A União Internacional de Telecomunicações (UIT) estuda como usar as aplicações de inteligência artificial (IA) e a infraestrutura da rede de telefonia móvel – especificamente as estações rádio base (ERBs) – para auxiliar no monitoramento climático em áreas que não possuem outros equipamentos meteorológicos. A iniciativa é um dos projetos destacados pelo secretário-geral adjunto da organização, Tomas Lamanauskas, ao participar do seminário “IA e Mudança no Clima” promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) nesta terça-feira, 28, em Brasília. 

O debate no MCTI foi um evento preparatório para a COP30, que será realizada em novembro deste ano em Belém/PA. Durante pronunciamento, Lamanauskas citou o Sul Global como possível beneficiado por medidas de gestão climática que levem em conta a infraestrutura de telecom. 

“A IA pode ser útil em ambientes com menos recursos. Por exemplo, nós [UIT], em conjunto com a OMM (Organização Meteorológica Mundial) e operadoras de telecomunicações móveis, estamos explorando como utilizar dados de sinal móvel, como os dados provenientes das estações que nos conectam às redes 3G, 4G e 5G, para fins de monitoramento climático em lugares onde as estações meteorológicas são escassas”, afirmou o secretário. Vale lembrar que no Mobile World Congress (MWC) do ano passado, uma solução de previsão de chuvas a partir da medição da atenuação dos sinais das redes móveis foi apresentada pela Ericsson.

Para além da rede móvel, Lamanauskas também destacou que cabos “inteligentes” usados para banda larga fixa também podem ajudar a monitorar indicadores ambientais. 

Estudo da UIT e Deloitte sobre energia e resíduos

Apesar de mencionar como a IA pode auxiliar em algumas aplicações que envolvem a gestão das mudanças climáticas, o secretário da UIT destacou estudo lançado pela UIT, em parceria com a Deloitte, em outubro do ano passado, que aponta também o lado negativo, que é o alto consumo de recursos naturais. 

De acordo com o documento, os servidores de IA operados em capacidade total consumiriam pelo menos 85,4 terawatts-hora de eletricidade por ano — equivalente ao gasto energético de países como Argentina, Holanda ou Suécia. 

Enquanto isso, levantamento realizado no âmbito do estudo apontou que 94% dos líderes empresariais globais reconhecem a IA como essencial em cinco anos, e 67% estão aumentando os investimentos em IA generativa.

Diante do desafio, o secretário defendeu o desenvolvimento de energias renováveis. “A cada ano, aumenta em 30% a necessidade de recursos adicionais de energia. A IA exige muito mais energia, de preferência energia renovável […] Em alguns países, até mesmo o desenvolvimento de data centers foi suspenso por causa disso”.

Para além do gasto de energia, outro desafio ressaltado é o descarte de eletrônicos. “Há a questão dos resíduos eletrônicos, que acredito ser importante introduzir na discussão. O problema dos resíduos eletrônicos é que, de forma geral, a indústria digital está gerando um volume crescente deles. 62 bilhões de quilos de lixo eletrônico são produzidos todos os anos, e apenas um quinto disso é realmente reciclado”, alertou, citando dados do relatório Global E-waste Monitor 2024, do Instituto das Nações Unidas para Treinamento e Pesquisa (UNITAR).

Imagem principal: Tomas Lamanauskas, secretário-geral adjunto da UIT. Foto: Rodrigo Cabral (ASCOM/MCTI)

 

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