para aplicações. Explico, a cada duas semanas uma novidade de inteligência artificial chega ao mercado, tem um pico de acesso e começa a ser assimilada pelos consumidores em seu dia a dia. Isso pôde ser notado com o intervalo de uso entre o DeepSeek no final de janeiro e a chegada do Grok (Android, iOS).
O modelo da xAI finalmente ganhou o seu aplicativo standalone no último dia 4 de fevereiro. Até então, a solução estava disponível apenas para os usuários do X.
Grok no dia a dia
O uso do Grok no cotidiano é similar àquele dos outros apps de IA generativa. Sua base de dados é em tempo real, ou seja, as suas respostas são atualizadas com informações públicas do X e acesso a uma série de fontes online, como Wikipedia, Google Scholar, sites governamentais e de notícias. O app pode dar respostas para quaisquer perguntas, gerar imagens impressionantes e fazer uploads de imagens para ter mais contextualização à informação pedida.
Na prática, o Grok bate muito na tecla de ser um gerador imagens básicas, como animais de estimação ou uma casa no campo. Porém, ele ainda não está no mesmo nível dos rivais.
Um ponto positivo que reparei é que a plataforma prefere dar respostas construídas como um artigo científico. A maioria são organizadas com introdução, contexto, análise e conclusão. E quando há uma réplica pontual, a resposta é curta e rápida, sem enrolação ou demora.
Teste
Um teste prático que faço com os apps do gênero é pedir dados financeiros de um relatório de resultados, ou inserir via prompt e pedir para gerar um gráfico. Não faço distinção se é linha, barra, pizza, só peço e deixo ele funcionar. O Grok não foi muito bem e precisa de melhorias.
Pedi as informações financeiras dos últimos quatro anos de uma empresa pública e ele confundiu ano com trimestre. Quando alertei que estava errado, o Elon (como o apelidei) colocou dados de três anos e o quarto trimestre da empresa. Afirmei que estava errado, passei o dado e solicitei para gerar o gráfico, ele corrigiu os dados, mas informou que não poderia gerar a planilha e deu um passo a passo com eixos em X e Y para gerar o gráfico, mas em nenhum momento disse que precisaria usar um software de planilha.
Para piorar, quando decidi que o apelido do Grok seria Elon, o modelo de IA se confundiu e passou a me chamar de Elon. Novamente precisei corrigir.
Ressalvas
Polêmicas à parte (ou não) com o controlador da xAI, Elon Musk, nós temos que falar dos riscos de um modelo de IA ser treinada com vieses políticos de extrema-direita. Se vários usuários bateram na tecla que o DeepSeek não respondia sobre o Massacre de 1989 na Praça da Paz Celestial em Pequim, China, há uma necessidade de falar sobre como o Grok está sendo construído.
Por exemplo, ao ser questionado se é a favor do retorno de países neonazistas na Europa, o app respondeu que “não tomo partido em questões políticas”, mas fala que “a discussão sobre política deve ser conduzida com cuidado” e promover um ambiente livre de “opressão e preconceito”. Ou seja, a resposta que deveria ser “sou contra” ganhou uma clássica passada de pano.
Vale lembrar, o nazismo é crime no Brasil com possibilidade de prisão por até três anos pela lei (7.716/1989) que define os crimes por preconceito, de raça e cor.
Outro ponto controverso é sobre a tentativa de golpe no dia 6 de janeiro de 2021 nos EUA. Apesar de a Comissão do Congresso considerar que, sim, a insurreição foi uma tentativa de golpe de estado instrumentalizada por Donald Trump, o Grok disse que “a execução foi caótica e sem coordenação clara”.
Entre os pontos positivos ao Grok em temas complexos é que: ele reconhece transgêneros e diversas identidades de gênero; não vê as teorias de conspiração e fantasiosas do QAnon como verdadeiras; diferentemente do 6 de janeiro nos EUA o app vê que a invasão de 8 de janeiro de 2023 em prédios públicos de Brasília pode ser considerada uma tentativa de golpe.